JAC Motors revê projeto de fábrica brasileira

Companhia anuncia montagem do T5 e busca se adequar ao Inovar-Auto.

A JAC Motors enfim jogou a toalha do plano de construir fábrica para 100 mil carros por ano no Brasil. O projeto anunciado em 2011, que se arrasta desde então sem qualquer evolução, foi readequado. Agora a companhia confirma que pretende apenas montar veículos no Brasil a partir de kits importados da matriz chinesa, sem a pretensão de instalar linha de produção completa.

A planta terá capacidade para 20 mil unidades anuais, com início da operação previsto para o primeiro trimestre de 2017 com o utilitário esportivo T5. “Com volume menor, tivemos de abandonar a ideia de produzir carro barato e buscar melhor economia de escala com um SUV”, esclarece Eduardo Pincigher, diretor de assuntos corporativos da empresa no Brasil. Assim como o plano anterior, a unidade será instalada na Bahia. A empresa ainda pondera se vai construir a estrutura necessária no terreno que já tem na cidade de Camaçari ou se o melhor é alugar um espaço já pronto em outro município. 

O T5 chega importado e começa a ser vendido antes da inauguração da unidade, em março deste ano, com preços que começam na faixa dos R$ 60 mil. O novo projeto demanda investimento de R$ 200 milhões, mais suave do que o aporte de R$ 1 bilhão necessário para o concretizar o plano anterior. Ao enxugar as ambições para a sua fábrica nacional, a empresa também alivia a burocracia envolvida no processo ao desfazer a sociedade com a matriz chinesa. “Por ser uma estatal, cada detalhe tinha de ser aprovado pelo governo chinês também. Isso atravancava o processo. Agora vamos conseguir andar mais rápido”, acredita Pincigher. 

Segundo ele, o negócio continuará amparado pela matriz da empresa, que garantirá boa parte da infraestrutura, como máquinas e projetos de engenharia, mas caminhará de forma independente. A saída da parceria chinesa também reflete o tombo do mercado nacional de veículos, que levou junto a operação local da JAC Motors. Em 2011, ano em que fez sua estreia no Brasil, a empresa vendeu 3 mil carros em seu primeiro mês cheio de atividades, com apenas dois modelos no portfólio, o hatchback J3 e o sedã J3 Turin. Na época a meta era alcançar vendas anuais de 35 mil veículos. As coisas, no entanto, não evoluíram como o esperado e em 2015 a empresa terminou o ano com pouco mais de 5 mil carros emplacados, apesar de ter oito modelos na gama. 


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O convidativo mercado brasileiro, que seria a porta de entrada da JAC Motors para o ocidente na visão dos executivos da empresa na China, perdeu boa parte de seu brilho. Pincigher aponta que a região permanece importante no cenário automotivo global, mas o potencial fica para o longo prazo. “Ainda temos uma relação de número de habitantes por veículo menor do que a da Argentina, um território enorme e, portanto, a expectativa de voltar a ser um dos maiores mercados do mundo no futuro”, diz. Ele aponta que a marca quer garantir seu espaço, firmando-se entre as médias e grandes empresas do setor em volume de vendas na região. 

Inovar-Auto ainda é desafio 

Por mais que a JAC Motors defenda o potencial do mercado brasileiro, o fato é que a empresa tem mais um bom motivo para seguir com o plano de montar carros localmente, ainda que de forma mais tímida. A companhia precisa cumprir o compromisso com o governo firmado quando se habilitou como investidora no Inovar-Auto, regime automotivo que entrou em vigor em janeiro de 2013. 

O programa impõe o adicional de 30 pontos porcentuais no IPI das empresas que não cumprirem algumas exigências, como atingir metas de eficiência energética. Além disso, a política industrial concede cota de 4,8 mil carros que pode ser importada anualmente sem a alíquota majorada. No caso das montadoras que se inscreveram com programas de investimento no Brasil, o Inovar-Auto concede crédito presumido de IPI para a importação de carros até que a produção local seja inaugurada. Este é um dos compromissos que podem ter influenciado a empresa a investir na montagem local mesmo com a queda do mercado.

“Temos feito reuniões com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para apresentar o novo projeto a eles e atender a todas as exigências”, conta Pincigher. Ele assegura que a companhia não tem preocupação com o crédito presumido de IPI, já que, com o volume de vendas mais baixo, a cota de importação de 4,8 mil unidades tem sido suficiente e não foi necessário recorrer ao volume adicional. 

Com o projeto mais enxuto, a empresa pretende se adequar a outra categoria do Inovar-Auto: a de fabricante com baixo volume de produção, restrita a empresas com capacidade produtiva de até 35 mil unidades por ano. A estratégia é igual a usada pelas marcas premium BMW, Audi e Jaguar Land Rover para montar automóveis localmente sem a necessidade de atingir índice de conteúdo nacional tão elevado nos carros.

Para se habilitar nesta categoria, no entanto, é necessário investir R$ 17 mil em ativos fixos por unidade prevista para a capacidade produtiva, o que no caso da JAC Motors daria R$ 340 milhões, montante superior aos R$ 200 milhões que a empresa reserva para a operação. Desta forma, ainda deve demorar alguns meses para que a empresa chegue a um consenso com o governo sobre o projeto de fábrica nacional. Na prática, o novo anúncio da JAC Motors dá um horizonte mais realista para a marca no Brasil, mas ainda deixa margem para dúvidas sobre o potencial que o plano tem de se concretizar.