Comercializadoras de energia ignoram crise e dobram estrutura com queda no preço

Consultorias especializadas em gestão de energia elétrica e comercializadoras de eletricidade têm passado ao largo da crise que se abateu sobre a economia brasileira, com diversas empresas investindo para dobrar os quadros, ampliar a estrutura ou abrir filiais neste ano.

O movimento é impulsionado por um vigoroso crescimento do mercado livre de eletricidade, no qual os clientes buscam energia mais barata por meio de contratos negociados diretamente com os fornecedores, como usinas geradoras e comercializadoras.

Os preços desses contratos livres estão no menor nível em anos devido à menor demanda da indústria e às boas chuvas, que aumentam a oferta de geração hidrelétrica, enquanto as tarifas cobradas pelas distribuidoras de energia no mercado regulado subiram mais de 50 por cento apenas em 2015.

O mercado livre responde por cerca de 24 por cento do consumo de energia do país e movimentou cerca de 55 bilhões de reais em 2015, estimou a Abraceel, entidade que reúne investidores do setor.

As empresas do segmento estimam que esse mercado possibilita uma economia de cerca de 30 por cento nos custos com energia.

"Essa é uma das poucas, senão a única fonte de redução de custo que as empresas têm neste momento... estamos sentindo uma onda de migração muito grande e estamos capturando um pedaço disso. Nossa carteira de clientes sob serviço de gestão vai praticamente dobrar neste ano", afirmou à Reuters o sócio da comercializadora Compass, Marcelo Parodi.

Segundo a consultoria Dcide, os contratos livres de longo prazo para energia convencional estão 36 por cento mais baratos que em junho de 2015, enquanto contratos de geração renovável têm queda de 23,5 por cento ante o ano passado.

Essas cotações facilitam o trabalho das gestoras e comercializadoras, que têm como uma de suas principais atividades convencer novas empresas de médio e grande porte a comprar energia no mercado livre.

A comercializadora Comerc, que também dobrou o número de clientes desde o ano passado, agora amplia na mesma proporção o número de funcionários, além de apostar em filiais para atrair mais clientes.


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"A quantidade de pessoas que tínhamos praticamente dobrou, de 100 para perto de 180, e devemos chegar no final do ano com 200", afirmou o presidente da companhia, Cristopher Vlavianos.

As empresa abriu escritórios em Bento Gonçalves (RS), Campinas (SP), São José dos Campos (SP) e Manaus (AM).

A capital do Amazonas, inclusive, é vista como uma das novas fronteiras para o mercado, uma vez que a migração para contratos livres na região passou a ser permitida recentemente, após a conexão da cidade ao sistema elétrico interligado do país, e há grande presença local de clientes industriais, instalados na Zona Franca.

A Ecom Energia, que também abriu um escritório na capital do Amazonas, tem ampliado as equipes em sua sede em São Paulo e em uma filial em Florianópolis devido a um crescimento de cerca de 30 por cento a cada trimestre na carteira de consumidores.

"Os preços do mercado livre mais competitivos que os das distribuidoras fazem um grande diferencial para esse boom de migração... a gente acredita que isso deve perdurar pelos próximos dois a três anos, é um mercado cíclico", afirmou o sócio-diretor da empresa, Paulo Toledo.

O grupo Delta Energia, que atua em comercialização e gestão, compartilha o otimismo das outras empresas do segmento.

"O mercado crescendo do jeito que está... está na contramão. Se o país está falando em desemprego, o setor de comercialização é o único que não tem desemprego. Minha área comercial e de serviços praticamente dobrou", disse o diretor Geraldo Mota.

Renováveis em alta

Segundo Toledo, da Ecom, a atual movimentação no mercado livre é puxada principalmente por empresas de médio porte, como centros comerciais, hospitais, hotéis e médias e pequenas indústrias, que podem negociar contratos nesse setor desde que comprem energia de fontes renováveis.

O atual ritmo de adesão desses consumidores já tem puxado para cima os preços da energia renovável, que ainda assim continuam competitivos frente ao mercado regulado.

O prêmio cobrado para contratos renováveis em relação aos contratos convencionais cresceu 160 por cento entre o final de 2015 e junho deste ano, de 15 para 39 reais, afirmou a Dcide.

Segundo estimativa da Abraceel, se todas empresas com porte suficiente para migrar optassem pelos contratos livres, esse mercado poderia chegar a 46 por cento do consumo do Brasil, ante os cerca de 24 por cento atuais.

Com essa perspectiva, as comercializadoras e gestoras têm sugerido ao governo medidas para ampliar da oferta de energia nesse mercado.

Uma alternativa proposta pelas empresas é que distribuidoras possam vender sobras de energia em contratos livres, dado que as concessionárias viram a demanda dos clientes regulados cair dramaticamente em 2015 e neste ano.

Hoje as sobras das distribuidoras são vendidas no mercado spot a preços abaixo do custo, gerando perdas às elétricas.

"Haveria demanda se você possibilitar esse intercâmbio... seria importante, não faz sentido ter uma sobra física de energia sendo liquidada a preços perto de 60 reais. As distribuidoras poderiam estar fazendo contratos de longo prazo por 130 reais (energia convencional), 190 reais (energia renovável)", disse Parodi, da Compass.