Fonte: Carbono Brasil - 12/10/07
A produção de combustíveis a partir de plantas tem sido incentivada por representar uma oportunidade para se reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa na atmosfera, uma vez que substitui o uso de petróleo - um dos combustíveis que ao ser queimado emite CO2 e contribui enormemente para o aquecimento global.
O que se questiona agora é se todo o processo de elaboração dos biocombustíveis também é ecologicamente adequado. Em alguns casos, o processamento dos vegetais utiliza mais combustíveis fósseis do que as fontes de deveria substituir.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o etanol é produzido a partir do milho - cultivo que mais causa erosão no solo, além de exigir uso intenso de herbicidas e fertilizantes à base de nitrogênio. Além disso, grande parte das usinas dependem da queima de gás natural ou carvão na geração de vapor para a destilação.
A utilização de soja ao invés de milho é menos prejudicial, no entanto, ambientalistas temem o aumento de preço desses alimentos, o que pode incentivar a produção e o avanço sobre áreas de conservação.
Enquanto essas questões são levantadas, a produção agrícola para o processamento dos biocumbustíveis bate recordes. Os americanos estão prestes a colher a maior safra de milho desde a Segunda Guerra Mundial - e cerca de um quinto da colheita será destinado à produção de etanol, mais do que o dobro do usado há cinco anos.
Cientistas acreditam que a solução para a produção de biocombustíveius não ameaçarem o fornecimento de alimentos é desenvolver combustíveis a partir de matéria vegetal que não sirva de alimento, como caules, gramíneas, árvores de crescimento rápido e até mesmo algas.
Quadro mais animador - O Brasil se destaca na produção de etanol desde a década de 1920, com uma forte intensificação nos anos 70 - quando o governo criou um programa para se desvincular da importação de petróleo. Os incentivos para a geração de álcool combustível a partir da cana-de-açúcar foram retomados recentemente e o país vem sendo apontado como exemplo na produção de biocombustíveis pela comunidade internacional.
Ao contrário do que ocorre com o milho, no qual o amido contido no grão tem de ser transformado em açúcar com a ajuda de dispendiosas enzimas antes de ser fermentado, o próprio caule da cana-de-açúcar já é constituído por 20% de açúcar - e ela começa a fermentar logo depois de ser cortada. Um canavial produz de 5,7 mil a 7,6 mil litros de etanol por hectare, mais que o dobro do verificado com um milharal.
A maioria das usinas brasileiras não usa combustíveis fósseis nem eletricidade da rede convencional – as necessidades energéticas são supridas com a queima do bagaço da própria cana.
A opção brasileira, entretanto, não está isenta de problemas. Começando pela colheita manual, um trabalho pesado e opressivo que leva cortadores à morte por exaustão. A queima dos canaviais pré-colheita lança fuligem na atmosfera e libera metano e óxido nitroso – gases que contribuem para o efeito estufa. A expansão do plantio também é uma ameaça, pois pode acirrar o desmatamento principalmente de áreas de cerrado e da Amazônia.
Etanol de celulose - Para evitar o confronto entre produção de etanol e suprimento de alimento, pesquisadores procuram alternativas para os biocombustíveis. Usinas experimentais dos Estados Unidos já estão aproveitando as gramíneas perenes das pradarias americanas. Mas, apesar de o princípio por trás do etanol de celulose ser simples, produzi-lo com custo similar ao da gasolina ainda é um desafio.
Atualmente o processo utilizado recupera 45% do teor energético da biomassa sob forma de álcool – enquanto o aproveitamento energético do carbono bruto ao ser refinado é de 85%. Pesquisadores ainda buscam alternativas para tornar o etanol de celulose mais competitivo - para isso precisam desenvolver meios melhores de romper a celulose. Uma possibilidade são micróbios e enzimas geneticamente modificados e extraídos do intestino dos cupins - os processadores naturais da energia contida na celulose.
Algas salvadoras - Muitos dos cientistas que se debruçam sobre a questão acreditam que as algas são o agente que mais se aproxima da solução ideal. Elas se desenvolvem em água suja e até na água do mar, exigindo pouco além de luz do sol e CO2 para prosperar.
Um aempresa americana aperfeiçoou um processo no qual algas colocadas em sacos plásticos sugam o CO2 presente nas emissões das chaminés das usinas elétricas. Além de reduzirem os gases do efeito estufa, as algas absorvem outros poluentes emitidos pelas usinas.
Algumas espécies produzem amido, que por sua vez pode ser transformado em etanol; outras geram minúsculas gotas de um óleo que, refinado, se torna biodiesel ou mesmo combustível para aviões a jato.
O diferencial das algas é que elas podem dobrar de massa em poucas horas. Enquanto cada hectare de milho produz cerca de 2 500 litros de etanol por ano e 1 hectare de soja, cerca de 560 litros de biodiesel, teoricamente cada hectare de algas pode gerar mais de 45 mil litros de biocombustível no mesmo período. Outra vantagem em relação às plantações tradicionais é não depender de safra para serem colhidas – as algas estão disponíveis todos os dias.
Assim como no etanol de celulose, o maior desafio é reduzir o custo da alga-combustível, pois o negócio só se tornará viável quando ficar mais barato que o óleo diesel.
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