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Inovação parece ser a atual palavra de ordem, como foi qualidade no passado. Do governo às empresas se fala sobre ela. No mundo acadêmico-científico ela também está, figurando em temas de pós-graduações, pesquisas tecnológicas de ponta e no exercício profissional. A inovação ganha cada vez mais espaço, de mãos dadas com os avanços tecnológicos constates em todos os setores do mundo que conhecemos, sempre com uma ligação muito evidente com a competitividade, outro ponto primordial no mercado.
As engenharias são profissões que por sua própria natureza de atuar proporcionam mais competitividade. Não faltam exemplos. Nos Estados Unidos, demora quase trinta anos o ponto de abate da celulose. No Paraná, se consegue em sete anos, como destaca o engenheiro civil Ricardo Rocha de Oliveira, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR). “Quem não inovar, não vai sobreviver”.
O próprio conselho tem erguido bandeiras em defesa da inovação no seu dia a dia de trabalho. Em Maringá e Cascavel, o Crea-PR tem organizado hackathons, as conhecidas competições para buscar projetos inovadores que possam impactar nas atividades profissionais das engenharias.
Nesses eventos, voltados a jovens profissionais e estudantes, o Crea-PR identificou soluções que agilizam o trabalho da fiscalização por meio da adoção de robôs que substituem o trabalho manual de verificação de documentos, por exemplo. Também foram criados meios de otimizar aplicativos já usados pelos profissionais. Integração entre os canais de demanda, denúncias e fiscalização também fez parte das propostas de inovação.
O setor de fiscalização do Crea-PR conta com o uso de imagens por satélite para ajudar no trabalho. Todos os processos são digitais, o que aboliu o uso do papel. “Temos feito uso intensivo da tecnologia para atender melhor, acionando os serviços do conselho de casa. Este ano, dentro da diretriz da gestão, queremos ser reconhecidos como uma entidade ágil, moderna e inovadora”, afirma Oliveira.
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Inovação preserva espécie da Era Jurássica
Há 34 anos, o professor universitário e engenheiro agrônomo Flávio Zanette estuda meios de preservar e recompor florestas com araucária, árvore símbolo do Paraná e que já cobriu 52% do território do estado, mas hoje está presente apenas em menos de 1% da mesma área. Essa quase extinção é consequência de décadas de exploração desregrada da madeira e de desmatamentos.
Zanette criou técnicas de polinização artificial para evitar a completa extinção da espécie, sendo bem sucedido. Diretamente, o projeto do professor, que é ligado ao Departamento de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR), já foi responsável pelo plantio de cerca de 130 mil novas árvores, todas cadastradas e de localização sabida. De forma indireta, o projeto também é replicado por estudiosos e entusiastas da preservação da araucária, uma árvore única, que é oriunda do chamado período pré-histórico da Terra, mais precisamente da Era Jurássica, que se desenvolveu há 200 milhões de anos. De madeira nobre, o que despertou a cobiça no passado, uma araucária pode ter vida de 700 anos e atingir cerca de 50 metros de altura. A polinização artificial é necessária devido à alta fragmentação das matas de araucária, o que impede que o pólen seja disseminado pelo vento, reduzindo a variabilidade genética.
"Comecei a estudar araucária com vistas a compreender a produção na fruticultura. Mas vi que ela em si era uma espécie de grande valor, e estava ameaçada de extinção. Percebi que ela não era cultivada, pois não se conhecia a biologia dela. Comecei a buscar uma forma para que ela crescesse bem. Vi que ela dava pinhões grandes e pequenos. Por esse caminho, comecei a fazer seleção e passei a estudar como a araucária pode se desenvolver rapidamente”, explica o professor Zanette.
Para ele, as engenharias estão naturalmente identificadas com a inovação. “O engenheiro terá de solucionar, arranjar uma forma de realizar com o conhecimento da física, da química, da biologia e da matemática. Quem quer ser engenheiro precisa amar desafios, saber criar soluções”, destaca Zanette. As experiências de Zanette são reconhecidas pela inovação. Ele usa até uma grua para colocar o pólen diretamente sobre a copa das árvores, a mais de 20 metros de altura em alguns casos, para gerar as sementes de pinha (o tradicional pinhão) que vão dar origem à árvore.
Soluções mais complexas para pessoas mais exigentes
Com o tempo, a inovação também sofre transformações. “Eu diria que é natural, mas devido à intensidade com que a inovação vem sendo requisitada, está mudando essa relação. Tenho visto a aceleração desse processo. O que estamos trabalhando, por exemplo, é introduzir mais proximidade com a questão do consumidor. O desenvolvimento é para a sociedade, num processo de solução coletiva, pois as exigências dessa sociedade aumentaram muito, obrigando a respostas mais complexas”, afirma Cleverson Renan da Cunha, coordenador de ambientes de inovação e empreendedorismo da agência de inovação da UFPR.
No caso da UFPR, essa mudança se faz sentir nos cursos de pós-graduação, por exemplo. Alguns estão sendo formatados para trabalhar com novos negócios e empreendedorismo, numa maneira de ajudar os alunos a acelerarem processos de inovação. No lugar da apresentação do tradicional TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), ressalta Cunha, os alunos são incentivados a criar novos negócios, projetos inovadores e startups. “Queremos provocar o aluno e dar as condições a ele para trabalhar com a pré-incubadora, que começamos este ano na própria incubadora da universidade, focando em fomentar novos negócios”, destaca.
Na incubação da UFPR há oito projetos selecionados, que atuam nas áreas de biotecnologia, saúde animal, análise de dna, entre outros. Todos são de base tecnológica.
"Os desafios são grandes e o Brasil tem reunido conquistas, mas também precisa recuperar o tempo perdido no quesito inovação. “As respostas que temos dado não fazem mais sentido. Temos uma lacuna grande para avançar no setor de competitividade em comparação a outros países. Eles têm investido na tecnologia como um todo. Eu diria que temos atrasos, mas temos ilhas de excelência, como na pesquisa em universidades. O desenvolvimento que conseguimos no agronegócio, por exemplo, é fruto do trabalho das engenharias. Nas grandes indústrias têm acontecido coisas interessantes que o mundo tem copiado. Temos nossos méritos e possuímos nossas contribuições para o mundo”, afirma Cunha
Avanços dependem de profissionais capacitados e líderes inovadores
Mas a inovação, mesmo prometendo mudanças para melhor, não é algo que irá soar e se estabelecer de maneira natural num primeiro momento. Ela chega para quebrar paradigmas e culturas estabelecidas. Nem sempre isso é visto com bons olhos. “Com o conhecimento que obtive, enfrentei muitas resistências na adoção de inovação que muda o status de certos segmentos”, afirma o engenheiro agrônomo Luiz Antônio Corrêa Lucchesi, superintendente do Ibama no Paraná e representante de todas as instituições de ensino superior do grupo agronomia no Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia).
“Há muita dificuldade para implantar a inovação por conta de legislações ultrapassadas e a realidade de uma cultura presente que está habituada a fazer de um jeito e não aceita que se faça de outro”, afirma Lucchesi, autor de um projeto que usa o lodo de esgoto para a recuperação de terras degradadas, uma iniciativa que de acordo com ele recebeu resistências. Por meio de reações químicas, em cerca de 12 horas, o lodo é transformado em um material adequado que traz impactos na recuperação de solos.
Segundo Lucchesi, essa situação poderá ser mudada a partir de pessoas em posições de comando que tenham consciência do potencial da inovação. “A inovação é algo fundamental em qualquer setor, mas o detentor do poder (seja dirigente de classe ou político com mandato delegado pela população) precisa ter coragem de adotá-la. Muitos dirigentes com os quais interagi falaram em inovação, mas ao mesmo tempo, na minha interpretação, ficavam apenas na conversa, seguindo o politicamente correto. É preciso que se tenha conhecimento sobre inovação e também liderança para implementá-la na comunidade onde esse representante está inserido”, diz Lucchesi.
O setor agropecuário, com a contribuição da agronomia, lembra ele, é uma das áreas que mais incentiva a inovação. A agricultura, por ser uma atividade de alto risco, por depender de fatores climáticos e econômicos, por exemplo, para se desenvolver, transformou-se também num celeiro para novas práticas de produção. “Um dos responsáveis por isso foi o engenheiro agrônomo, que atua de uma forma muito sensível junto às demandas do produtor rural”, afirma Lucchesi.
Da mesma forma que a inovação é algo com potencial de transformação de uma realidade para melhor, seu emprego equivocado pode gerar resultados que não são previstos. Por isso, a adoção de novas ideias deve sempre vir acompanhada do trabalho de especialistas em oferecer soluções nessa área. “A inovação por si só não é garantia de sucesso. Ela pode melhorar os processos ou piorá-los. A garantia está no estudo bem aprimorado e profissional, nos cálculos e previsões mais acertados, para que assim possamos inovar e progredir”, alerta Lucchesi.
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