Fonte: Valor Online - 16/07/07
Não vai adiantar muito os empresários e o governo brasileiro protestarem contra a sobretaxa de US$ 0,54 por galão de etanol (álcool) importado imposta pelo governo americano. Ela veio para ficar e, segundo o diretor de Comercialização e Despacho de Energia Renovável do Departamento de Energia dos EUA, Brad Barton, em entrevista exclusiva ao Valor, o objetivo é evitar que o governo americano subsidie a produção estrangeira de etanol, uma vez que ele paga US$ 0,51 por galão do produto comprado por suas empresas.
O subsídio tem como finalidade estimular as empresas de petróleo a comprarem energia renovável de produção doméstica. Barton foi cuidadoso ao responder sobre o assunto, que não é especificamente da sua área. Quanto à longevidade da sobretaxa, disse que é um assunto para o Congresso americano ou para o futuro presidente do país. E não quis opinar sobre a possibilidade de danos trazidos pela sobretaxa aos objetivos definidos pelos governos do seu país e do Brasil de pesquisarem e produzirem conjuntamente etanol.
Barton esteve na semana passada no Brasil pela terceira vez desde a visita do presidente George W. Bush, em março. Suas viagens fazem parte do esforço para implementar o acordo de cooperação assinado por Bush como o presidente Lula na área da pesquisa e produção de biocombustíveis. Na quinta, ele esteve na Petrobras, em reunião com o diretor da área de Gás e Energia da estatal, Ildo Sauer, e outros executivos da empresa, além de técnicos do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes).
Os americanos estão interessados na estrutura de comercialização da Petrobras. Também querem conhecer as pesquisas da empresa com a produção de etanol a partir da lignocelulose, nome técnico das matérias-primas da biomassa que não competem com a produção de alimentos, como bagaço de cana, palha de milho, de trigo, folhagem, aparas de madeira e outras. Barton veio ao Brasil acompanhado do Laboratório Nacional de Energias Renováveis dos EUA, Dan Arvizu.
O governo americano está investindo pesado na tecnologia da lignocelulose para começar a produção de etanol dessa origem em escala comercial já a partir de 2010 ou 2011. Um programa de US$ 1,1 bilhão para construir as seis primeiras refinarias em escala comercial, cada uma capaz de produzir 80 milhões de litros de etanol por ano, está sendo tocado por seis empresas, contando com uma parcela de US$ 400 milhões do Departamento de Energia.
De acordo com Barton, a meta do governo americano é de alcançar em 2017 uma produção total de 35 bilhões de galões (cerca de 135,5 bilhões de litros) por ano de etanol, dos quais um máximo de 15 bilhões de galões (cerca de 56,8 bilhões de litros) virão do milho, a fonte básica da produção atual. O restante viria de lignocelulose cujo potencial de produção é de 60 bilhões de galões (227 bilhões de litros) por ano, segundo Barton.
Para se ter uma idéia do gigantismo da meta americana para 2017, o Brasil, primeiro país do mundo a investir pesado na produção de etanol combustível, deverá fechar 2007 com uma safra de aproximadamente 22 bilhões de litros. Barton disse que a forma de o governo americano desestimular o crescimento da produção de álcool de milho no seu país, que vem provocando o aumento dos preços de toda a cadeia alimentar derivada do cereal, é apoiando apenas os projetos para produzir à base de lignocelulose. Os americanos querem que a bioenergia corresponda a 15% do seu consumo em 2017 e a 30% em 2030.
O emissário do governo americano organizou na sexta-feira um seminário fechado com pesquisadores brasileiros, de empresas e da academia para discutir, entre outras coisas, a padronização do álcool combustível de modo a torná-lo uma commodity global como o petróleo. Foi discutida também a realização conjunta de um trabalho que comprove afirmação dos brasileiros de que o país possui terras suficientes para produzir grande quantidade de biocombustíveis sem causar damos ambientais.
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