Ford projeta mercado 10% a 12% maior em 2019, mas prevê nova queda de exportações

Expansão de 15% em 2018 foi dependente das vendas diretas a frotistas, responsáveis por mais de 40% dos negócios

“Intenso” foi a palavra escolhida para definir 2018 por Rogelio Golfarb, vice-presidente de estratégia, comunicação e relações governamentais da Ford América do Sul. Já o presidente da companhia na região, Lyle Watters, preferiu a definição “transformação”. Na média, ambos têm razão: o País passou por transformações intensas este ano e ainda não se sabe ao certo o que virá delas, mas o setor automotivo, embora menor do que já foi até 2014, aguentou bem a volatilidade. O mercado brasileiro de veículos termina o ano com novo crescimento, em torno de 15% a 16%, perto de 2,6 milhões de unidades vendidas. E a Ford projeta nova expansão de 10% a 12% em 2019, para algo como 2,8 milhões de emplacamentos no Brasil – em linha com o que a Anfavea, associação dos fabricantes, vem apontando até agora. 

O que de fato precisa se transformar em 2019 é a qualidade do crescimento do mercado brasileiro, até agora fortemente dependente dos negócios corporativos com frotistas, sempre com descontos que superam os 30% e jogam para baixo a rentabilidade. Este ano locadoras e outros grandes compradores são responsáveis por quase 43% dos emplacamentos, quase o dobro dos 24% registrados em 2012. 

Pela projeção da Ford, as vendas diretas devem crescer 24,3% em 2018 na comparação com 2017, para 1,1 milhão de unidades, enquanto as compras originadas no varejo avançaram em ritmo bem menos intenso, 9,7%, para 1,48 milhão de veículos vendidos nas concessionárias. Portanto, 63% do crescimento este ano é devido aos negócios corporativos. 

“O que incentiva as vendas diretas é a ainda grande capacidade ociosa, os fabricantes precisam escoar a produção. Além disso, os financiamentos ao consumidor são limitados e as taxas de juros ainda são mais altas, enquanto os frotistas têm mais facilidades”, avalia Rogelio Golfarb.

O executivo destacou que os juros para financiamento de automóveis baixaram 14% desde 2015, para a média de 22,4% ao ano, mas o custo ainda é muito alto em relação aos 6,5% da taxa básica Selic, que caiu 54% no mesmo período. “Financiar um veículo no País ainda é caro e isso impacta nas vendas de varejo”, lembra. 


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Argentina reduz exportações

Se a perspectiva do mercado doméstico é de crescimento contínuo, o mesmo não se pode dizer das exportações, que atingiram o recorde histórico de 766 mil unidades em 2017 e não devem passar de 650 mil este ano, em queda de 15%, sob o impacto da frote crise cambial na Argentina, para onde vão 70% dos carros brasileiros vendidos no exterior. 

Nas projeções da Ford, tudo indica que a queda das vendas externas será ainda mais forte em 2019, para menos de 600 mil veículos exportados, estimando nova retração de 20% a 25%. Com isso, a participação das exportações na produção no Brasil deve cair abaixo dos 20%, contra 22% este ano. 

Indústria automotiva puxa PIB industrial

Apesar de todas as quedas registradas nos últimos anos, Golfarb destacou que o setor automotivo tem sido o grande motor de recuperação do PIB industrial. Baseado em estatísticas do IBGE, ele mostra que o crescimento de 17,7% na produção de veículos foi responsável por 49% da expansão da indústria nacional em 2017, que na média avançou apenas 2,6%. Em 2018, até outubro, as montadoras expandiram o ritmo em 15,8%, ou 70% da modesta alta de 1,8% de toda a indústria. 

“Isso mostra a relevância do setor automotivo nacional na indústria e na sua recuperação após a crise”, avalia Golfarb.


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