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Na terça-feira (3), o candidato à presidência dos EUA focado em automação, Andrew Yang, tuitou: “Fast food pode ser o primeiro”. Ele estava comentando um novo relatório da CNBC que relatava taxas anuais de rotatividade de funcionários de 100% na cadeia Panera Bread – um número baixo para a indústria de fast food, que pode ter uma rotatividade anual de até 150%.
Esses números podem parecer ridículos, mas são uma realidade: os restaurantes de fast food veem regularmente mais do que toda a sua força de trabalho mudar a cada ano. E é por isso que especialistas do setor – e Andrew Yang – alertam que os estabelecimentos estão prontos para a automação e esse pode ser o primeiro setor a se tornar totalmente automatizado.
Eles estão certos de que o fast food é tão maduro quanto qualquer outro setor para uma automação transformadora. Normalmente, uma das principais fontes de resistência à automação de um processo, tarefa ou trabalho inteiro é o impacto que isso terá sobre um funcionário assalariado.
As demissões parecem ruins para a empresa que está automatizando, existem inúmeros fatores sociais em jogo que criam resistência – a gerência relutará em demitir funcionários antigos, por exemplo – e há riscos envolvidos na criação de novas máquinas, que podem levar anos para funcionarem sem problemas.
Mas em uma indústria que tem uma equipe totalmente diferente todos os anos – especialmente considerando que a maior parte de seus trabalhos se destina a ser um aglomerado de tarefas repetitivas, como anotar pedidos e cadastrá-los em um sistema, adicionar e organizar ingredientes em um prato e limpar pisos e mesas – as empresas e a gerência vão gastar muito menos tempo avaliando fatores sociais e preocupações sobre percepção.
A indústria do fast food já tem um dos trabalhos menos valorizados, visto que os funcionários são tratados com pouca dignidade, os benefícios variam de mixarias a inexistentes, e os salários são muito baixos.
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Tudo isso para dizer: assim que as empresas de fast food puderem automatizar esses trabalhos, elas o farão. As únicas coisas que impedem essas empresas de fazer isso são os custos projetados e a funcionalidade dos sistemas automatizados. E é só isso.
A propósito, é por isso que é tão ilusório os CEOs da indústria de restaurantes afirmarem que, se forem obrigados a pagar um pouco mais por hora aos funcionários, isso os forçará a adotar a automação. (A campanha Fight for 15 tem organizado trabalhadores para aumentar os salários nos restaurantes, e as ameaças de automação têm sido uma propaganda persistente para combater seus esforços.)
Por um lado, os executivos de fast food já estão se esforçando o máximo possível para fazer exatamente isso – o McDonald’s, por exemplo, está gastando US$ 1 bilhão em quiosques de pedidos automatizados apenas este ano.
Na situação atual, os salários teriam que subir de forma exorbitante para colocar os executivos em uma posição em que estariam dispostos a apostar em tecnologias de automação caras e não testadas para preparação de alimentos, e ainda mais quiosques – o que, vamos deixar claro: ainda não está claro o quanto de economia de trabalho elas oferecem – e um extenso programa de treinamento para familiarizar os funcionários com tudo isso.
(De uma maneira hilária, essas taxas de rotatividade altíssimas que fez os analistas preverem que a automação vai resolver o problema de retenção na indústria de fast food – é caro recrutar e treinar constantemente trabalhadores – podem ser combatidas com meios relativamente simples: oferecendo a seus funcionários um mínimo de dignidade, um pouco de folga e alguns benefícios. O Starbucks, uma cadeia de franquias mega lucrativa, tem uma taxa de retenção de 65% precisamente porque oferece essas condições de trabalho e ainda se mantém mega lucrativa.)
É por esses motivos todos que o fast food é um poderoso candidato à automação. Não sei se ele será o “primeiro” – eu provavelmente ainda apostaria em algum subconjunto da indústria de manufatura, algum lugar em que os chefes possam justificar máquinas mais caras porque os trabalhadores que elas substituem são frequentemente qualificados e, portanto, caros também. Mas o setor fornece algo próximo das condições ideais para a automação total do trabalho de serviço corporativo.
Isso importa, porque ainda há muita ambiguidade sobre o que a automação pode razoavelmente realizar a taxas razoavelmente acessíveis no momento. Há tanta área cinzenta entre o que as empresas de soluções de automação empresarial business-to-business prometem às empresas da Fortune 500 e o que a automação pode realmente entregar que às vezes é difícil ter uma ideia da capacidade real e eficiência econômica da automação corporativa.
As redes de varejo tentam há décadas automatizar tarefas como tirar pedidos e fazer check-out, por exemplo, e os humanos ainda estão realizando a maior parte do trabalho. Ainda assim, não há dúvidas de que as empresas estão desenvolvendo e lançando incansavelmente novos sistemas de automação, alguns voltados diretamente para o setor de fast food.
É por isso que eu acho justo dizer que no dia em que você ver um restaurante de fast food franqueado bem-sucedido, totalmente funcional e totalmente automatizado – se esse dia chegar -, esse dia será realmente um presságio para o resto da economia. (Antes disso, eu ficaria de olho em mais falsas automações; mais empregos terceirizados e temporários em lugares como o GrubHub; o delivery é um dos poucos pontos de crescimento na economia de fast food, e aposto que em breve veremos a indústria de fast food incluir essas vagas temporárias em seus números de criação de empregos).
Esse será o dia em que saberemos que a automação é realmente capaz de substituir o trabalho humano mal remunerado em grande escala. O dia em que não houver humanos trabalhando no McDonald’s será o dia em que o chamado apocalipse dos empregos robóticos terá realmente começado.
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