Fonte: Jornal do Meio Ambiente (www.jornaldomeioambiente.com.br) - 06/03/07
Estudos científicos demonstram que os reservatórios das grandes hidrelétricas brasileiras construídas em regiões florestadas, como a Amazônia, produzem grandes quantidades de metano (CH4), um dos mais potentes gases de efeito estufa. No entanto, se este mesmo gás for devidamente capturado e queimado, pode produzir energia limpa e renovável em grandes quantidades. Estimativas apresentadas na Tabela 1, indicam que é possível aumentar de 30 a 50% a capacidade instalada (em MW) de hidrelétricas como Tucuruí (PA), Balbina (AM) ou Samuel (RO), capturando e queimando apenas as quantidades de metano que são emitidas a jusante das barragens. Esta estimativa conservadora pode aumentar substancialmente, se levarmos em conta os estoques de metano acumulados no fundo destes reservatórios.
Uma das vantagens desta proposta é que ela envolve soluções simples de engenharia, que não afetam a geração atual de eletricidade das usinas, e não necessitam o desenvolvimento de novas tecnologias para ser implementada imediatamente. Estimativas preliminares indicam que os investimentos necessários para coletar e estocar o gás estão na faixa de 100 a 200 milhões de dólares por Mt/ano de produção de metano. Uma Mt/ano de metano equivale a 1760 MW. Aos preços atuais do gás natural (em torno de 0.06 US$/Nm3-CH4), a taxa estimada de retorno sobre o investimento situa-se acima do valor de 25% preconizado para investimentos em geração de energia renovável no Brasil.
Se de uma perspectiva econômica a utilização do metano produzido nos reservatórios das hidrelétricas brasileiras é atrativa, de um ponto de vista político e social esta proposta é igualmente vantajosa. Por um lado, a redução das emissões de metano e a geração de energia limpa em substituição àquela produzida por combustíveis fósseis habilitam o Brasil a receber uma quantidade proporcional dos chamados “créditos de carbono”, no âmbito do Protocolo de Quioto. Por outro lado, a inclusão desta nova fonte de energia na matriz energética brasileira deve diminuir a pressão para construção de grandes barragens em locais sensíveis, preservando importantes biomas e terras indígenas, e evitando o deslocamento de grandes contingentes de proprietários rurais.
Em resumo, acreditamos que, num momento em que o suprimento de energia representa um dos mais importantes gargalos ao crescimento acelerado do país, o gás metano produzido em nossos reservatórios pode vir a ser uma fonte extra de energia elétrica, em locais que já possuem uma ampla infra-estrutura para distribuí-la. Por isto, recomendamos vivamente que estudos mais aprofundados sejam empreendidos imediatamente para avaliar a magnitude, a distribuição e a dinâmica dos estoques de metano em represas na região Amazônica. Além dessas, o estudo deveria também contemplar represas localizadas em outras regiões do território nacional, tendo em vista a avaliação do potencial energético total do metano das barragens brasileiras.
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