Fonte: Envolverde - 08/10/07
Os países da América Latina e do Caribe estão atrasados, em geral, em relação a vários Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, alertou o diretor-geral do Fundo das Nações Unidas para a Infância para esta região, Nils Kastberg, que no sábado encerrou uma visita de quatro dias a Cuba. Nesse sentido, considerou “fundamental” que nos próximos sete anos sejam acelerados os esforços para se alcançar os ODM, especialmente nas áreas de saúde.
Os oito grandes objetivos aprovados em 2000 pela Organização das Nações Unidas com base nos indicadores de 1990, e com prazo para serem atingidos até 2015, são reduzir à metade o número de pessoas que vivem na indigência e sofrem fome; conseguir educação primaria universal; promover a igualdade de gênero e reduzir a mortalidade infantil em dois terços e a materna em três quartos. Também incluem combater a propagação da aids, malaria e outras doenças; assegurar a sustentabilidade ambiental e criar uma sociedade global para o desenvolvimento entre o Norte e o Sul.
Kastberg disse que a região deve se esforçar para frear a expansão do vírus HIV, causador da aids, bem como reduzir a mortalidade infantil, a desnutrição infantil crônica e a mortalidade materna, entre outros aspectos. “Às vezes se fala que há poucos casos de HIV/aids na região, mas nos últimos 15 anos passaram de dois para 14 os países que têm uma prevalência superior a 1%, concentrado principalmente no Caribe”, disse ao ser perguntado pela IPS em uma entrevista coletiva concedida em Havana.
Um informe anual intitulado “Situação da epidemia de aids”, publicado em dezembro de 2006 pelo Programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Onusida) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 24 mil pessoas morreram vítimas dessa panedmia na área do Caribe no ano passado e outras 300 mil são portadoras do vírus. O diretor regional do Unicef afirmou que, no Caribe de fala inglesa, até 37% dos meninos e 44% das meninas tiveram sua iniciação sexual antes dos 12 anos. “A isso chamamos abuso sexual cometido pelo homem adulto e é isso que está gerando aumento do HIV/aids na zona caribenha”, assegurou.
Kastberg responsabilizou por essa expansão o silêncio que cerca esta situação. “Por isso estamos falando tanto sobre a questão da violência e sua interligação com o HIV/aids”, afirmou. A Onusida e a OMS destacaram em seu informe que a aids se converteu na região caribenha em primeira causa de mortes na faixa etária que vai dos 15 aos 44 anos, e a transmissão está ligada fundamentalmente à relação heterossexual, à prostituição, à pobreza e às desigualdades sexuais.
O Caribe é a segunda região mais afetada do mundo por este mal, depois da África subsaariana, embora existam diferenças entre os países, pois vai desde uma prevalência média na população adulta de mais de 1% em Barbados, República Dominicana e Jamaica, até 3% no Haiti. Segundo estudos sobre o assunto, as mulheres do Caribe sofrem a infecção cada vez com maior freqüência e são mais da metade das que vivem com HIV/aids. Em Trinidad e Tobago, por exemplo, a infecção com HIV é seis vezes maior entre as mulheres de 15 a 19 anos do que entre os homens dessa mesma faixa etária.
Como parte de sua agenda em Cuba, Kastberg visitou em Holguín, 689 quilômetros a leste de Havana, projetos de prevenção e controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e HIV/aids, que incluem campanhas educativas para promover comportamentos e práticas sexuais saudáveis, especialmente na juventude. No final de 2006, viviam em Cuba 6.541 pessoas com HIV, homens na ampla maioria. Fontes oficiais calculam que o tratamento com retrovirais de cada paciente custa entre US$ 14 mil e US$ 17 mil, embora neste país esses cuidados sejam totalmente gratuitos.
Para o representante do Unicef, também o objetivo de reduzir a mortalidade materna está atrasado. “Entre 20 mil e 30 mil mulheres, muitas delas adolescentes, morrem a cada ano por sangramento”, afirmou Kastberg, acrescentando que em várias ocasiões essas jovens foram violentadas, abusadas sexualmente e morrem sob o silêncio, porque foram vítimas de incesto. Porém, o atraso é maior na questão da desnutrição crônica, um problema que em países como a Guatemala afeta quase a metade das meninas e dos meninos, devido aos altos níveis de anemia da mãe. “É preciso erradicar esta situação antes de 2015, e isto será muito difícil, a não ser que olhemos o problema como uma grande emergência de desenvolvimento humano”, ressaltou.
A este respeito, Kastberg desafiou outros governos da região a buscarem em seus países uma província que tenha um nível de mortalidade infantil quanto o de 3,8 por mil registrado em Holguín no ano passado. Em nível nacional, a taxa foi de 5,3 por mil nascidos vivos, o que coloca Cuba entre as 30 nações com menor probabilidade de morte para suas crianças em todo o mundo. Em Holguín, são desenvolvidos vários projetos de cooperação apoiados pelo Unicef e por outras agências da ONU. Um informe das Nações Unidas sobre os ODM diz que a porcentagem de população vivendo com menos de um dólar por dia na região caiu de 10,3% para 8,7% entre 1990 e 2004, o que é considerado uma redução insuficiente.
Quanto à distribuição da renda, a participação da quinta parte mais pobre da população no consumo nacional caiu de 2,8% para 2,7%. O diretor regional do Unicef disse ter explorado com seus anfitriões cubanos as possibilidades de colaboração Sul-Sul em áreas da saúde diante de situações de emergência por desastres naturais. Além disso, durante sua estada na ilha assistiu a um concerto no qual foi oficializada a designação da companhia infantil cubana de teatro “La Colmenita” como “Embaixadora da Boa Vontada do Unicef em Cuba”.