Fonte: Gazeta do Povo - 18/09/07
Estabilidade econômica, preços mais baixos e lançamentos convidam diariamente os brasileiros a adquirirem novos celulares, câmeras digitais, computadores, notebooks e uma variedade sem fio de portáteis e eletroeletrônicos - pesquisas recentes comprovam esta realidade . Com a mesma intensidade, um volume considerável de baterias, pilhas, chips de memória, mouses, impressoras e de aparelhos e acessórios usados se acumulam nos fundos de gavetas e de caixas - cada um guarda como pode. O resultado é que, na maior parte das vezes, o consumidor não faz a menor idéia de como se livrar do cada vez mais evidente e-lixo (e-waste) ou lixo eletrônico.
Aparelhos eletrônicos e equipamentos de informática concentram em sua fabricação metais pesados como chumbo, cobre e mercúrio, além de tóxicos como o níquel, informa o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Segundo Estevan Matheus, executivo da Valvolândia, loja especializada em pilhas e baterias, a produção média nacional destes materiais é de 670 milhões de unidades/ano. Há pelo menos dez anos o Congresso avalia uma proposta de Política Nacional de Resíduos Sólidos, mas até agora apenas o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) consegue, a duras penas, pressionar fabricantes e importadores a coletar baterias e celulares nas grandes cidades. Enquanto o governo e a iniciativa privada discutem, nas instâncias legais, papéis e políticas para o destino deste lixo do novo milênio, o consumidor pode fazer sua parte em casa, recorrendo a alternativas.
A opção mais imediata para o consumidor comum é rever velhos hábitos, como o de jogar pilhas e baterias na lata de lixo doméstico ou de comprar qualquer novidade tecnológica quando o atual celular ou MP3 dá conta do recado. No primeiro caso, fabricantes de pilhas recarregáveis garantem que uma pilha deste porte tem vida útil equivalente a quase mil alcalinas comuns por resistir a pelo menos dois anos de uso intensivo. Ao contrário das pilhas comuns, os modelos recarregáveis contêm mais materiais reaproveitáveis - substâncias que, em contato com o meio ambiente, são extremamente poluentes, explica Estevan Matheus.
"Equipamentos eletrônicos e pilhas e baterias contém elementos químicos pesados, como mercúrio, cádmio, zinco, alumínio, e a maioria das pessoas joga estes acessórios no lixo doméstico. Enquanto estão guardadas é ótimo, mas o contato destas substâncias com o meio ambiente é extremamente prejudicial. Mas nas pilhas recicláveis se aproveita se aproveita o chumbo para a coloração vermelha de tintas de carros, e o cádmio, que é amarelo, e assim por diante", diz o executivo.
Nas embalagens das pilhas - tanto das comuns quanto das recarregáveis - existem telefones de serviços de atendimento de fabricantes que informam onde existem postos de coleta. Já as fabricantes de celulares e as operadoras de telefonia móvel oferecem caixas coletoras de aparelhos usados nas lojas autorizadas e em revendedoras das marcas. A Oi coleta baterias e celulares em lojas e representantes e a TIM mantém programa de devolução ao fabricante. A Vivo afirma que o recolhimento de aparelhos e acessórios em mais de 50 lojas próprias já rendeu 30 mil produtos encaminhados à reciclagem. A Nokia, maior fabricante mundial de celulares que vendeu, em 2006, 347 milhões de aparelhos, faz a coleta através de representantes e garante que o consumidor e bem orientado nas embalagens dos produtos. Luiz Ceolato, gerente de Meio Ambiente da Motorola no Brasil, diz que a fabrica da marca em Jaguariúna, São Paulo, já recolheu 170 toneladas de celulares, baterias e acessórios desde 1999, volume reencaminhado para o centro de reciclagem da marca, na França.
"A participação do Brasil em campanhas de coleta é muito significativa quando comparada a outros países da América Latina. É um programa efetivo, mas dependemos bastante da conscientização do usuário final", afirma Ceolato.
Já as fabricantes de computadores, notebooks e impressoras importam para o país políticas implantadas em seus países de origem - e bem mais cobradas pelas autoridades e reguladores. A Dell, que tem fabrica no Sul do país, recolhe computadores na casa do usuário. Já a HP envia um envelope pré-pago de coleta para a casa do usuário. Por este sistema somente em 2006 mais de 187 milhões de toneladas de hardwares e cartuchos de impressão foram recolhidos e reciclados pela HP em todo o mundo. Já para câmeras digitais e players digitais MP3, a recomendação é consultar o manual do aparelho com a lista de cuidados para o descarte ou entrar em contato com o fabricante para saber como descartar corretamente estes equipamentos.
Mudanças nas políticas de produção e de coletas de eletrônicos, aliás, têm guiado a fabricante Apple em direção a um lado "maça mais verde". O processo foi desencadeado em maio deste ano, quando o Greenpeace divulgou o Guia de Eletrônicos Verdes, um ranking com a lista das fabricantes que oferecem menos riscos à natureza. Na primeira edição, em 2006, a Apple foi criticada pelo imenso aterro de lixo eletrônico criado na China. Foi o suficiente para que o fundador Steve Jobs publicasse um memorando - inclusive em português - com os compromissos da Apple para o meio ambiente. A iniciativa - acessível no site da Apple (
www.apple.com/br/hotnews/agreenerapple) - fez bem para a imagem da companhia, mas ainda não há políticas de coleta de eletrônicos da marca fora dos EUA. A pressão continua, vale acompanhar.