Fonte: Valor Online - 04/09/07
A indústria automobilística se prepara para crescer mais em 2008. As primeiras previsões de analistas, executivos das montadoras e do setor de autopeças indicam que o mercado interno, principal fator de impulso da produção hoje, ficará entre 6% e 10% maior no próximo ano. A expansão se dará sobre uma base de 2,3 milhões de veículos, volume previsto para este ano, já 22% maior que o total de 2006. Entretanto, os próprios dirigentes têm dúvida de que conseguirão produzir mais nos próximos anos sem enfrentar a falta de autopeças. Somente em agosto as vendas de veículos cresceram 32% em comparação com o mesmo mês do ano passado.
Foto: Divulgação
"Iniciamos um trabalho contínuo de aumento de capacidade dos fornecedores", conta Vilmar Fistarol, diretor de compras da Fiat, montadora que mais vende carros no Brasil. Esse e outros executivos reconhecem que erraram em todas as previsões para 2007. A demanda cresceu mais do que se esperava e agora o receio da limitação da capacidade de alguns fornecedores preocupa as montadoras.
A Fiat prevê que o mercado brasileiro vai crescer entre 6% e 8% em 2008. "É muito fácil acreditar que o mercado de veículos pode crescer o equivalente a uma vez e meia ou duas vezes o PIB", destaca Fistarol. "O que não sabemos é se vamos ter peças para atender essa expansão", acrescenta o executivo. Segundo ele, o ritmo das linhas de montagem ainda não foi afetado. "Mas há a preocupação de que alguns fornecedores estão chegando ao limite da capacidade", afirma.
O presidente da General Motors, Ray Young, prevê que o problema dos chamados "gargalos" deve aparecer só em 2009. Ele diz que a GM ainda não sentiu problemas de atrasos com entregas de peças e suspeita que a situação pode ser tranqüila ainda no próximo ano, quando, segundo seus cálculos, o mercado vai crescer 10% . "Mas se as vendas continuarem crescendo, em 2009 e 2010, montadoras e fornecedores precisarão, sim, investir em expansões", afirmou.
Ninguém previa que a força do crédito traria aumento de demanda tão grande em 2007. "O mercado brasileiro cresce a taxas chinesas", lembra Letícia Costa, presidente da Booz-Allen Hamilton no Brasil. A consultoria apresentou ontem (03), durante um simpósio da SAE (Sociedade dos Engenheiros Automotivos), indicações de que além da facilidade no financiamento, o crescimento da demanda por carros novos se sustenta na expansão da renda. "Mesmo pequena essa expansão tem influência nas vendas dessa indústria", diz. No acumulado deste ano, o Brasil registrou crescimento de 27,3% nas vendas domésticas de veículos, num total de 1,534 milhão de unidades. Somente em agosto 235,2 mil veículos passaram pelos órgãos de trânsito para licenciamento.
O mapeamento dos principais gargalos já foi feito pelo setor. A capacidade chegou ao limite nos segmentos de forjaria, acabamento, metalurgia. borracha e fundição. "Gargalos produtivos não se desfazem de um momento para outro", afirma a representante da Booz-Allen, que trabalha com a expectativa de um mercado interno de 2,5 milhões de veículos no próximo ano, crescimento próximo de 8% na comparação com 2007.
A Ford espera um mercado 8% a 10% maior em 2008. "Essa previsão tem como base a capacidade de financiamento, a redução dos juros e a confiança do consumidor", afirma o presidente da Ford Brasil, Marcos de Oliveira. A Ford recentemente lançou um plano para pagar os carros em 84 prestações. Segundo Oliveira, a montadora vai continuar oferecendo prazos longos, a despeito do impacto da crise nos Estados Unidos e das incertezas em torno do que acontecerá com a taxa básica de juros daqui em diante. "A tempestade passou e nós continuamos com a programação de financiamentos", diz. Neste ano, as vendas internas de veículos no Brasil deverão somar 2,3 milhão de veículos. Desse total, 2,2 milhões serão carros de passeio.
Os problemas de limitação produtiva se concentram nas empresas menores. São pequenas fábricas que fornecem para as autopeças multinacionais, que têm os mesmos receios das montadoras. "Temos muito trabalho a ser feito com o subfornecedor", afirma Hélio Contador, presidente da Visteon, uma empresa de autopeças que entrega os conjuntos de peças, como painéis, já montados.
Fabricantes de peças como a Visteon, empresa cujo porte e força de negociação a situa entre montadoras e fornecedores menores, estão, ao mesmo tempo, sendo estimulados a comprar mais peças da China. Segundo Fistarol, uma peça chinesa custa 40% menos que a nacional. Os custo para trazer o componente para o Brasil - incluindo transporte e impostos - não passa de 25%, diz o executivo. O custo logístico em peças menores é mais baixo ainda. É por isso que mais montadoras estimulam os seus fornecedores a comprar peças no país asiático.