Fonte: Valor Online - 13/07/07
A mineradora anglo-australiana Rio Tinto atravessou o caminho da Vale do Rio Doce ao fazer uma "oferta matadora" pela canadense Alcan, terceira maior produtora de alumínio do mundo. Segundo o Valor apurou, a Vale vinha se preparando para fazer até o final do ano uma oferta imbatível pela Alcan, como fez com a Inco. Para uma fonte do setor de mineração, a Alcan representaria uma integração perfeita aos projetos de alumina da Vale, além de ter como seu principal ativo contratos de longo prazo de energia barata.
Surpreendida com o movimento feito pela Rio Tinto, a mineradora brasileira ontem mudou substancialmente o tom de sua comunicação com o mercado. Acostumada a negar peremptoriamente várias possibilidades de aquisição, em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a companhia disse que "não está em negociações com a Alcan", mas complementou: "No entanto, isso não significa que a CVRD não possa considerar essa possibilidade no futuro, pois está sempre analisando oportunidades para reforçar seu posicionamento estratégico, o que pode, inclusive, envolver aquisição de ativos na indústria de mineração e metais".
Analistas e investidores notaram a mudança de postura da gigante brasileira. "A Vale não é de soltar comentários", disse Pedro Galdi, analista de mineração e siderurgia do ABN Amro. "Nunca fizeram uma sinalização dessas. Sempre diziam que não comentavam boatos. Ou mudaram o discurso ou há possibilidade ainda dela fazer uma oferta, pois esta é uma oportunidade pontual".
A admissão por parte da Vale de que pode considerar uma oferta pela Alcan no futuro reflete que ela está se preparando para o que muitos bancos consideram ser uma nova rodada de consolidação entre empresas de mineração. A Rio Tinto apenas deu a largada.
Dificilmente a Vale do Rio Doce poderá competir nesta oferta, pois, na avaliação de analistas, isso implicaria pagar entre 10% a 20% a mais do que foi oferecido pela Rio Tinto - US$ 38 bilhões -, com anuência de seu conselho de administração. Para se candidatar ao negócio, teria que colocar na mesa uma proposta de uns US$ 45 bilhões. Cerca de duas vezes e meia o que pagou pela Inco. Além disso, a Rio Tinto poderá aumentar sua oferta com ações.
Neste caso, a Vale poderia ter dificuldades por causa da estrutura de capital que tem hoje. A empresa tem duas classes de ações, com e sem direito a voto. Isso limita a sua capacidade de usar a emissão de novas ações para pagar por aquisições, já que um aumento de capital na empresa diluiria a participação dos atuais controladores na Valepar, holding que controla a Vale. Sem este recurso, a Vale é obrigada a financiar grandes aquisições apenas com dívida, atraindo o foco das agências de risco e investidores para seu nível de alavancagem. No momento, a companhia tem endividamento de cerca de US$ 17 bilhões. Apesar desta limitação, a empresa continua tendo amplo acesso a crédito entre bancos de primeira linha.
Se a Vale descartar a possibilidade de entrar numa guerra de ofertas pela Alcan, a Alcoa, gigante americana do alumínio, pode surgir como uma alternativa. Ao perder a compra da Alcan para a Rio Tinto, a Alcoa passou de caçadora a caça. Várias fontes consultadas pelo Valor notaram que o fato do CEO da Alcoa, Alain Belda, ser brasileiro pode ser um elemento facilitador das negociações e de integração cultural entre as empresas no caso de uma compra da americana. Para isso, teria de desembolsar no mínimo US$ 50 bilhões, avaliam analistas. E enfrentar a anglo-australiana BHP Billiton neste páreo. Segundo rumores de mercado, já considera fazer uma oferta pela Alcoa.
No cenário da mineração, ativos de alumínio e cobre são dados como os mais disputados nesta nova onda de fusões e aquisições, avaliam analistas. Os dois alvos maiores entre ativos considerados de classe mundial nestes segmentos são a Alcoa, no alumínio, e a Freeport-McMoRan Copper & Gold, no cobre e ouro, cujo valor é projetado entre US$ 35 bilhões e US$ 40 bilhões. As disputas neste segundo semestre prometem ser acirradas, pois a lista de caçadores inclui pesos-pesados - a Anglo American, a BHP Billiton, a anglo-suíça Xstrata e a brasileira Vale do Rio Doce.
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