Foto: USC
O jornal americano The New York Times publica nesta quinta-feira (10) um artigo assinado pelo colunista Roger Cohen que aponta o Brasil como um país que, nos últimos anos, mudou sua imagem radicalmente, como poucos já fizeram, graças ao etanol.
"Da terra pouco séria de samba, favelas, futebol e florestas tropicais incendiadas, (o Brasil) se tornou o reino da produção de etanol a frente de seu tempo, carros flexíveis rodando com qualquer combinação de etanol e gasolina, e uma revolução do biocombustível que poderia distribuir ao mundo, onde o barril de petróleo custa US$ 100", escreve o colunista.
Apesar dos elogios, o artigo de Cohen, que tem como título a pergunta "O etanol é para todos?", lembra que os problemas sociais causados pela produção do etanol persistem, inclusive para cortadores de cana e trabalhadores de usinas.
"O etanol, renovável e relativamente limpo, é adorável", diz o texto. "A vida do trabalhador rural migrante no Brasil, finita e quente, não é."
Metas - O artigo no New York Times também cita metas já alcançadas no Brasil: 80% dos novos carros produzidos são flexíveis, toda a gasolina contém quase 25% de etanol e o etanol responde por mais de 40% do consumo de combustíveis.
Roger Cohen afirma que os números revelam que as metas americanas de substituir um sexto do consumo de gasolina por etanol até 2020 são atrasadas e pequenas.
"Em outras palavras, o Brasil estava ocupado vendo o amanhã enquanto os Estados Unidos miravam o passado, um lugar muito frívolo para ser futurístico", acrescenta o artigo. "De fato, as duas imagens trazem um pouco de verdade."
"O Brasil liderou o caminho ao demonstrar o potencial do etanol, tem terra para expandir a indústria, usa o etanol a base de cana-de-açúcar cujo rendimento por hectare é oito vezes maior do que o etanol de milho americano, que está sendo produzido a um custo mais alto do que alimentos, e demonstrou a viabilidade de uma frota flexível."
"Mas um dia visitando plantações de cana da CBAA, uma usina de açúcar e etanol, mostrou a dureza com que esses resultados são arrancados", ressalva o colunista do jornal americano.
O artigo defende que a produção de etanol no Brasil e nos países africanos venha acompanhada de desenvolvimento, especialmente para os trabalhadores rurais e suas famílias.
Para isso, Cohen sugere que os investidores internacionais com interesse em etanol exijam condições mínimas para os trabalhadores da indústria, a abertura do comércio global ao etanol e o desenvolvimento de um mercado global de commodities de etanol, com normas estabelecidas.
"Um novo combustível não deve trazer a maldição frequente do petróleo: o enriquecimento de uma pequena elite."