Preços das sucatas ferrosas e do ferro-gusa batem recorde em 2018 e indústria de fundição alerta: “Chegou a hora do repasse”

As variações de preços das sucatas ferrosas e do ferro-gusa, insumos básicos para a indústria de fundição, já chegaram a 60% e 50% em 2018, respectivamente. Tendo chegado ao seu limite, as fundições se veem obrigadas a repassar estes custos, apesar da resistência de seus clientes, em especial a indústria automotiva, que absorve 58% dos fundidos produzidos no país.

Os preços das sucatas de ferro e aço seguem onerando as fundições, que pressionadas a não repassarem os aumentos praticados diminuem a sua margem de lucro justamente no momento em que o mercado está se recuperando e, portanto, ainda muito sensibilizado com os legados da última crise.

Nas palavras de Afonso Gonzaga, presidente da ABIFA – Associação Brasileira de Fundição, “chegou a hora do repasse, pois chegamos ao limite”. Ele continua: “Insumos como o ferro-gusa, sucata e energia sufocam o nosso setor. Precisamos de entendimentos com os nossos clientes, para a sobrevivência do mercado. Sendo o setor automotivo o comprador de 58% da nossa produção, entendemos a necessidade de buscarmos um acordo nesse sentido, para que continuemos a honrar os nossos contratos como fornecedores desta indústria”.

Tomando por base o índice Base 100 disponibilizado pela ABIFA, temos que entre o segundo semestre de 2017 e o primeiro quadrimestre de 2018 a variação dos preços das sucatas de ferro e aço já alcançou uma média de 37,9%.

No entanto, na prática há fundições que já sofreram com aumentos da ordem de 60% nos preços da sucata e de 50% do ferro-gusa.

Quando questionado a respeito, o INESFA – Instituto Nacional das Empresas de Preparação de Sucata Não Ferrosa e de Ferro e Aço, alegou que “com a retomada do desenvolvimento da economia e o aumento da produção, vem momentaneamente ocorrendo um ajuste entre a geração e o consumo de sucatas ferrosas”. Que “estes preços tendem a se estabilizar tão logo seja alcançado o equilíbrio entre a geração e o consumo de sucata, fato este que acreditamos estar próximo e refletirá na oferta e demanda”.

Outra questão apontada pelo INESFA é que “o mercado interno é há décadas plenamente abastecido pelas empresas brasileiras do setor de comércio atacadista de sucatas ferrosas e não ferrosas”. Ou seja, não há desabastecimento, muito embora a demanda externa de sucata acabe refletindo nos preços ofertados por aqui, fazendo com que as próprias fundições importem sucata, por questões de custo.


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Do lado das fundições, outro ponto colocado é que esses aumentos de preço tanto do ferro-gusa quanto da sucata são impostos com aplicação imediata. Um dos entrevistados ouvidos, que preferiu não se identificar, explica: “Nós temos que pagar imediatamente, ou seja, se não pagarmos, não recebemos o material, diferentemente das negociações que envolvem os produtos fundidos. Neste caso, é necessário abrir uma negociação, com comprovações que podem levar meses. Enquanto isso, as fundições arcam com o prejuízo”.

Para amenizar estas variações, a sugestão desta fundição é que seja implantada no Brasil a cultura de surcharge, como acontece principalmente no Hemisfério Norte, em que as variações de preço das commodities são aplicadas automaticamente semestral ou trimestralmente, amenizando as variações mencionadas.

Afinal, fundido não se vende por quilo. Trata-se de um produto com alto valor agregado, que deve ser negociado como tal.