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Nos últimos anos, o continente asiático se tornou o maior fornecedor da indústria para o Ocidente, fornecendo matéria prima e produtos totalmente fabricados na região, de eletrônicos a máquinas, passando por medicamentos e adubos. Contudo, após a crise provocada pela COVID-19, muitos países - inclusive o Brasil - passaram a retomar suas produções nacionalmente, após encontrarem dificuldades de importação causadas por fretes altos e falta de insumos. Com isso, itens que antes eram produzidos fora do país, por uma escolha das empresas para a redução de custos, voltaram a ser produzidos internamente, numa estratégia para não ficarem dependentes da importação e ter mais autonomia.
A indústria brasileira foi atingida pela escassez e o alto custo dos insumos desde o começo da pandemia, que voltaram a interferir na produção de 22 dos 35 setores industriais no 2° semestre de 2022. Os dados são apontados por uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgada no mês de julho, mostrando que o problema foi mencionado por cerca de 70% das indústrias de setores como veículos, calçados e higiene. Além da pandemia, a guerra entre Rússia e Ucrânia também afetou duramente os setores, já que atrasou a normalização de insumos globais, que ainda não haviam se recuperado totalmente dos choques causados pelo lockdown. Além de dificultar a recuperação da produção industrial, esses fatores também contribuíram para pressionar mais os preços e aumentar a inflação global. Segundo a pesquisa da CNI com empresários, a expectativa de normalização será apenas em 2023.
O custo do frete no Brasil, que já estava sob pressão desde o ano passado, também sofreu com o aumento do preço do petróleo, a guerra na Ucrânia e o aumento dos casos de Covid na China. Transportes rodoviários, marítimos e internacionais tiveram aumento em mais de 100% e, segundo empresas e especialistas, esse aumento será repassado ao preço final dos produtos ao consumidor final. Sobre o frete por caminhões, a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) autorizou no primeiro semestre uma alta de 11% a 14% no piso mínimo de referência, consequência do reajuste de 24,9% no preço do diesel nas refinarias. Além disso, de acordo com dados levantados pela Kestraa, startup especializada na gestão e monitoramento de cargas do comércio exterior, a mediana do frete da Ásia subiu 363% entre junho de 2020 a junho deste ano, atingindo US$ 6,67 mil.
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Esses fatores foram alguns dos responsáveis pela mudança na produção industrial dos países, inclusive o Brasil. A indústria brasileira perdeu grandes produções por falta de componentes, mas começou a concentrar sua produção nacional para se recuperar. Como resultado, a produção industrial brasileira cresceu 2,9% em dezembro de 2021, em comparação com novembro, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O setor conseguiu fechar o ano passado com um avanço de 3,9% depois de dois anos seguidos de perdas. Empresas que haviam parado a produção no Brasil também voltaram, como a Audi, que começou a produzir carros novamente no país, investindo R$ 100 milhões para reativar a linha de produção. O valor foi direcionado principalmente para maquinários novos e infraestrutura de logística.
Esses dados representam o começo da reindustrialização no Brasil, pauta defendida por Paulo Castelo Branco, economista e presidente da Abimei, que acredita que a iniciativa é fundamental para o crescimento e desenvolvimento da economia, afetando até mesmo a geração de empregos. “A abertura comercial, o acesso a meios de produção modernos, a capacitação e a criação novas políticas de incentivo trarão inúmeros benefícios, contribuindo para o processo de reindustrialização do país e, consequentemente, para o crescimento do PIB e fortalecimento da economia,” explica Castelo Branco.
Para o especialista, o movimento de retomada da produção nos países deve crescer ainda mais nos próximos anos, fortalecendo o processo de reindustrialização no Brasil e no mundo.
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