Tese de doutorado estuda a implantação de Usinagem Ecológica

Fonte: CIMM - 31/10/07

Entrevista com Prof. Cleiton Rodrigues Teixeira    
      

Professor do Departamento de Materiais e Construção da Fundação Universidade Federal do Rio Grande e aluno do Programa de Pós-Gradução em Eng. Mec. da UFSC, nível de doutorado.

CIMM - Como surgiu a idéia de desenvolver uma tese de doutorado em ‘Usinagem Ecológica’? Comente um pouco sobre este trabalho.

Na realidade existem vários trabalhos em andamento no LMP-UFSC voltados para “usinagem ecológica” (1 doutorado e 5 mestrados). Esta linha de pesquisa surgiu por iniciativa do Prof. Walter L. Weingaertner, que prevendo o aumento das exigências ambientais para as indústrias brasileiras, incentivou e promoveu pesquisas no sentido de gerar informações para aplicação nas linhas de produção nacionais. Os atuais trabalhos visam soluções para adequar os tradicionais processos de usinagem às condições de produção limpa.

Nos processos de usinagem os “fluidos de corte” aparecem como um dos principais agentes nocivos ao homem e ao meio ambiente, sendo responsáveis por diversos tipos de doenças nos trabalhadores. Por esta razão as pesquisas atualmente desenvolvidas no LMP-UFSC visam conhecer os reais efeitos dos fluidos de corte nos processos, avaliando as possibilidades de redução e/ou eliminação de seu uso. Em uma primeira fase os estudos foram direcionados aos tradicionais processos de usinagem que empregam ferramentas de corte de geometria definida.

CIMM - Quais são , na sua opinião, as vantagens tecnológicas e econômicas da minimização do uso de fluidos de corte em processos de usinagem?

Durante várias décadas a usinagem tirou proveito dos fluidos de corte para atingir índices de produtividade satisfatórios. Em termos culturais a fabricação de peças está correlacionada ao uso de fluidos de corte nos processos de usinagem. Entretanto, nos últimos anos a evolução das ferramentas de corte (materiais e revestimentos) e das máquinas-ferramenta, estão reduzindo cada vez mais a necessidade do uso de fluidos de corte nos processos de corte.

Leis ambientais mais rígidas exigem providências no sentido de reduzir o impacto ambiental dos processos produtivos. Todos estes fatos apontam o potencial de vantagens, a curto e longo prazo, que podem ser atingidos com a redução do uso dos fluidos de corte.

CIMM - Qual a viabilidade de se implantar esse sistema na indústria metal mecânica no Brasil?

Não só é perfeitamente viável como será necessário a implantação de sistemas para reduzir o uso dos atuais fluidos de corte nas linhas de fabricação. Existe uma exigência mundial de reduzir e eliminar as textos que agridem o meio ambiente.
No Brasil já existe, em pequena escala, a preocupação de produzir de forma limpa, sem agredir o meio ambiente. Neste sentido algumas empresas do ramo metal mecânico já estão implantando planos de redução do uso de fluidos de corte nas linhas de usinagem.

CIMM - No caso de uma empresa decidir implantar um sistema de minimização do uso de fluidos de corte, qual seria o primeiro passo a ser dado neste sentido?

O passo mais importante é a empresa de fato querer melhorar ecologicamente a forma de produzir seus produtos. A partir disso, um estudo técnico conveniente no sistema produtivo vai direcionar para os caminhos de implantação do plano de redução do uso de fluidos de corte nas operações de fabricação.

Cabe salientar que dependendo do porte da empresa a estratégia de implantação de um sistema de redução de fluido de corte deve ser adequada, de modo a garantir o sucesso das mudanças.

CIMM - Você já teve a oportunidade de implantar os princípios da usinagem ecológica em alguma empresa? Como foi essa experiência?

Sim. O LMP-UFSC normalmente atua em pesquisas de forma conjunta com empresas (pesquisa aplicada). Este sistema de trabalho permite uma eficiente avaliação/comparação dos resultados experimentais de laboratório e os resultados produzidos em chão de fábrica (nos sistemas produtivos).

Nesta área específica também atuamos com o Centro Nacional de Tecnologias Limpas - CNTL / SENAI-RS e o Instituto Euvaldo Lodi de Santa Catarina, ambos prestando consultorias a empresas no sentido de atingir uma produção mais limpa.
Todos os trabalhos em que participamos apresentaram resultados bastante satisfatórios para as empresas, isto é, foram produzidos ganhos ecológicos, tecnológicos e econômicos.

CIMM - Quais as propriedades que um fluido de corte precisa ter para que se possa dizer que o mesmo causa menos impacto ao meio ambiente?

No sentido de impacto ambiental pode-se analisar os fluidos de corte como sendo um produto de ciclo de vida fixo. Durante este ciclo ele mantém contato permanente com os trabalhadores (através das máquinas, peças e cavacos), e quando perde as propriedades iniciais é substituído, descartado.

Dependendo dos produtos constituintes do fluido de corte ele será mais ou menos agressivo ao homem e meio ambiente. Infelizmente os produtos que agregam boas características tecnológicas aos fluidos de corte são em sua grande maioria nocivos ao homem e ao meio ambiente. Durante o uso, normalmente em circuito fechado, o fluido de corte também recebe outras contaminações de produtos e elementos nocivos (óleos, solventes, metais pesados do material da peça, ferramenta e revestimentos, etc.).

CIMM - Qual sua opinião com relação à reciclagem e/ou re-refino de fluidos de corte e lubrificantes?

Atualmente a reciclagem integral dos fluidos de corte ainda é inviável economicamente. Mesmo que executada, esta solução não abrange o problema como um todo, pois somente evita a contaminação no descarte do fluido de corte.
O tratamento final não evita os efeitos nocivos provocados pelo seu uso nos processos. Os gases produzidos pelas elevadas temperaturas de corte, os respingos, os volumes agregados aos cavacos e peças, são exemplos de problemas não eliminados com o tratamento final.

CIMM - Como os fabricantes de fluidos de corte estão vendo o problema da toxidade de seus produtos?

Assim como nós, os fabricantes de fluidos de corte estão trabalhando no sentido de adaptar seus produtos as novas exigências ecológicas impostas pela sociedade. Certamente o desenvolvimento tecnológico neste setor deve conduzir para o surgimento de novos produtos não nocivos e com boa eficiência nas operações de corte.

CIMM - Como tem-se abordado a questão ecológica na formação dos engenheiros nas universidades?

Infelizmente no Brasil as questões relacionadas com o meio ambiente andam a passos lentos. Nos últimos anos tivemos um significativo progresso, porém muito aquém da necessidade. A globalização vai obrigar a nossa adequação as legislações mais severas dos países desenvolvidos, e as questões ecológicas farão parte de nosso dia a dia (família, escola, trabalho, etc.).

CIMM - Existe algum incentivo nesta área por parte do governo federal através de projetos de pesquisa?

O Governo Federal reduziu bastante os recursos para pesquisas nos últimos anos , o que tem dificultado bastante a aprovação de novos projetos. Os maiores incentivos para pesquisas nesta área tem surgido das próprias empresas: empresas de produção, fabricantes de ferramentas e fabricantes de fluidos de corte. Estas empresas através de parcerias ou convênios de pesquisa, fornecem as condições necessárias ao desenvolvimento dos trabalhos.

CIMM - Como você vê a posição das indústrias com relação à usinagem ecológica?

As empresas já perceberam a importância de considerar os aspectos ecológicos na sua cadeia produtiva. A empresa que não conseguir adequar seu sistema produtivo as exigências ambientais internacionais estará com seu mercado reduzido em um futuro bem próximo.

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