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Em fevereiro, a produção da indústria brasileira voltou a cair, puxada pela retração dos setores de veículos e de máquinas e equipamentos, concentrados em São Paulo, e a retração arrastou os segmentos fornecedores de matérias-primas para a fabricação de peças e componentes.
Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), as quedas na produção de veículos automotores, de 25,1%, e de máquinas e equipamentos, de 24,6%, influenciaram os declínios de 20,9% das indústrias fornecedoras de produtos de metal, 16,1% das fabricantes de produtos de borracha e plástico e 15,7% do segmento de minerais não-metálicos.
A variação negativa da produção das montadoras e seus fornecedores foi a principal causa do tombo de 12,3% na indústria do estado. No País, o declínio atingiu 9,8%.
Os resultados de fevereiro agravam a crise crônica da manufatura, hoje com produção 14% inferior à de agosto de 2008, o mês anterior à quebra do banco Lehman Brothers e à propagação da crise. O recuo da indústria de bens de capital atingiu 38% no período, e o do setor de bens duráveis, 36%, segundo o IEDI.
Outros indicadores confirmam o descenso do setor. Em 1980, a indústria brasileira era a sétima do mundo, com 2,7% da produção global. Hoje, está em décimo primeiro lugar e representa 1,6% do total mundial. A participação nas exportações manufatureiras mundiais, de 0,6%, corresponde à 32ª posição no ranking.
Os efeitos da deterioração não se circunscrevem ao setor. “A indústria sofre uma perda de conhecimento. É um setor fundamental ao crescimento do Brasil e precisa retomar a produtividade e a produção de conhecimento para liderar o crescimento da economia”, destacou Jorge Lopez, presidente da 3M do Brasil, em encontro promovido pela Amcham em São Paulo sobre a economia brasileira em 2016.
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Entre todas as agruras da indústria, nenhuma supera a do câmbio valorizado, principalmente, desde os anos 1990. O câmbio, concordam vários economistas, foi o causador da queda da indústria e do PIB brasileiros nos últimos 20 anos. Nada há de errado, substancialmente, com a economia brasileira, que nos últimos 60 anos cresceu a uma taxa média de 4,7% ao ano, concordam vários economistas. O que puxou o PIB para baixo foi o declínio da indústria.
A valorização do real, a partir dos anos 1990, retirou a capacidade de exportação do setor, favoreceu uma inundação de manufaturados importados e causou a atrofia de inúmeras indústrias. Desde 1986, usa-se o câmbio para controlar a inflação. No ano passado, a desvalorização permitiu corrigir uma parte da distorção e a indústria voltou a exportar.
A estabilização do câmbio valorizado é central, mas a retomada exige ampliar substancialmente o escopo e repensar o conjunto da economia, conforme mostra a história bem-sucedida dos países avançados e do Leste Asiático. A manufatura demanda um conjunto sincronizado de políticas macroeconômica, de competitividade e comercial. O Brasil atua nas três frentes, mas a harmonia entre elas é insuficiente devido à ausência de uma estratégia industrial articulada no papel de força direcionadora comum.
A harmonização das políticas macroeconômica, industrial e comercial deve articular-se com a participação nas cadeias globais de valor, conjuntos de empresas de diferentes países envolvidas nas diversas etapas de produção e comercialização de bens e serviços responsáveis pela maior parte das transações comerciais internacionais.
Apesar de quase excluído desses arranjos globais, o País tem condições que nem a China nem o México possuem para melhorar a sua posição nas cadeias, avaliaram Timothy Sturgeon, do Massachusetts Institute of Technology, e Gary Gereffi, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos. Eles dirigiram a pesquisa A Indústria Brasileira e as Cadeias de Valor, de 2014, contratada pela Confederação Nacional da Indústria, com diagnóstico e propostas detalhadas para as cadeias das indústrias aeronáutica, de material médico hospitalar e de eletroeletrônicos. As recomendações ainda não foram colocadas em prática, segundo a CNI.
Algumas iniciativas buscam reforçar cadeias produtivas. A Associação Brasileira da Indústria do Plástico e a Braskem desenvolveram um programa intitulado PicPlast para promover as exportações, a competitividade e a valorização das vantagens do uso do plástico. O setor tem 11,5 mil empresas, 93% delas de pequeno ou médio porte, com 326 mil trabalhadores. A iniciativa proporciona “ganhos estruturais e de competitividade”, segundo José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast.
A Braskem facilitou as condições de acesso à venda incentivada para as exportações às empresas com interesse em disputar o mercado externo. Desde 2013, foram investidos 82 milhões de dólares em 66 mil toneladas de resina destinadas à exportação. O setor de produtos de plástico exporta 5% da produção, mas tem potencial para atingir 20%, segundo Roriz Coelho.
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