ESG além do “E”: como a tecnologia está impulsionando governança e impacto social na indústria

Enquanto o meio ambiente domina os holofotes, a Trackfy mostra como dados e inteligência artificial podem transformar a realidade do chão de fábrica, promovendo segurança, produtividade e bem-estar

Muito se fala sobre ESG (Environmental, Social and Governance) no setor industrial, mas, na prática, a atenção costuma recair apenas sobre o "E" – que trata do compromisso ambiental das empresas. Redução de emissões de carbono, compra de créditos e combate ao desmatamento dominam os debates, enquanto os pilares de governança e social, fundamentais para a sustentabilidade real das operações, ainda são pouco explorados.

É o que aponta o especialista Tulio Cerviño, CEO da Trackfy, empresa que utiliza tecnologia para aumentar a produtividade e eliminar riscos de sinistros em complexos industriais e canteiros de obras, otimizando processos e reforçando a governança e o impacto social nas indústrias.

"Quando se fala em ESG, a maioria dos debates e iniciativas concentra-se no meio ambiente. Esse foco é essencial, mas o conceito ESG vai além: são três pilares interdependentes. Sem boas práticas de governança, não há transparência, compliance ou segurança nos processos. Sem investimento no social, falta inclusão, desenvolvimento comunitário, bem estar dos trabalhadores e qualificação da mão de obra. Para que o ESG seja realmente eficaz, é fundamental equilibrar e integrar todos os aspectos, na prática".

Governança

No contexto industrial, a governança é uma abordagem fundamental na indústria e torna-se ainda mais imprescindível em grandes plantas industriais, como refinarias, siderúrgicas, fábricas petroquímicas e complexos de mineração. Nesses ambientes, a execução de obras envolve inúmeros trabalhadores que operam equipamentos pesados, executam atividades perigosas e desempenham funções essenciais para a operação da empresa.

Para Tulio, nessas operações de alto risco é de extrema importância que se preste atenção na gestão eficiente da alocação de mão de obra, o cumprimento das normas de segurança, a restrição de acesso a áreas críticas e o monitoramento contínuo do tempo de exposição a riscos. A implementação de governança eficaz não só promove a integridade operacional, como também minimiza a possibilidade de acidentes e garante a continuidade das atividades, resultando na tão buscada competitividade da empresa.


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"Em uma construção industrial com dois mil trabalhadores, por exemplo, como garantir que todos estão devidamente alocados e desempenhando suas funções conforme o planejado? Como evitar que alguém acesse áreas de alto risco sem autorização ou que haja sobreposição de serviços que possam gerar acidentes?", questiona.

Segundo o executivo, os desafios diários no setor exigem soluções eficazes, e a tecnologia surge como uma das principais alternativas para garantir visibilidade e controle, minimizando falhas que poderiam resultar em grandes prejuízos financeiros e operacionais, para as pessoas e para a empresa. A Trackfy, por exemplo, utiliza dispositivos de rastreamento e sensores IoT para monitoramento preciso da localização dos trabalhadores na indústria. "Com o uso de inteligência artificial e análise de dados em tempo real, a plataforma permite que gestores tenham total visibilidade sobre onde cada equipe está alocada, quais tarefas estão sendo executadas e se há desvios operacionais que impactam a produtividade, tudo isso de forma anonimizada e em total conformidade com todas as leis aplicáveis".

Social  

Se a governança foca na conformidade e no controle operacional, o "S" do ESG, social, está diretamente ligado à qualidade de vida dos trabalhadores. O CEO da Trackfy destaca que "muitas dificuldades que afetam o dia a dia da força de trabalho passam despercebidas pelos gestores, simplesmente porque não há dados suficientes para embasar mudanças".

Assim, no aspecto social, a melhoria das condições de trabalho é um dos grandes desafios do setor industrial. Um exemplo prático disso é a otimização da logística de deslocamento nas indústrias, reduzindo trajetos desnecessários, minimizando o desgaste físico e melhorando a produtividade da empresa. 

"Já identificamos situações em que funcionários perdiam pelo menos 40 minutos por dia do horário de almoço caminhando sob sol forte para o refeitório porque o transporte interno não estava alinhado com a jornada de trabalho. Ao analisarmos os dados, a aplicação de tecnologia da Trackfy permitiu que ajustes simples fossem feitos. A empresa ajustou os horários dos ônibus, reduzindo esse desgaste e aumentando a satisfação dos trabalhadores. Parece um detalhe pequeno, mas para quem está no chão de fábrica, isso impacta diretamente o bem-estar e até a produtividade. Adicionalmente, quando transformamos estas perdas em números financeiros, em uma equipe de 65 pessoas, estamos falando de uma perda mensal extremamente relevante para a empresa", conta Tulio Cerviño. 

Outro exemplo de impacto social nas indústrias é a quebra de planejamento operacional. Sem visibilidade adequada, muitos trabalhadores precisam se deslocar diversas vezes entre o local de operação e o almoxarifado, por falta de ferramentas ou insumos.

"Registramos situações em que algumas equipes precisavam retornar ao almoxarifado três ou quatro vezes devido a uma programação de atividades mal estruturada. Isso resulta em maior desgaste, menor produtividade e, ao final do dia, um trabalhador exausto, incapaz de desempenhar seu papel da melhor forma, o que contribui para uma falta de atenção que gere acidentes. À primeira vista, os números podem sugerir que a equipe não está atingindo a produtividade esperada. No entanto, ao incorporar tecnologia ao processo, fica evidente que o problema não está no trabalhador, mas na falta de estrutura adequada para que ele execute sua função corretamente", explica o CEO da TrackFy.

Outro caso foi a redução do tempo de exposição a substâncias perigosas. Muitas normas de segurança determinam que trabalhadores só podem permanecer em áreas com agentes químicos agressivos por um tempo limitado, e, atualmente, grande parte desse controle ainda é manual. "Hoje, a maioria das empresas não sabe exatamente quanto tempo um trabalhador passou em uma área com substâncias perigosas, como eteno ou benzeno. Com o nosso sistema, conseguimos monitorar esses tempos em tempo real e alertar quando alguém está próximo de ultrapassar o limite seguro. Isso não só evita penalizações, mas, principalmente, protege a saúde do trabalhador", reforça o especialista.

Além disso, a evacuação em áreas de risco e em emergências pode ser agilizada. Grandes corporações dos setores químico, agroindustrial, siderúrgico, minerador, da construção civil e petrolífero já adotam essa tecnologia. “O dispositivo é de fácil uso, não requer treinamento, dispensa recarga e possui um alcance de até 200 metros para cada captador”.

Para a realização deste diagnóstico, torna-se necessária a implementação de inteligência artificial para otimizar a gestão operacional. "Com base nos dados coletados pelos sensores IoT e pelos dispositivos vestíveis, conseguimos prever gargalos e antecipar ajustes na rotina de trabalho. Isso significa menos deslocamentos desnecessários, mais eficiência na alocação de equipes e um ambiente de trabalho mais equilibrado e protegido", explica Tulio. “Com economias simples, a Trackfy tem entregado retornos anuais para os seus clientes na casa dos seis dígitos, enquanto melhora a vida do trabalhador”.

Impactos positivos do ESG na indústria

Esses pequenos ajustes têm um impacto gigantesco. Segundo estudos da McKinsey, empresas que investem em melhorias no bem-estar dos funcionários registram um aumento de produtividade de até 25%, além de reduzirem a taxa de rotatividade e afastamentos médicos. 

Além disso, conforme a Gallup, práticas de bem-estar e saúde mental bem estruturadas podem elevar o engajamento dos colaboradores em até 21%. Empresas que priorizam governança e dados também têm o potencial de reduzir seus custos operacionais em até 20%, como aponta a Deloitte. E, no aspecto social, iniciativas bem direcionadas podem melhorar a satisfação dos funcionários em até 40%, conforme pesquisa da Harvard Business Review. 

Tulio enfatiza que "a indústria ainda tem uma visão muito mecânica do trabalhador". "Mas ele não é uma máquina. Se ele está desgastado, sente que não tem suporte, a produtividade cai, os erros aumentam e a segurança fica comprometida. Nossa missão é usar tecnologia para dar visibilidade a esses problemas e gerar soluções que beneficiem tanto o trabalhador quanto a empresa", diz o CEO.

*Imagem de capa: Depositphotos.com