Com Chaparral, Gerdau produzirá mais aço nos EUA do que no Brasil

Fonte: Valor Online - 12/07/07

Com a bilionária aquisição da Chaparral Steel, siderúrgica baseada no Texas, o grupo Gerdau passa a produzir mais aço nos Estados Unidos do que no Brasil. Com a incorporação da nova empresa, fruto de uma oferta de US$ 4,22 bilhões, 100% em dinheiro, a centenária fabricante brasileira fará mais de 10 milhões de toneladas de aço na terra de Tio Sam. No Brasil, o volume produzido alcançou em torno de 7 milhões de toneladas em 2006, podendo subir para perto de 8 milhões de toneladas neste ano.

A Chaparral adiciona capacidade de 2,9 milhões de toneladas ao portfólio da Gerdau no norte das Américas, o que inclui uma pequena participação de três usinas canadenses. Além de volume, afirma André Gerdau Johannpeter, presidente executivo do grupo desde janeiro, a siderúrgica agrega uma nova linha de produtos - os chamados aços estruturais, como barras e perfis pesados - e de maior valor agregado que os tradicionais vergalhões, usados em obras na construção civil.


"Nosso portfólio fica completo, oferecendo uma variada cesta de produtos, e nos permite entrar no mercado de construção não residencial e em alguns segmentos industriais específicos, como o automotivo", afirmou o executivo. A Gerdau passa a dominar 33% do mercado de aços estruturais, em segundo lugar, concorrendo com a líder Nucor e com a Steel Dynamics, em terceiro, e produtos importados. Esse tipo de aço vai representar 28% no mix de produtos da subsidiária americana, com base em dados de 2006.

A aquisição não faz a Gerdau mudar de posição no ranking americano, mas reforça sua posição de quarto maior produtor de aço, disputando espaço com a ArcelorMittal, a US Steel e a Nucor num mercado que movimenta além de 100 milhões de toneladas por ano. Porém, no segmento de aços longos, a sua especialidade, o grupo mantém-se como vice-líder mas já no calcanhar da Nucor. "Nossa participação de mercado nessa área deverá passar de 17% para 20% no mercado norte-americano", disse André.

Com a aquisição da siderúrgica texana, o grupo Gerdau reduziu expressivamente sua distância em relação à líder americana de aços longos, a Nucor, cuja capacidade instalada é de 11,4 milhões de toneladas, avalia Germano Mendes de Paula, professor-doutor da Universidade Federal de Uberlândia e especialista do setor. A capacidade da Gerdau sobe de 7,99 milhões de toneladas para 10,9 milhões após a incorporação das duas usinas da Chaparral.

O presidente da Gerdau observa que a operação é a maior já realizada pelo grupo. "Ela só confirma nossa visão de continuar sendo consolidador de ativos na siderurgia". A compra é a sexta efetivada pela Gerdau neste ano. Antes dela, comprou empresas no México, república Dominicana, Venezuela e Índia, além de um centro de serviços de aço na região de Las Vegas, EUA.

Com a Chaparral, a receita combinada da subsidiária Gerdau Ameristeel, que foi a empresa compradora da concorrente, salta de US$ 4,6 bilhões para US$ 6,2 bilhões e vendas previstas de 10,1 milhões de toneladas de produtos acabados neste ano.

Osvaldo Schirmer, vice-presidente executivo de finanças da Gerdau, ressaltou vantagens da aquisição, apesar do elevado valor pago, segundo avaliações do mercado financeiro. "As sinergias - de logística e operacional, ganhos de eficiência, governança (com uma única empresa aberta) - alcançarão US$ 55 milhões ao ano a partir de 2008 e poderão até dobrar.

André Gerdau lembrou que o preço pago por tonelada, de US$ 1,5 mil por tonelada (três a quatro vezes o que pagou nas aquisições anteriores), representa o novo momento da siderurgia mundial, de encarecimento de ativos, e também a especificidade da Chaparral, fabricante de aços de maior valor agregado. As margens Lajida (resultado operacional) da companhia adquirida são superiores da Ameristeel - 25,9% contra 18,2% nos resultados do primeiro trimestre deste ano.


A Chaparral, se concretizada a operação de compra até o fim do ano, chegará sem dívida nenhuma para sua compradora. Pelo contrário: em fevereiro exibia endividamento negativo de US$ 66 milhões (mais caixa que passivo), ante dívida líquida de US$ 219 milhões da Ameristeel no final de março.

A operação, considerada ousada pelo seu valor bilionário e pago em dinheiro, aponta o Gerdau como um forte competidor na consolidação. Foram cinco ativos de produção de aço neste ano, num raio de ação vai da Argentina à Índia, passando pelo cobiçado mercado norte-americano. A bilionária aquisição da Chaparral Steel, com operações nos Estados do Texas e Virginia, posiciona a companhia como a mais agressiva do Brasil no processo de internacionalização. Em valor aportado no exterior, só perde para a Vale do Rio Doce, que gastou US$ 18 bilhões pelo controle da canadense Inco no ano passado.

Até o fechamento da operação de compra da Chaparral, ocorrida no início da noite de terça-feira, a Gerdau havia desembolsado, desde 1981, US$ 3,55 bilhões, sem incluir dívidas das empresas, em ativos na América do Norte, América Latina, Europa e Índia. A aquisição da siderúrgica americana elevou esse valor para em torno quase US$ 8 bilhões. No Brasil, no mesmo período, o montante investido alcançou US$ 5,5 bilhões, conforme dados informados pela companhia.

A escala internacional começou vagarosa e tímida em 1980, com a incorporação da Laisa, pequena laminadora uruguaia. Entretanto, o pé no acelerador desse movimento, tendo à frente Jorge Gerdau, desde janeiro só na presidência do conselho, se deu a partir de 1999. Naquele ano, a Gerdau fez sua primeira compra de ativos nos EUA - a Ameristeel. A partir de 2004, com o acirramento do processo de consolidação da siderurgia no mundo, o grupo passou a focar alvos em outros países da América Latina. Desde então, entrou na Colômbia, Peru, México, República Dominicana e Venezuela. A estratégia, explica André Gerdau, é operar para atender a demanda dos mercados internos desses países, aproveitando o aumento do consumo por conta do crescimento econômico na região. "Nesses países, e nos EUA, temos maior domínio do mercado, da cultura, da língua e pessoal capacitado. Nos EUA estamos há nove anos e no Canadá desde 1989. É o contrário da Índia, onde estamos chegando, num primeiro momento com parceiros locais."

O apetite do grupo, diz André, mantém-se firme. Não vai desacelerar com o peso da bilionária aquisição da Chaparral, financiada pelo banco JP Morgan até novas operações financeiras para tornar o endividamento menos pesado. A estratégia do grupo "estar no jogo" dessa corrida mundial para garantir posição entre os 15 maiores do mundo, disputando espaço com a ArcelorMittal, a indiana Tata, as russas Evraz e Severstal, a Baosteel e outros grupos chineses e algumas companhias da Europa.

"Nossa estratégia é crescer em aços longos, de olho em usinas de aços planos, na América do Norte e outras regiões, com foco em rentabilidade para o acionista", afirma.

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