Dólar cai e se aproxima de R$3,20; fecha junho com queda de 11%, maior perda mensal em 13 anos

O dólar fechou em queda pelo terceiro dia seguido e se aproximou de 3,20 reais nesta quinta-feira (30), marcando em junho o maior recuo mensal em 13 anos devido à ausência do Banco Central do mercado de câmbio e ao otimismo cauteloso dos investidores em relação ao Brasil.

O dólar recuou 0,73 por cento, a 3,2133 reais na venda, menor nível de fechamento desde 21 de julho de 2015 (3,1732 reais).

A moeda norte-americana acumulou queda de 11,05 por cento no mês, maior recuo mensal desde abril de 2003. No segundo trimestre, despencou 10,65 por cento, maior baixa trimestral desde o segundo trimestre de 2009 (-15,35 por cento), acumulando no semestre perda de 18,61 por cento.

Operadores acreditam, no entanto, que a moeda norte-americana não deve se afastar muito desses patamares no curto prazo, seja para cima ou para baixo. Embora incertezas sobre o futuro do Reino Unido após a opção por deixar a União Europeia (UE) permaneçam, a perspectiva de estímulos no resto do mundo tende a manter as cotações perto das mínimas em quase um ano.

"A impressão que dá é que o mercado virou a chave em relação ao Brasil", disse o operador da corretora B&T Marcos Trabbold. "Pode haver exageros, como vimos hoje mais cedo, mas se o BC continuar ausente e não tivermos grandes surpresas na política, parece que o dólar de fato mudou de patamar".

O mercado brasileiro tem mostrado desempenho melhor do que seus pares na América Latina desde o início do ano, com operadores apostando que o governo interino do presidente Michel Temer será capaz de limitar os gastos e colocar a economia de volta nos trilhos.

Mesmo escândalos políticos envolvendo figuras de alto escalão do governo não foram suficientes para dissuadir os operadores, apesar da perspectiva de que dificultem a aprovação de medidas de austeridade fiscal.

A inação do BC, sob o comando de Ilan Goldfajn, no mercado cambial diante do recuo recente da moeda norte-americana também vem contribuindo para manter o dólar em patamares baixos. Muitos operadores esperavam que a autoridade monetária agisse para amortecer a queda do dólar, com medo de impactos sobre as exportações.


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O BC não faz leilão de swap reverso, que equivale a compra futura de dólares, desde 18 de maio. Este era o instrumento que o BC, quando era comandado por Alexandre Tombini, estava usando para segurar maiores quedas do dólar.

"Embora a equipe econômica possa não estar ativamente perseguindo (o dólar mais fraco), parece improvável que aja para reverter a tendência atual, já que pode ajudar a ancorar as expectativas de inflação no longo prazo", escreveram analistas da consultoria de risco político Eurasia Group em relatório.

O banco JPMorgan espera que o dólar termine o terceiro trimestre a 3,35 reais e avance para 3,50 reais ao fim deste ano.

Nesta sessão, operadores citaram ainda a perspectiva de o BC estabelecer para 2018 meta de inflação mais baixa do que a de 2017, como afirmou uma fonte da equipe econômica à Reuters. Com isso, cresceram as expectativas de que os juros básicos demorarão mais para cair, o que tende a sustentar a atratividade de ativos brasileiros.

Abaixo de R$3,20

O dólar chegou a 3,1830 reais na mínima desta sessão, mas reduziu boa parte dessas perdas durante a tarde. A moeda norte-americana ficou mais sensível durante a primeira metade do pregão devido à briga pela Ptax de junho.

A taxa, calculada pelo BC, serve de referência para diversos contratos cambiais. Operadores costumam brigar por cotações nos últimos dias do mês para deslocá-las a patamares favoráveis a suas posições.

"Essa queda do dólar surpreendeu muita gente e parte do mercado quer ver até onde esse movimento tem força para ir", disse o operador da corretora Intercam Glauber Romano.

Nos mercados externos, o dólar apresentou desempenho misto neste pregão em relação às principais moedas da América Latina.

Os mercados têm sido fortemente influenciados após o Reino Unido decidir na semana passada deixar a UE. O referendo gerou forte mau humor na sexta-feira e na segunda-feira, mas o quadro se inverteu em seguida em meio a expectativas de que bancos centrais ajam para limitar as turbulências financeiras.

O banco central do México elevou sua principal taxa de juros em 0,50 ponto percentual, mais do que o esperado, para tentar amparar o peso mexicano e limitar pressões inflacionárias. No fim desta tarde, o dólar recuava cerca de 1 por cento frente ao peso mexicano.


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