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Depois de ficar estagnada no ano passado, a produtividade do trabalhador brasileiro deverá voltar a crescer a partir deste ano, embora ainda em ritmo lento, mostram projeções traçadas pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) obtidas pelo Valor.
Nos cálculos do instituto, a produtividade da hora trabalhada deve avançar 0,9% neste ano e mais 0,8% no ano que vem. Apesar de recolocar o indicador em trajetória positiva, o cenário aponta para uma "lenta recuperação", considerando-se que o país saiu de um longo período recessivo, com queda intensa da produtividade.
O movimento de recuperação vai refletir basicamente o aumento do valor adicionado bruto - medida de bens e serviços produzidos no país, sem os impostos - de 2,1% neste ano e de 2,4% em 2020, acima do projetado para as horas trabalhadas nos próximos dois anos, de 1,2% e 1,6%, respectivamente.
"Estimamos uma melhora no investimento neste ano, com crescimento de quase 4%, e uma melhor composição das vagas geradas no mercado de trabalho, com um geração líquida de cerca de 750 mil empregos formais", disse a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre.
Se confirmadas as projeções, a produtividade por hora trabalhada no país vai chegar ao fim de 2020 no mesmo nível em que estava em 2014. No fim do ano passado, o nível da produtividade equivalia ao registrado em 2012 e permanecia 2,7% abaixo de seu pico, que foi atingido no primeiro trimestre de 2014.
"Nossa história é de baixa produtividade. Nossa estimativa é que entre 1982 e 2018 a produtividade por hora trabalhada cresceu apenas 0,4% ao ano em média", disse a economista.
Como a maioria dos cenários econômicos atuais, as projeções do Ibre consideram a aprovação da reforma da Previdência. "As projeções representam um cenário base otimista em relação à capacidade do governo em aprovar as reformas, mesmo com algum grau de desidratação", disse Silvia.
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Durante a recessão, a produtividade por hora trabalhada saiu de uma taxa positiva de 2,2% no quatro trimestre de 2013 para uma taxa negativa de 2,5% no primeiro trimestre de 2016, considerando a base de comparação interanual. Depois disso, houve uma melhora gradual, até crescer 1% no quatro trimestre de 2017.
Nos cálculos de Fernando Veloso, pesquisador do Ibre, a produtividade por hora trabalhada da economia brasileira ficou estagnada no ano passado. Em artigo recente, o pesquisador atribuiu esse desempenho do ano passado ao lento ritmo da economia e ao aumento do número de trabalhadores na informalidade.
Veloso estimou que a estagnação está diretamente relacionada ao setor de serviços. Ainda que o valor adicionado do setor (+1,3%) tenha crescido mais do que o da indústria (0,6%) e o da agropecuária (0,1%) no ano passado, sua produtividade foi negativa em 0,6%. O motivo foi o aumento maior das horas trabalhadas.
"A baixa taxa de crescimento da produtividade agregada nos últimos anos decorre principalmente do fraco desempenho da produtividade do setor de serviços, que concentra cerca de 70% da alocação setorial de horas trabalhadas no país e que tem apresentado taxas negativas desde o terceiro trimestre de 2014", avaliou.
No cenário traçado pelo Ibre para 2019 e 2020, o setor de serviços deve finalmente sair do terreno negativo em termos de produtividade. "A recuperação desse setor tem sido bem lenta, mas cada ano tem sido um pouco melhor", acrescentou Silvia Matos.
O professor de economia do Insper Renan Pieri diz que a aceleração do crescimento da produtividade passa por melhora na formação da mão de obra, dos investimentos das empresas em tecnologia e medidas mais amplas que reduzam a burocracia e incertezas no país.
"Em longo prazo, o capital humano é uma grande questão no país. Os jovens saem das escolas sem estar preparados para o mercado de trabalho, para o uso de ferramentas. Por isso, programas voltados para expansão da oferta de escolas técnicas são importantes", disse o professor.
Ele acrescenta que as reformas - especialmente a da Previdência, mas também a tributária - são importante para retomar a confiança de empresários a investir no país. "Máquinas mais modernas são mais produtivas e contribuem para o ganho de produtividade do trabalho", explicou Pieri.
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