Potencial energético do agave pode beneficiar Nordeste do país

Acordo vai injetar dinheiro na pesquisa do uso do agave como fonte de energia limpa e renovável

O Brasil já deu os primeiros passos na exploração do agave como fonte de energia limpa e renovável. O desenvolvimento de pesquisas com o uso da planta-símbolo do México pode representar um grande potencial de ganhos sociais em áreas como o sertão nordestino e, por isso, vem recebendo atenção do mercado de transição energética. Nacionalmente, uma parceria entre Unicamp, a Shell e o Senai Cimatec garantiu a concretização do Programa Brave - Brazil Agave Development, por meio do qual serão investidos R$ 30 milhões para financiar pesquisas biológicas, agrárias e industriais envolvendo a espécie. 

O acordo foi assinado em novembro do ano passado e tem duração prevista de cinco anos. O dinheiro investido é da Shell. 

O Programa Brave realizará pesquisas em três frentes: a primeira, desenvolvida na Unicamp, será dedicada aos aspectos biológicos do agave, como caracterização de suas variedades, sequenciamento e melhoramento genético, desenvolvimento de mudas por baixo custo, análise de seu potencial energético e processo de fermentação e análise do ciclo de vida da planta. “Queremos entender essas plantas por dentro, caracterizar e diferenciar uma da outra por meio de marcadores moleculares, conhecer sua microbiota, ou seja, os microorganismos que interagem com ela”, explicou o coordenador do o Laboratório de Genômica e bioEnergia (LGE) da Unicampo, professor Gonçalo Pereira. 

As outras frentes serão voltadas aos processos de mecanização e aperfeiçoamento do cultivo do agave, com estudos sobre a aplicação de técnicas agrícolas e manejo de colheitas, e à produção industrial de biocombustíveis do agave, desde a otimização da produção de bioetanois de primeira e segunda geração até a instalação de plantas-piloto para testes e validação de processos. Essas pesquisas serão feitas em parceria com o Senai Cimatec, instituição sediada na Bahia, estado responsável pela maior produção de agave no país. 

Nordeste

O agave é uma espécie de suculenta típica de regiões semiáridas, como o interior do México, onde é utilizado para a produção de tequila, e o sertão do Nordeste do Brasil, área em que é cultivado para produção de sisal. O potencial energético de sua biomassa é comparável ao da cana-de-açúcar, com a vantagem de demandar 80% menos irrigação e uso de fertilizantes. Em cinco anos, a cultura do agave rende, por hectare, a produção de 880 toneladas de biomassa, armazena 617 toneladas de água e captura 385 toneladas de carbono.


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Hoje, o Brasil é o maior produtor de fibra de sisal do mundo, com cerca de 80 mil toneladas por ano. No entanto, apenas 5% da planta é aproveitado. “Enquanto na Bahia apenas as folhas são utilizadas para a produção das fibras de sisal, no México só se usa a pinha para produção de tequila. Nossa estimativa é que, em um hectare de agave, seja possível produzir 7,4 mil litros de etanol de primeira e segunda gerações por ano. Com esses dados, pensamos na dinâmica de uma biorrefinaria ao propormos utilizar tudo o que o agave oferece, desde a pinha até as folhas”, detalha o coordenador do LGE.

Outro potencial que o Brave pretende estimular é o de impactar de forma positiva o sertão nordestino por meio da geração de renda e manutenção de comunidades no campo. Só na região, há cerca de 105 milhões de hectares onde o agave pode ser produzido. 

Imagem de capa: Depositphotos