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O executivo francês François Dossa, presidente da Nissan do Brasil, passou boa parte das últimas três semanas em reuniões, a portas fechadas, com os principais diretores da montadora no País. A pauta não era a conhecida crise que se instalou no setor automotivo. O objetivo era definir as estratégias da companhia para o próximo ano e estabelecer a melhor forma de investir os R$ 750 milhões programados até o fim de 2017, além da contratação de 500 funcionários para a fábrica de Resende, no Rio de Janeiro.
“A situação do mercado é desafiadora, mas não podemos dizer o mesmo da nossa empresa. Vivemos nosso melhor momento”, afirmou Dossa à Dinheiro. “Estamos muito otimistas. Vamos crescer acima de 10% no próximo ano e colocar o modelo Kicks na liderança do segmento.”
O otimismo de Dossa reflete a inversão de humor de uma grande parcela do empresariado brasileiro. Apesar da profunda recessão que nocauteou a economia brasileira nos últimos dois anos – e que deve continuar prejudicando alguns setores nos próximos meses –, as perspectivas de médio e longo prazos voltaram a ser positivas. “Continuamos cautelosos porque a crise chegou com força, mas estamos plenamente convencidos de que as coisas, daqui em diante, só vão melhorar”, disse Thierry Fournier, presidente da operação brasileira do Grupo Saint-Gobain, que controla empresas como Telhanorte, Brasilit e Weber.
A gigante anglo-holandesa Shell, a julgar pelos seus planos, também parece estar convencida de que o pior da crise ficou para trás. A companhia anunciou, na quarta-feira 9, um plano de investimento de US$ 10 bilhões no Brasil para os próximos cinco anos. Segundo o presidente mundial Ben van Beurden, os recursos serão utilizados, principalmente, em projetos de exploração de petróleo nos campos de Lula e Libra, no pré-sal da Bacia de Santos. Não faltam, no entanto, exemplos de empresas que voltaram a sorrir no mercado brasileiro. Um estudo realizado pelo Instituto Ipsos em parceria com Câmara de Comércio França-Brasil (CCFB), publicado em primeira-mão pela Dinheiro, endossa essa percepção de que o otimismo começa a ser restaurado no País e que os investimento das multinacionais começam a voltar.
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Entre as 161 empresas consultadas na pesquisa, que inclui Carrefour, Sodexo, Endered Ticket e Saint-Gobain, 74% acreditam que as vendas irão aumentar em 2017. Em relação aos investimentos, 47% disseram que acreditam que irão “melhorar” ou “melhorar muito” no próximo ano. “A visão positiva dos empresários em relação ao Brasil se explica pela perspectiva de aprovação da PEC dos gastos públicos, seguida por reformas da previdência e trabalhista”, disse Roland Bonadona, presidente da CCFB e ex-presidente do grupo hoteleiro Accor no País. “Há muito dinheiro para investir aqui. As empresas só precisam de um aceno positivo do governo para desengavetar projetos.”
Um dos fatores que fazem do Brasil um local sedutor para a volta dos investimentos de multinacionais é o custo. A crise fez o real se desvalorizar, tornando ativos mais baratos para as empresas com recursos em dólar. “Os investidores são espertos e perceberam que talvez seja uma boa hora de investir, comprar barato, pois o Brasil passa por ciclos de altos e baixos”, afirmou Astrit Sulstarova, chefe do departamento de Tendências de Investimento e Dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). “Apesar de todos os problemas, o Brasil está entre os top 10 no mundo e os investidores estão sedentos por barganhas de curto prazo.”
Essa avaliação é compartilhada pelo grupo francês Edenred, dono da Ticket, líder mundial em vales-refeição. Os negócios da companhia foram afetados, evidentemente, pela recessão e pela disparada do desemprego no País. Mas, segundo o CEO da empresa, Gilles Coccoli, o horizonte mais promissor para a economia faz com que a matriz enxergue a possibilidade de voltar investir nos próximos anos. “O Brasil, na nossa visão, voltou a ser o país das oportunidades. Apesar do clima difícil para os estrangeiros entenderem, está claro para todos o potencial do mercado”, afirmou Coccoli. “A expectativa é que 2017, mesmo que não seja um ano extraordinário, represente o início da retomada do investimento e do emprego.”
Pelos cálculos do Banco Central, o Produto Interno Bruto (PIB) registrará uma expansão de 1,3% em 2017, depois de dois anos consecutivos de queda: de 3,8%, em 2015, e de estimados 3,2%, em 2016. Parte dessa reação está ancorada na previsão de alta de 4% do Investimento Estrangeiro Direto (IED). Neste ano, a queda deve chegar a 8,7%. De acordo com o BC, por meio de nota, essas estimativas são “consistentes com o cenário de recuperação dos indicadores de confiança e de consolidação do ajuste fiscal em curso.” São esses indicadores que sustentam a volta do otimismo nas multinacionais, mesmo que a situação não seja das melhores, nesse exato momento. É o caso, por exemplo, da alemã Mercedes-Benz.
A despeito da retração de 25% nas vendas neste ano, em comparação a 2015, a empresa manteve o plano de investimento de R$ 730 milhões em modernização e renovação das fábricas. “Sabemos que é necessário continuar a investir para estarmos prontos para o momento pós-crise”, disse Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil. “Como esperamos nos recuperar em 2017 e 2018, inauguramos uma fábrica de automóveis neste ano, em Iracemápolis, no interior de São Paulo, e aproveitamos o período de baixa para renovar equipamentos em outras unidades.” Junto com a reação do setor industrial, outros segmentos deverão se reaquecer a reboque.
Um deles é o de eventos corporativos. Acreditando nisso, o empresário paulista Fábio Diniz decidiu trazer para o Brasil, com investimento de US$ 80 milhões, uma operação da americana iFly, fabricante de dutos de ar que simulam queda-livre. A empresa mantém duas unidades, em São Paulo e Brasília, mas já tem outros quatro endereços já definidos para o ano que vem, em Belo Horizonte, Foz do Iguaçu, Rio de Janeiro e outra em São Paulo. “Vamos investir pesado porque temos convicção de que a economia brasileira está saindo da lama”, disse Diniz, que já assinou contrato com empresas como Scania, Nike e Procter & Gamble para a realização de eventos. “Todos os indicadores mostram que o pior já passou. Agora, é só voar.”
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