Foto: Inovação Tecnológica
Já tem faltado gás para abastecer as usinas térmicas que deveriam estar produzindo energia para poupar os reservatórios das hidrelétricas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Cinco termelétricas movidas a gás natural geraram quase 700 megawatts (MW) abaixo do previsto pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), na quarta-feira, por falta de combustível em quantidade suficiente. O próprio ONS admite que, em função do imprevisto, a produção de energia hidráulica "foi superior ao valor programado", impedindo a economia de água dos reservatórios no volume desejado.
No Sudeste e Centro-Oeste, eles continuaram a diminuir e estão com 44,6% de sua capacidade máxima, apenas 3,7 pontos percentuais acima da margem mínima de segurança, a partir da qual todas as formas de produzir energia são acionadas.
O imprevisto mostra a dificuldade da equação que o governo precisa resolver, aumentando a oferta de energia enquanto as chuvas não caem, para evitar medidas obrigatórias de redução do consumo. Na quarta, foram acionadas cinco térmicas a gás no Sudeste - Norte Fluminense, Ibirité, Macaé Merchant, Eletrobolt e Nova Piratininga. Elas deveriam ter produzido 1.595 MW médios, segundo o operador nacional do sistema, mas produziram apenas 898 MW. A térmica Nova Piratininga, rebatizada de Fernando Gasparian, não produziu nada.
A geração de energia pelas térmicas a óleo no Nordeste também está abaixo do programado. Na Bahia, a térmica Jaguarari, da Enguia, deveria gerar 101 MW na quarta-feira, mas só conseguiu entregar 50 MW. O presidente da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra, informa que não foi por falta de óleo diesel. Segundo ele, essa usina consome diariamente 650 metros cúbicos de óleo diesel e na quarta-feira tinha recebido 713 metros cúbicos do combustível. Já a térmica Camaçari, da Chesf, não vinha conseguindo combustível suficiente para operar a plena carga no fim do ano. Mas agora a situação se inverteu e ela está produzindo acima do programado. Na terça-feira a previsão era de gerar 262 MW e ela entregou 334 MW. Na quarta-feira a geração aumentou um pouco, chegando a 343 MW.
A contradição é que, na mesma hora em que essas usinas deixavam de gerar energia porque não havia combustível, o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, assegurava em Brasília que não faltaria gás para as térmicas e aventou até mesmo a possibilidade de desviar o insumo atualmente direcionado a outras finalidades. Hubner também informou que o ministério tem "pronto" um plano de contingência do gás. Para um experiente analista do setor, que pediu para não ter seu nome publicado, há risco de corte do insumo em fevereiro, após o Carnaval, por dois motivos: a atividade industrial começa a ser intensificada, demandando mais gás, e os reservatórios precisam começar o mês com 53% de sua capacidade para evitar o acionamento de todas as termelétricas - meta que dificilmente será alcançada.
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, disse que a intenção do governo é evitar medidas que, para dar mais tranqüilidade ao fornecimento de energia, afetem outros setores. Mas ele ponderou que, em tese, "se tivermos uma situação de pior hidrologia", a redução no abastecimento de gás a indústrias e à frota de veículos "não está descartada".
A expectativa do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é que a energia térmica que deixou de ser gerada na quarta, por falta de gás, seja compensada por produção maior no fim de semana. Um técnico do ONS lembrou que "não faz diferença poupar o reservatório na quarta ou no sábado". Para efeitos de cumprimento do termo de compromisso entre Petrobras e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a medição é feita em bases mensais, esclareceu a estatal.
"A nomeação de gás natural que a Petrobras faz diariamente para o ONS reflete a expectativa de geração para aquela data. Com a previsão diária de geração, a Petrobras busca a racionalidade energética - ou seja, gerar mais energia com o mesmo volume de gás natural", afirmou, em nota, a diretora de Gás e Energia, Maria das Graças Foster. "Porém, para efeito de cumprimento do termo de compromisso, o que é contabilizado é a geração mensal. Ao final de cada mês, o ONS contabiliza o que foi efetivamente gerado pela Petrobras. Uma eventual geração inferior em alguma usina é compensada por gerações superiores em outras unidades. Hoje, estamos com geração superior ao previsto no termo de compromisso", explicou.
Além da baixa produção das térmicas a gás, o que ajudou a complicar o cenário energético foi o atraso em inúmeras obras de hidrelétricas, conforme aponta levantamento com base em relatórios da Aneel. Das 37 usinas licitadas pelo governo, 27 não conseguiram cumprir o cronograma original.