Fonte: Valor Online - 14/09/07
Uma ducha de água fria poderá atingir nos próximos meses um mercado crucial para o futuro da Embraer, como resultado da preocupação crescente dos Estados Unidos com o congestionamento de seus aeroportos e os problemas que uma nova geração de jatinhos executivos poderá criar para o sistema de controle do tráfego aéreo no país.
Medidas atualmente em discussão no Congresso americano ameaçam encarecer os custos de operação dos jatos corporativos e restringir seu acesso aos aeroportos mais movimentados. Se forem aprovadas, essas propostas poderão esfriar a demanda num segmento do mercado de aviação executiva em que a Embraer e seus concorrentes têm depositado grandes esperanças.
As projeções mais conservadoras da indústria sugerem que 3 mil aeronaves serão vendidas nesse segmento na próxima década. Os mais otimistas falam em 8 mil. Estima-se que 70% das encomendas virão de clientes americanos. Os jatinhos da nova geração são mais baratos e menores que os tradicionais, mas têm sistemas de navegação mais sofisticados que os usados em outros aviões do mesmo porte.
As autoridades dos EUA temem que a entrada de milhares de novos jatinhos no espaço aéreo nacional sobrecarregue ainda mais a infra-estrutura do setor, num momento em que o sistema de controle do tráfego aéreo exibe vários sinais de esgotamento e o governo e o Congresso estão procurando meios de financiar os investimentos necessários para modernizá-lo.
As consequências dessa discussão para os negócios da Embraer ainda são bastante incertas, mas dificilmente seu impacto poderá ser ignorado. "O mercado provavelmente sofrerá um abalo se houver aumentos significativos nos custos operacionais dessas aeronaves", disse ao Valor Gerald Bernstein, sócio da consultoria The Velocity Group.
Um projeto apresentado pelo governo americano ao Congresso em fevereiro propõe que uma fatia maior do orçamento do sistema de controle do tráfego aéreo passe a ser financiada por donos de aviões particulares. Hoje eles recolhem apenas 3% dos impostos que custeiam o sistema. A proposta do governo é ampliar sua contribuição para 11% do total. Grandes companhias aéreas continuariam pagando a maior parte da conta.
O projeto aumenta as taxas que todos os usuários do sistema pagam conforme o consumo de combustível e cria novos tributos, incluindo um pedágio que aviões menores precisariam pagar para pousar nos 30 maiores aeroportos do país. Uma comissão do Senado que analisou o projeto sugeriu a adoção de uma taxa adicional de US$ 25 por vôo, o que tornaria mais cara a operação desses jatos se eles voarem com muita freqüência.
A proposta deve ser colocada em votação dentro de alguns meses. Segundo a Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês), principal órgão regulador do setor, o plano do governo provocaria um aumento médio de 3% nos custos operacionais de jatinhos corporativos e outras aeronaves da mesma categoria. Parece pouco, mas pode fazer diferença num pedaço do mercado de aviação que promete ser muito competitivo.
Companhia desenvolveu há dois anos o Phenom 100, um jatinho de seis lugares , e o Phenom 300, para oito pessoas
A Embraer entrou nessa briga há dois anos, quando começou a desenvolver dois novos aviões, o Phenom 100, um jatinho de seis lugares , e o Phenom 300, para oito pessoas. A companhia diz ter recebido até junho 460 pedidos para os dois modelos, vindos de 30 países. Os primeiros deverão ser entregues no segundo semestre do ano que vem.
A ambição da Embraer é ter no futuro uma fatia de 30% desse mercado. Seu principal concorrente é a americana Cessna, que tem 350 encomendas para o modelo que lançou nessa categoria, o Citation Mustang, e já entregou 24 aviões. Há mais uma dezena de fabricantes interessados no setor, mas poucos têm o fôlego financeiro da Embraer ou a tradição da Cessna.
O desempenho dos dois Phenom será decisivo para a empresa brasileira. Embora esse nicho seja o menos lucrativo do mercado de jatos executivos, um bom volume de vendas abrirá caminho para aviões maiores como o Lineage 1000, que ainda está em desenvolvimento, e o Legacy 600, que a Embraer começou a entregar no ano passado.
"Em geral os clientes nesse setor trocam de avião como quem troca de carro após alguns anos e por isso é importante oferecer opções", disse o diretor de inteligência de mercado da Embraer para esse segmento, Claudio Camelier. A aviação executiva representa hoje 15% das vendas da Embraer e a meta da companhia é aumentar essa fatia para 20%.
Até agora, a empresa não detectou nenhum sinal de que o provável aumento do custo operacional dos novos aviões prejudicará suas vendas. Mas ela reconhece que ainda existem muitas dúvidas nesse mercado. Mesmo que o impacto das propostas em discussão no Congresso acabe sendo pequeno, outros fatores poderão atrapalhar os jatinhos.
A Embraer calcula que 60% da demanda pelos aviões virá de companhias de táxi aéreo e empresas interessadas em oferecer novos serviços para passageiros que têm pressa em chegar aos seus destinos e não suportam mais a rotina dos grandes aeroportos. Mas muitos analistas vêem com ceticismo as chances de sucesso desses novos negócios.
Além do aumento nos impostos e das restrições que poderão afastar os novos jatinhos dos aeroportos mais movimentados, haverá outros custos. "As seguradoras certamente cobrarão mais caro das novas empresas que quiserem entrar nesse ramo e muitas descobrirão que isso tornará sua operação inviável", afirmou ao Valor Philip Butterworth-Hayes, diretor da PMI Media, uma consultoria especializada.
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