Transição energética: "Precisamos fazer um trabalho melhor na oferta de soluções", diz CEO da ExxonMobil

Darren Woods compartilha sua visão sobre a transição energética e os desafios do setor energético

Após enfrentar uma série de desafios nos últimos anos, Darren Woods, CEO da ExxonMobil, compartilha sua visão sobre a empresa e a transição energética. O líder experiente discute como a gigante do setor petrolífero está se adaptando às mudanças climáticas e explorando oportunidades de energia de baixo carbono para o futuro.

Nesta entrevista conduzida por Thomas Hundertmark, sócio sênior do escritório da McKinsey em Houston (EUA), Woods oferece insights cruciais sobre o papel da ExxonMobil na transformação do cenário energético global.

Confira os principais destaques da entrevista:

Tamanho do Desafio da Transição Energética

Woods destacou na entrevista o tamanho monumental do sistema energético global atual, composto principalmente por petróleo e gás. Ele enfatizou que a magnitude desse sistema e sua importância na sustentação do crescimento econômico e dos padrões de vida em todo o mundo não podem ser subestimadas. Este é um ponto crucial, pois a transição para fontes de energia mais limpas e sustentáveis requer uma transformação significativa desse sistema colossal.

"Dada a dimensão e a complexidade, será uma transição que terá de ser gerida de forma ponderada e cuidadosa ao longo de muitas décadas. Para cada barril ou tonelada de gás natural que produzimos, temos que encontrar um novo substituto para manter o nível de oferta e, ao mesmo tempo, fazer os investimentos para a transição. É fundamental encontrar um equilíbrio entre continuar a fazer o que o mundo precisa com o sistema energético atual e, ao mesmo tempo, trabalhar para desenvolver as tecnologias e reduzir os custos da transição para um sistema energético com emissões mais baixas".

Definindo o Problema das Mudanças Climáticas

Uma das principais afirmações de Woods é a importância de definir corretamente o problema das mudanças climáticas. Ele argumenta que, em vez de simplesmente se livrar do petróleo e do gás, o foco deve ser na redução das emissões associadas à combustão desses combustíveis. Isso permite a busca de alternativas viáveis, como energia eólica, energia solar e veículos elétricos, que desempenham um papel fundamental na redução das emissões.


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"Portanto, penso que a definição do problema deveria ser: reduzir as emissões, encontrar a tecnologia para fazer isso e encontrar tecnologia que seja acessível para implementar soluções de forma eficaz. Não passamos tempo suficiente como sociedade trabalhando nessa parte da equação".

Custos da Transição e Avanços Tecnológicos

Para Woods a transição energética enfrenta três desafios cruciais. Primeiro, o custo das atuais alternativas energéticas é alto, exigindo avanços tecnológicos para torná-las mais acessíveis. "As soluções que temos hoje são muito caras e elas próprias podem apresentar problemas que trazem um custo adicional ou diferente à equação. Assim, os avanços tecnológicos serão fundamentais para reduzir os custos e garantir que as alternativas estejam amplamente disponíveis, disponíveis de forma fiável e acessíveis".

Em segundo lugar, é fundamental criar uma economia que recompense a redução das emissões de carbono, incentivando investimentos. Terceiro, a política desempenha um papel vital, com governos impulsionando investimentos privados por meio de políticas transparentes e temporárias, dependendo do desenvolvimento tecnológico e de mercados de carbono. 

Papel da Política e Governos

O CEO da ExxonMobil ressalta que os governos têm um papel crucial na catalisação de investimentos em tecnologia e transição energética. No entanto, ele enfatiza que as políticas devem ser transparentes, estáveis e temporárias. Isso é essencial para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento de soluções de baixo carbono.

"Os governos podem hoje desempenhar um papel na catalisação das indústrias privadas para iniciar esses investimentos, para iniciar a curva de aprendizagem e para impulsionar os investimentos em tecnologia. Essa política precisa ser transparente, estável e temporária. Porque os governos mundiais não podem pagar por isso na ausência do desenvolvimento tecnológico e do desenvolvimento dos mercados de carbono. Mas é fundamental começar as coisas".

Contribuição da ExxonMobil na Transição

A ExxonMobil, segundo Woods, está focando seus esforços na transição energética em várias áreas-chave. Primeiramente, a empresa está investindo em tecnologias de captura e armazenamento de carbono, produção de hidrogênio e biocombustíveis para enfrentar as questões das mudanças climáticas e da transição para energias mais limpas. Além disso, a empresa está usando sua experiência em geologia e perfuração para armazenar CO2 no subsolo, o que é essencial para a captura de carbono.

A Exxon também está buscando desenvolver tecnologias para reduzir o custo dessas soluções e torná-las mais acessíveis. A empresa vê o hidrogênio como uma área crítica para um futuro com emissões mais baixas e estão trabalhando em um projeto para construir a maior usina de hidrogênio do mundo.

"Temos muita experiência em hidrogênio. Usamos em praticamente todas as nossas instalações, então sabemos o que é necessário para operar um negócio de hidrogênio. Na verdade, temos um projeto para construir a maior usina de hidrogênio do mundo. Estamos completamente abertos a explorar as possibilidades dessa oportunidade. E o único critério que estamos usando é que ela se encaixe bem com nossas capacidades essenciais, para que possamos obter vantagens e entregar retornos acima da média do setor. Se não conseguirmos fazer isso, nossa opinião é que não deveríamos estar nesses negócios".

A empresa está aberta a explorar outras oportunidades relacionadas à transição energética, como materiais de construção mais sustentáveis, e está comprometida em usar suas capacidades principais para obter vantagens e fornecer retornos acima da média do setor em seus empreendimentos de baixo carbono.

Responsabilidade da Liderança na Discussão Energética

Por fim, Woods destaca que os líderes têm a responsabilidade de serem transparentes e objetivos ao discutir os desafios e soluções relacionados à energia e às mudanças climáticas. Ele enfatiza que a transparência desempenha um papel crucial na construção de uma compreensão sólida do caminho a seguir na transição energética.

"No mercado e na sociedade de hoje, com todas as incertezas, sermos muito mais avançados nas nossas discussões sobre o que estamos tentando fazer, sermos transparentes, foi certamente uma lição que aprendi neste trabalho. Precisamos fazer um trabalho melhor na oferta de soluções, concentrando-nos no que é necessário e em como podemos ajudar."