Kasinsky decide profissionalizar sua fábrica e contrata executivo

Fonte: Estadão - 17/10/07

O empresário Abraham Kasinsky, 90 anos completados em julho, decidiu colocar o pé no freio. Ele iniciou um processo de profissionalização da Kasinski, fábrica de motocicletas que fundou aos 82 anos. Contratou um executivo para tocar o dia-a-dia da empresa e daqui a um ano deve criar um conselho, formado por ele e a esposa Ivone, empresários de fora do grupo e consultores. Mas não pense que ele vai se aposentar. "Vou continuar indo diariamente ao escritório", diz.

Kasinsky chega à sede administrativa da empresa, instalada na Via Anchieta, por volta de 11 horas, e só sai após as 18 horas. "Não faço por sacrifício, mas porque gosto", afirma. É apenas algumas horas a menos em relação à rotina mantida por mais de 40 anos, quando comandava a maior fabricante de autopeças da América Latina, a Cofap, vendida em 1997.

"De vez em quando levo uns puxões de orelha", conta Luiz Abad Neto, 47 anos, gerente-geral escolhido para dirigir a companhia de motos, com fábrica em Manaus (AM) e vendas previstas de 11 mil unidades este ano. Formado em administração de empresas e em direito, Abad é dono de uma empresa de consultoria e foi indicado por amigos de Ivone para o cargo. Foi ela quem sugeriu o processo de profissionalização, há cerca de três anos, quando decidiu participar mais de perto dos negócios da empresa.

"Vi que o Kasinsky precisava de uma companhia para ajudar nos negócios, gente mais jovem", conta Ivone, que buscou opiniões de consultores, industriais e advogados. "Nem foi preciso um headhunter, amigos indicaram o Abad e tem dado muito certo."

Ivone e Kasinsky se casaram oficialmente há 10 anos, mas estão juntos há 21. "Nos conhecemos no Guarujá (litoral sul de São Paulo)", lembra ela. Da parte dele, foi amor à primeira vista. Da parte dela, precisou algum tempo, pouco, ressalta, para perceber que ele era uma pessoa por quem é fácil de se apaixonar. "Ele foi muito insistente e me conquistou."

Ela ressalta que 21 anos com Kasinsky representam 42. "Não é fácil acompanhá-lo, pois é um homem muito ativo e está sempre criando idéias." Ivone admite que, após a venda da Cofap para o grupo italiano Magneti Marelli, em 1997, achou que era hora de descansar.

Dois anos depois, quando Kasinsky anunciou que criaria a fábrica de motos, ela foi contra, mas depois aceitou o novo sonho do empreendedor. Agora, aos 70 anos, é tão ativa quanto ele. Participa das discussões da empresa, ajuda na administração da Fundação Abraham Kasinsky, que atende 1,7 mil crianças em Lavras (MG), acompanha as ações do Parque Ambiental de Lavras, área que ele recebeu em doação e transformou num espaço ecológico, e do orquidário mantido em Mauá (SP). Ainda administra quatro lojas de acessórios de sua propriedade e cria o neto de sete anos, que mora com eles.

Quadriciclo

A Kasinsky tem hoje 0,7% de participação no mercado de motocicletas. Os cinco modelos que a marca produz na fábrica que emprega 150 funcionários têm de 110 a 250 cilindradas, segmento responsável por mais de 80% das vendas do mercado. A tecnologia das motos é de duas empresas chinesas, que fornecem também componentes.

Segundo Abad, de janeiro a setembro a marca vendeu 7,5 mil motos, um crescimento de 94,7% em relação ao ano passado. O mercado total, no mesmo período, cresceu 27%. Para 2008, as projeções são de vendas de 20 mil unidades e, para 2009, de 35 mil. "Para isso teremos de ampliar a fábrica", informa o executivo.

Para o projeto de ampliação, ele calcula que serão necessários investimentos de US$ 20 milhões a US$ 30 milhões, recursos que virão do próprio grupo e de financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A Kasinski decidiu focar suas atividades no segmento de duas rodas depois do fracasso das vendas de um triciclo que chegou a ser montado em Manaus. Mas o antigo sonho do fundador da empresa, de desenvolver um veículo totalmente novo no país, uma espécie de quadriciclo, chamado de Motokar, não está descartado. "Está apenas congelado", avisa.

Embora com certa dificuldade de audição, Kasinsky mantém o estilo brincalhão, conta histórias e faz provocações. Sobre a concorrência de novas fabricantes que estão se instalando no país, muitas delas com tecnologia chinesa, Kasinsky diz não se assustar. "Estou aqui há nove anos tentando construir minha marca e ainda não consegui. Imagina quanto eles vão demorar."

No Salão das Duas Rodas, que ocorre em São Paulo até domingo, a marca apresenta três novidades: as motos Way 125, Seta 150 e Comet GT-R, que vão custar, respectivamente, R$ 3.890, R$ 5.490 e R$ 16.990.

A empresa também mostra um protótipo de uma motocicleta bicombustível (roda com álcool ou gasolina), desenvolvida em parceira com a Magneti Marelli.

 


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