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Entre o barulho e o movimento das 80 máquinas de tear, que dão origem a milhares de etiquetas diariamente, chamam a atenção nove painéis que lembram os telões de aeroportos. Eles são menores se comparados aos de embarque e desembarque, mas fornecem dados que fazem decolar os resultados da fábrica.
Desenvolvida por uma startup, a plataforma conecta informações dos sistemas da empresa, monitorando qualquer desvio no processo de produção e denunciando quando uma das máquinas apresenta problema. Alguns deles são resolvidos pela própria tecnologia, sem o auxílio humano.
Gustavo Guimarães e a startup Tnah, responsáveis pela inovação na empresa de etiquetas de Pomerode, representam uma tendência na indústria catarinense. Empresas de maior porte estabelecem parcerias com pequenos negócios que têm capacidades disruptivas. Em alguns casos, a startup acaba adquirida por uma indústria.
Esse modelo de inovação industrial começa a dar os primeiros passos em Santa Catarina, com resultados animadores. Ele é uma alternativa à criação de departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento, que exigem investimentos em uma cultura de transformação nem sempre ao alcance dos empreendedores industriais.
“Inovar sozinho, dá para fazer? Dá. Só que normalmente demora mais e custa mais caro. Se você quer inovar mais rápido e de um jeito mais barato, se conecta. E um caminho provável são as startups”, acredita a coordenadora do núcleo de Inovação da Associação Empresarial de Blumenau (Acib), Ilisângela Mais.
O núcleo, como diversas outras iniciativas, tenta promover o diálogo entre empresas e startups, criando uma cultura inovadora. Por ser um fenômeno recente, as empresas de maior porte estão aprendendo a se aproximar de mecanismos como este e de projetos inovadores.
“Os empresários sabem que precisam trazer mais inovação para o seu negócio, só que eles não conhecem as startups, não conseguem separar quem é o bom ou não. Se eu for atender todas as startups que batem na minha porta, eu vou ficar dois meses só fazendo isso”, brinca Ilisângela.
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Para tentar ter uma noção da atuação das startups em Blumenau, a Acib promoveu um estudo em parceria com a Furb no início deste ano (a mesma pesquisa foi realizada, pela primeira vez, em 2016).
Das 48 consultadas, 70% delas criavam softwares, aplicativos móveis ou projetos de engenharia. Tudo feito, na maioria, por equipes de até sete pessoas.
Há um ano no mercado, a Tnah, que é de Jaraguá do Sul, oferece a mesma solução para diferentes indústrias têxteis do Vale do Itajaí. Cada cliente tem uma especificidade, mas o projeto, elaborado por uma equipe de 11 profissionais das áreas de processos, automação e software, promete otimizar a produção de uma máquina em mais de 8%.
Segundo o panorama de 2018 da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), o setor de tecnologia representa 5,6% da economia do estado. No ano passado, na região do Vale do Itajaí, o faturamento foi de R$ 3,4 bilhões, perdendo apenas para o polo tecnológico da grande Florianópolis (R$ 6,4 bilhões).
Aproximação cada vez mais comum
A existência de startups voltadas para soluções industriais é algo tão novo que ainda não há números disponíveis, mas a tendência da união de grandes marcas com soluções estreantes no mercado é evidente.
Para Otto Bahr, coordenador de Consultoria e Inovação do Vestuário no Senai de Blumenau, o que dificulta a aproximação entre indústrias e startups é, muitas vezes, a falta de um intermediador confiável. Como também não há muitos casos de sucesso a serem seguidos, há certa insegurança entre os industriais.
Gustavo Guimarães, da Tnah, concorda que o ecossistema de startups industriais ainda tem muito a se desenvolver. Muitos empresários ainda preferem pensar internamente em melhorias de produtividade e gestão, ou com a ajuda de soluções mais antigas.
“As empresas, principalmente as de porte maior, precisam disponibilizar canais que permitam que as startups as acessem com agilidade. Isso é um dos caminhos. As aceleradoras, as incubadoras são outros caminhos”, exemplifica Alex Kuhnen, da equipe do Centro de Desenvolvimento Integrado de Produtos do Senai de Santa Catarina.
Ambientes de inovação
Blumenau tem uma incubadora de empresas, o Instituto Gene, e uma aceleradora com interesse especial em indústria, a Spin, que chegou à cidade no mês passado. O espaço do Instituto Gene, na rua Antônio da Veiga, oferece infraestrutura, serviços e eventos que apoiam a criação, o desenvolvimento e a consolidação de pequenas empresas.
É no Instituto Gene que está o Grupo Vex. Entre outros serviços inovadores, a empresa leva realidade virtual às indústrias. Coisas antes inimagináveis, como visualizar o interior de um motor por meio de realidade aumentada, são criadas em uma sala com 20 pessoas e em um pequeno estúdio com luzes, refletores e paredes revestidas de espuma.
Grandes indústrias têxteis como Karsten e Cremer já contrataram a Vex para levar a realidade aumentada a feiras de negócios. Potenciais clientes podem analisar os produtos por dentro e por fora usando apenas o telefone celular. Isso significa que máquinas pesadas, por exemplo, não precisam sair de dentro da fábrica.
Aceleração
Startups já fazem parte do ambiente de negócios de tecnologia da informação, do sistema financeiro e da área de saúde. Na indústria, a inovação por meio delas ainda é uma aposta. Porém, a chegada de uma aceleradora catarinense vocacionada para o setor industrial é um indício de que as coisas estão mudando.
A Spin, como qualquer outra aceleradora, identifica empresas e startups com potencial de crescimento rápido. Assim, conecta o acelerado a potenciais clientes e analisa modelos de negócios. São três meses de tutoria para consertar erros e capacitar o empreendedor para crescer e atrair investidores.
Diferente do Instituto Gene, em que recursos públicos ajudam a desenvolver um ambiente econômico mais inovador, na Spin o capital é privado. Entre os investidores estão industriais catarinenses.
A Spin nasceu há um ano em Jaraguá do Sul e já tem operações em Blumenau e Joinville. No próximo ano a aceleradora pretende chegar a São Paulo e Curitiba.
Indústria 4.0
A chegada das startups industriais a Santa Catarina integra um movimento transformador chamado, desde 2011, de Indústria 4.0. O conceito, que faz alusão à quarta revolução industrial, se caracteriza por integrar tecnologias digitais e biológicas ao mundo físico.
As empresas buscam conectar informações de maneira a transformar os processos produtivos. Se a intenção é aprender a ser ágil, como explica Kuhnen, o caminho é absorver, da maneira correta, as tecnologias necessárias. E para isso, cada vez mais, a aproximação com as startups, que estão de olho nessas tecnologias, torna-se indispensável.
São maneiras de se “trabalhar em uma rede de inovação”, como defende Kuhnen. O Senai, por exemplo, possui editais que custeiam projetos de inovação todo ano. Qualquer empresa interessada – incluindo as que estão em fase inicial – podem participar. Desde 2012, cerca de 20 projetos de Blumenau foram escolhidos para o programa, batizado de Inova Senai.
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