Aço chinês gera crise na indústria siderúrgica latino-americana

Fomentada pelo Estado, produção de aço chinês cria cenário de difícil concorrência

A indústria siderúrgica latino-americana tem enfrentado uma notável estagnação. A razão principal apontada por especialistas do setor é a concorrência desleal proveniente das importações chinesas de aço, que chegam ao mercado a preços substancialmente mais baixos - e fez com que o governo brasileiro anunciasse um esquema de taxação na importação da matéria-prima. 

De acordo com a publicação do portal BBC News Brasil, no início do século, países como Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia, Equador e Peru estabeleceram metas ambiciosas para impulsionar seus setores industriais, visando reduzir a dependência das exportações de matérias-primas. A produção de aço foi identificada como uma peça-chave nesse processo de industrialização, justificável por sua versatilidade em aplicações que vão desde construções até produtos tecnológicos.

Entretanto, mesmo com o crescimento inicial, a produção siderúrgica latino-americana estagnou e começou a declinar, perdendo relevância global. Em 2023, a produção de aço na região representava apenas 3,1% da escala mundial, menos da metade do que no início do século. Esse declínio constante tem impactado severamente a economia dos países latinos e coloca em risco os milhões de empregos gerados pelo setor.

Leia também:
As principais tendências do setor metarlúrgico em 2024
Pesquisa demonstra produção do aço verde a partir de resíduos do alumínio

China

Na publicação, Alejandro Wagner, diretor executivo da Alacero, aponta a China como principal responsável por essa crise. Ele destaca que, entre 2000 e 2023, a produção de aço chinesa aumentou exponencialmente, passando de 15% para 54% da produção mundial. A prática de subsídios estatais e o excesso de produção permitiram que o aço chinês inundasse o mercado internacional a preços baixos, minando a competitividade dos produtores latino-americanos.


Continua depois da publicidade


Segundo o conteúdo da BBC News Brasil, o aço chinês, subsidiado pelo Estado, é produzido em larga escala para sustentar o crescimento econômico do país, representando cerca de 32% do PIB chinês. E mesmo diante da desaceleração da demanda interna, as siderúrgicas chinesas continuam operando com apoio estatal - e isso resulta em excedentes que são exportados para outras regiões do mundo.

Aço sustentável

Cory Combs, especialista em Energia e Indústria Chinesa, destaca no texto do portal que a América Latina enfrenta dificuldades em competir com o "dumping" (preço de venda abaixo do valor de custo) devido a condições desiguais. Enquanto os países da região hesitam em impor tarifas sobre as importações de aço, a resolução desse conflito comercial pode depender cada vez mais de elementos externos, como ambientais.

Em 2020, o governo chinês afirmou que deve atingir o pico das emissões de dióxido de carbono antes de 2030, e procurar a neutralidade de CO2 até 2060. Segundo Combs, para atingir esse objetivo, Pequim planeja cortar cerca de 8% da sua produção de aço até 2030.

Logo, o meio ambiente poder ser um fator-chave para acabar com o desequilíbrio causado pela siderurgia chinesa, porque a grande vantagem do aço latino-americano é que ele é muito mais limpo que o aço chinês.

A produção de cada tonelada de aço chinês emite 45% mais de CO2, segundo dados da Alacero citados na reportagem. Mas a isso é preciso acrescentar ainda a poluição gerada no transporte para o outro lado do planeta, que, segundo a organização, é três vezes maior do que a emitida na fabricação.

Portanto, à medida que o mundo avançar em direção à neutralidade carbônica, essa vantagem será sentida, afirma Alexandro Wagner, diretor-executivo da Alacero.

*Imagem de capa: Depositphotos