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O aquecimento global pode desencadear migrações em massa, atrapalhar o comércio e levar a conflitos por terras aráveis e recursos hídricos da África à Ásia, afirmou um relatório divulgado na segunda-feira (10), durante as negociações sobre o clima, em Bali.
O documento, de autoria do Conselho Consultor Alemão sobre as Mudanças Globais, diz que está acabando o prazo para que os países entrem num acordo pelo corte das emissões de gases-estufa e evitem o caos.
O estudo, "Mudança Climática como Risco à Segurança", afirma que os países em desenvolvimento estão sob maior risco de ameaças à segurança regional. "Não estamos falando sobre conflitos entre exércitos de países", disse Hans Joachim Schellnhuber, um dos autores do relatório, numa entrevista coletiva em Bali.
"No futuro, a expectativa é que, se o aquecimento global não for contido, Estados frágeis e vulneráveis possam implodir sob a pressão do aquecimento global, e mandar ondas de choque para outros países", disse Schellnhuber, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre o Impacto Climático.
Segundo ele, se as projeções científicas se concretizarem, é possível que haja "algo como uma guerra civil global com muitos focos de conflito". Ele citou o derretimento de glaciares no Himalaia e nos Andes como uma possível causa de conflitos e migrações. A crise em Darfur, deflagrada em parte pela seca, foi outro exemplo. "Muita gente depende dos recursos hídricos do derretimento glacial no verão", disse ele.
Centenas de milhões de pessoas na China, no sul da Ásia e no Sudeste Asiático dependem da água que escorre das geleiras do Himalaia. "Para onde dezenas de milhões de pessoas vão se mudar se não sobrar nenhum lugar no sul da Ásia onde não haja pessoas já morando?", disse Achim Steiner, diretor-executivo do Programa Ambiental da ONU.
Segundo ele, o que importa em Bali é como os países ricos vão assumir as responsabilidades pelas emissões. O relatório diz que uma política ambiental global tem de ser posta em prática nos próximos 10 a 15 anos, para que as emissões de gases-estufa caiam pela metade em 2050.
O estudo também citou o risco de conflito nos próximos 20 anos com a ascensão da China e da Índia e o enfraquecimento dos Estados Unidos. "A política global nas próximas duas décadas terá de superar dois desafios paralelos: a mudança nos centros de poder da ordem política e a virada global na direção de uma política climática eficaz", afirmou o texto.