5 equívocos sobre a manufatura que devem ficar no passado

O setor de manufatura avança com a adoção de IA e práticas mais sustentáveis, inclusivas e dinâmicas; líderes do setor desvendam cinco mitos em análise do Fórum Econômico Mundial.

Quando pensamos em indústrias sendo transformadas pela IA, a manufatura provavelmente não é a primeira que vem à mente. No entanto, o setor está adotando a tecnologia mais rapidamente do que petróleo, gás, mineração, administração pública e até saúde.

Mas os equívocos sobre a manufatura vão além da tecnologia.

Aqui, quatro líderes da nova geração da indústria, integrantes do Fórum Econômico Mundial, desconstroem cinco ideias ultrapassadas que ainda rondam o setor:

Equívoco 1: Manufatura é apenas uma linha de montagem

Imagens de fábricas com esteiras e trabalhadores repetindo movimentos são há muito tempo o estereótipo da manufatura – um ambiente sem vida, com pessoas e máquinas apenas “cumprindo tabela”. Mas isso mudou, afirma Pieterjan Landuyt, chefe global de Digitalização da Manufatura e Cadeia de Suprimentos da Volvo Cars.

“Acho que isso mudou muito nos últimos cinco a dez anos, graças às novas tecnologias que estamos usando. Hoje, temos mais especialistas no chão de fábrica do que apenas montadores de produtos. É uma mudança completa de mentalidade e de tecnologia, o que torna o setor muito atrativo”.

Fomentar essa mudança de visão nas novas gerações é prioridade para Christine Francis-Schwenk, chefe de Inteligência de Mercado da OSS:
“Muitos jovens acham que a manufatura é pesada, repetitiva. Mas precisamos mostrar que a IA pode assumir as tarefas repetitivas, e os humanos podem focar em inovação, precisão e qualidade. É muito mais empolgante do que imaginam”.

Sabah Derkaoui, líder de Transformação do Grupo OCP, concorda: “Muita gente diz que manufatura é muito técnica e rígida. Mas, na minha experiência, é um setor em constante evolução e altamente multidisciplinar”.


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Para Vicky Bruce, da Rockwell Automation, a manufatura está em tudo: “É como conseguimos suco de laranja, como escovamos os dentes de manhã, como dirigimos nossos carros e como funcionam os sistemas de tráfego”.

Equívoco 2: Manufatura é um setor sujo

Chaminés com fumaça e máquinas engorduradas ainda povoam o imaginário popular – mas essa imagem está ultrapassada, diz Bruce.

“Um dos equívocos comuns é pensar que a manufatura é um ambiente sujo, velho, empoeirado. Mas ela é muito limpa, especialmente em setores como alimentos, bebidas, farmacêutica, bens de consumo. É uma indústria de alta tecnologia, mas que ainda não é reconhecida como tal”.

Bruce relata que já visitou diversos sites produtivos: “Já vi fábricas de salsichas, de pizzas, minas... e tudo tem um viés tecnológico muito avançado, mesmo com infraestruturas tradicionais”.

Equívoco 3: Manufatura não acompanha os tempos modernos

“A manufatura está em constante mudança”, diz Landuyt. “Antes, uma planta de montagem era apenas um local onde peças eram unidas. Hoje, é um espaço onde a expertise humana se combina com tecnologia”.

Com a aceleração de tecnologias emergentes e a adoção da IA, o setor está a todo vapor. O Relatório Futuro dos Empregos 2025 do Fórum aponta que 58% dos empregadores esperam que a robótica e a automação transformem seus negócios até 2030. Desde 2016, a manufatura tem registrado crescimento constante na concentração relativa de tecnologias de IA.

Landuyt cita a manutenção preditiva como exemplo. “Hoje sabemos melhor do que alguns fornecedores quando uma ferramenta está prestes a falhar”.

Francis-Schwenk destaca o impacto do gêmeo digital: “Muitas empresas já adotaram isso. Ele permite prever paradas, melhorar a eficiência e, no fim das contas, aumentar a lucratividade – que é o que as empresas mais buscam”.

Equívoco 4: Manufatura é insustentável

Um quinto das emissões de carbono do mundo vem da manufatura e da produção, que consomem 54% da energia global. Apesar de ser um dos setores mais difíceis de descarbonizar, avanços consistentes vêm sendo feitos.

A Rede Global de Faróis de Excelência do Fórum Econômico Mundial adicionou recentemente 17 novos membros ao seu grupo de 189 fábricas e cadeias de valor avançadas que usam tecnologias digitais para promover a sustentabilidade.

“Todos querem soluções mais sustentáveis e inovadoras”, diz Francis-Schwenk.

Derkaoui vai além: “Sustentabilidade deixou de ser diferencial – é uma obrigação. E precisamos garantir que todos no chão de fábrica entendam isso, e saibam que suas ações diárias impactam diretamente as metas e estratégias da empresa”.

Equívoco 5: Manufatura é coisa de homem

Mulheres ocupam pouco mais de 20% dos cargos de liderança sênior na manufatura global, segundo o Relatório Global de Desigualdade de Gênero 2024 do Fórum. Apenas 16% chegam ao cargo de C-level. O setor apresenta uma das maiores quedas de representatividade feminina nos altos escalões, com uma diferença de 46%. Ainda estamos longe da paridade de gênero, mas cresce o reconhecimento dos benefícios da diversidade para as empresas e seus times.

“A diversidade ajuda a evitar falhas. Quando se tem diferentes opiniões, cobre-se mais terreno”, diz Francis-Schwenk. “Grupos homogêneos tendem a ser mais enviesados”.

Bruce concorda: “Pessoas diversas trazem diferentes perspectivas, o que é fundamental ao implementar uma nova ideia ou resolver problemas”.

Na Volvo, Landuyt reforça: “É essencial receber pessoas de todas as origens – isso vale para diversidade, mas também para formação. Por exemplo, alguém que vem da área comercial entende a importância de entregar um produto final de qualidade ao cliente. Isso muda a forma como se enxerga e se produz. Todos são bem-vindos à manufatura – e todos podem fazer a diferença”.

*Imagem de capa: Depositphotos.com