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Se você já ouviu em alguma empresa a pergunta “que problema vamos resolver hoje?”, tenha certeza de que provavelmente há, naquele local, no mínimo, uma “semente” do sistema lean que, talvez, já esteja germinando.
É que essa frase muito usada pelos praticantes desse sistema originário do método Toyota é quase que um mantra, pois significa uma das essências principais desse modelo de gestão.
Revelar e resolver problemas a todo momento, todos os dias, é um dos elementos mais importantes e estratégicos do sistema lean. Na verdade, o centro de uma transformação lean, ou como chamamos, jornada lean, está intimamente relacionado à capacidade das pessoas em fazer isso. No entanto, para que isso ocorra de verdade, é preciso que haja algumas mudanças na cultura de uma empresa. Uma delas é uma evolução nas mentalidades.
Por exemplo, quem cultua o sistema lean gosta da palavra “problema”. Melhor explicando, adora, na verdade, encontrar e resolver problemas. Isso é um diferencial com relação à modelos de gestão mais tradicionais, nos quais revelar problemas é algo malvisto; prefere-se, por vezes, jogar a sujeira para debaixo do tapete.
No entanto, quem trabalha efetivamente com lean usa mesmo essa expressão: problemas, sem eufemismos, como desafios, oportunidades e tantos outros. Pois isso faz com que consigamos ver as coisas como elas realmente são: problemas são “dores” que as empresas têm e que geram uma série de prejuízos, como aumentos de custos, diminuição de produtividade, eficiência, qualidade e etc. Não raro, essas dores chegam aos clientes, provocam insatisfações e prejudicam diretamente os negócios.
Por isso, é preciso encarar os problemas de frente, incluindo não ter medo de “dar nomes aos bois”, sem medo nem esperas, pois as consequências de postergar ou mesmo procrastinar podem ser catastróficas.
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Mais do que isso, resolver problemas a todo momento e todos os dias deve fazer parte do trabalho de todas as pessoas de uma organização, do porteiro ao presidente. E quem tem a melhor condição de fazer isso são aqueles indivíduos que estão ali, em meio aos processos, ao trabalho que fazem no dia a dia, no qual se encontram, por vezes escondidos, os problemas.
No entanto, para que isso ocorra na prática é preciso construir nas companhias um ambiente psicologicamente seguro. Um local em que as pessoas não tenham medo de ser retaliadas, culpabilizadas, reprimidas, hostilizadas... por revelarem problemas. Em outras palavras, não se pode “matar os mensageiros”. Do contrário, a empresa será, cada vez mais, um lugar em que os trabalhadores vão esconder problemas. Resolvê-los, então, será praticamente impossível.
Isso ainda é um desafio para boa parte dos ambientes industriais, pois eles representam as origens das organizações privadas modernas. E, por isso, por vezes têm culturas tradicionais muito incrustadas e difíceis de serem remodeladas. Entre elas, essa estruturação tóxica de ambientes em que falar, de verdade, sobre problemas ainda é um tabu.
É sempre bom lembrar que com o advento e uso intensivo cada vez maior de tecnologias – digitais, de inteligência artificial etc. –, essa nova mentalidade de não ter medo de problemas tende a se tornar ainda mais importante.
Saber, com clareza e precisão, que problemas precisamos resolver é um excelente primeiro passo para encontrar a melhor tecnologia como aliada. No entanto, é preciso entender que nem sempre mais tecnologia é o que vai resolver. Um dos maiores desperdícios é automatizar ou digitalizar processos que nem deveriam existir. Nesses casos, os problemas não são eliminados, mas potencializados.
No sistema lean, grande parte dos conceitos e práticas aplicadas vão de encontro a essa necessidade. Isso está, por exemplo, nos princípios do pensamento lean. Um dos mais importantes é entender, de fato, o que é valor para os clientes. Sabendo disso, será muito mais fácil ou mesmo natural priorizar, entre tantos problemas, por quais devemos começar a revelar, estudar e resolver.
Outro ponto fundamental é sempre buscar novas maneiras de enxergar os desperdícios. Isso exige, por vezes, “treinar mentes”, para que elas não se acostumem com a realidade sob a ótica tradicional, que é aquela que vê como normal o que não é, fenômeno que ainda ocorre em muitas companhias.
Essa reflexão sobre a importância de se entender e potencializar a revelação e resolução cotidiana de problemas nas indústrias é também fundamental porque, no ambiente industrial, o início de um novo ano é sempre um momento de “recarregar” as mentalidades: os compromissos, os desejos, as missões e papéis de cada um.
Assim, refletir sobre quais problemas precisam ser revelados e colocados como prioritários, pensando nos desafios que o mercado trará neste novo ano, é uma das coisas mais estratégicas a se fazer neste início de ciclo.
Para isso, é importante tornar esse tipo de consciência algo comum e disseminado por toda a organização. Transformar isso numa linguagem cotidiana, para que todos os indivíduos entendam e pratiquem.
Num meio industrial, a cada dia mais complexo e hipercompetitivo, esse tipo de transformação pode mudar o jogo e levar a empresa para outros patamares.
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Íris Cristina Pierini Bonfanti
Head para Indústrias de Processos do Lean Institute Brasil (LIB). Tem mais de 20 anos de experiências na implementação do sistema lean em empresas. Por exemplo, atuou como Coordenadora Lean Corporativa na BRF (Perdigão & Sadia), onde foi responsável em iniciar a jornada lean no grupo. Engenheira Química pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tem MBA em Gestão Empresarial.
Conceitos, práticas e a jornada lean sob a ótica dos heads do Lean Institute Brasil especializados no setor industrial
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