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O baixo crescimento de nossa economia, somado ao grande número de desempregados no Brasil, tem sido fruto de uma política estrategicamente equivocada da percepção do papel da indústria de transformação no desenvolvimento do País.
É voz corrente na área econômica desse governo e também em sua empresa pública, a Petrobras, que a Indústria Naval brasileira não é competitiva e que a política de Conteúdo Local é um retrocesso enorme, chegando-se, inclusive, a propor políticas que vão na contramão do que acontece no mundo, tais como a abertura geral para importação de navios de cabotagem, o fim do Fundo da Marinha Mercante criado em 1959, um Conteúdo Local zero e, até mesmo, a sugerir que a Indústria Naval sobreviva somente de reparos em embarcações.
Há um grande equívoco nisso tudo, pois a política de Conteúdo Local, somada à demanda perene durante os anos de 2004 a 2014, fez com que nossa indústria crescesse 19,5% ao ano, segundo dados do IPEA.
Esse crescimento resultou na construção de aproximadamente 600 embarcações nesse período, gerando cerca de 80 mil empregos diretos e cerca de 400 mil indiretos, além da qualificação da mão de obra da cadeia produtiva de óleo e gás e do desenvolvimento econômico dos municípios onde os estaleiros se instalaram.
O Fundo da Marinha Mercante, ao longo dos seus 60 anos, ajudou muito o desenvolvimento do Brasil. Quem conhece um pouco da história da Indústria Naval sabe que hoje, sem esses recursos, o País e a Petrobras seriam dependentes de navios estrangeiros em 100% no escoamento de nossa produção. Não reconhecer o papel importante desse Fundo e querer extingui-lo é, no mínimo, má fé.
O presidente da Petrobras, recentemente, disse que a Indústria Naval vive pedindo favores ao governo. Não, senhor presidente, não queremos favores. Queremos uma política de Estado, onde tenhamos condições econômicas, financeiras e trabalhistas para sermos competitivos como quer a área econômica.
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Com isso, tenha a certeza de que a Indústria Naval brasileira, bem como os trabalhadores que nela labutam, serão tão ou mais competitivos que em qualquer país do mundo, porque já provamos que sabemos construir navios e ajudar nosso País como poucos.
E, para finalizar, falar que a Indústria Naval deveria se especializar em reparos navais é, no mínimo, desconhecer essa indústria, pois, com a frota existente noBrasil, não precisamos de mais que dois estaleiros para atender a essa demanda, tendo em vista que a maioria dos barcos de apoio hoje em operação no Brasil são produzidos e operados por empresas que verticalizaram sua atividade.
Não queremos obrigar ninguém a comprar no Brasil, mas, para sermos competitivos e produtivos e disputarmos mercado, precisamos de demanda perene. E a Petrobras tem um papel fundamental nisso, pois se nem a nossa empresa brasileira acredita na nossa indústria, como vamos fazer com que empresas estrangeiras acreditem? Precisamos, também, de linhas de crédito competitivas para que possamos fazer frente aos estaleiros asiáticos.
Faz quase um ano que aguardamos uma política de Estado para este segmento de ponta, desde que este governo tomou posse, e, até agora, não vimos nada para desenvolver esta indústria. Ao contrário, o que fazem é atacá-la. Mas seguiremos resistindo, como fazemos desde 1846, quando o governo ajudou a construir o primeiro estaleiro do Brasil.
* Ariovaldo Rocha é presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval Offshore (Sinaval)
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