Investimento menor prolonga recessão

Queda na taxa de investimento para 18,2% do PIB reduz a capacidade de recuperação da economia do País.

O cenário político conturbado, as investigações da Operação Lava Jato e a falta de horizonte para a retomada na atividade econômica fizeram os investimentos tombarem 14,1% em relação a 2014, arrastando a economia para baixo. Com a taxa de investimentos em 18,2% do Produto Interno Bruto (PIB), ante 20,2% em 2014, a capacidade de crescimento da economia diminui, prolongando a recessão, dizem especialistas.

Para o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, a redução do crescimento potencial (também classificado por economistas como “produto potencial”, que é a taxa com a qual uma economia pode crescer sem gerar desequilíbrios, como inflação), para estimados 1% a 1,5%, torna o quadro ainda pior, pois será mais difícil sair da recessão.

Há cerca de dez anos, Régis Bonelli, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), calculava o crescimento potencial em torno de 3,5%, em artigo escrito com o economista Edmar Bacha, um dos formuladores do Plano Real. Agora, Bonelli acaba de reduzir sua estimativa para de 2% a 2,5%. “Piorou muito”, disse.

Ainda assim, a estimativa atual, que vale para a próxima década, parte da premissa de alguma recuperação da taxa de investimento para a casa de 20% do PIB e um aumento na eficácia dos aportes.

Segundo Bonelli, projetos arrastados, como o Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), da Petrobrás, ou usinas eólicas que ficaram paradas depois de prontas por falta de linhas de transmissão consomem bilhões em investimento, mas não geram produção.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os componentes da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), os investimentos em máquinas e equipamentos recuaram 26,5% em 2015, enquanto os aportes na construção civil caíram em 8,5%.

Na avaliação da a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, existem também questões estruturas que levam a piora do PIB potencial brasileiro. “A queda de ganhos de produtividade nos últimos anos, fruto do intervencionismo estatal, e a demografia menos favorável, com crescimento mais lento da população economicamente ativa contribuem para a queda do PIB potencial”, diz.


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Na construção civil, o cenário de baixa confiança e poucos investimentos afasta perspectivas de recuperação, segundo executivos do setor. “O problema é que ainda não vemos o fundo do poço”, disse o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo, José Romeu Ferraz Neto.

Queda persistente. A FBCF vem caindo persistentemente desde o terceiro trimestre de 2013, na comparação com o trimestre anterior. Segundo o IBGE, tanto os investimentos em máquinas e equipamentos quanto em construção civil derreteram em 2015. Consequentemente, a indústria de transformação encolheu 9,7% no ano, pior queda desde 1996, e a construção caiu 7,6%, puxando o PIB da indústria para um recuo de 6,2%, também o desempenho mais negativo em uma década.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) ressalta que a trajetória da Formação Bruta de Capital Fixo sugere uma estabilização do ritmo de queda em patamar ainda acentuado, em torno de -4,5%.

“Períodos longos de queda do investimento são preocupantes porque não apenas comprometem a capacidade futura de produção como também contribuem para a obsolescência da estrutura produtiva do país. Como agravante, o declínio da formação bruta de capital fixo em 2015 foi muito maior do que em 2014 especialmente em função da retração de 26,5% do investimento em máquinas e equipamentos”, assinalou o instituto. (Colaboraram Daniela Amorim e Luiz Guilherme Gerbelli)


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