Rebaixamento do Brasil impõe novos problemas a Petrobras e outras tomadoras de crédito

O rebaixamento pela Standard and Poor's do rating do Brasil para grau especulativo aprofundará a dificuldade de algumas empresas que são grandes tomadoras de financiamentos e já se deparam com dificuldades perante vários credores e com a recessão econômica mais acentuada em 25 anos.

Investidores impedidos de possuir bônus com grau especulativo podem se desfazer de cerca de 20 bilhões de dólares em dívida brasileira se uma segunda agência de classificação de risco seguir a medida da S&P e tirar o grau de investimento brasileiro, disse o estrategista da JPMorgan Securities Pedro Martins.

Até semana passada, 37 companhias estavam prestes a ter nota reduzida pelas agências S&P, Moody's ou Fitch, segundo dados da Thomson Reuters. Isso torna o Brasil o país com maior número de "anjos caídos", ou companhias que estão prestes a perder o grau de investimento, entre outros países emergentes neste ano.

Para tomadoras de empréstimos de grande porte como a Petrobras, mesmo o impacto de curto prazo da decisão da S&P pode ser significativo, especialmente com a turbulência do rebaixamento sobre os mercados de câmbio e ativos de risco.

A Petrobras enfrenta o peso de cerca de 140 bilhões de dólares em dívida - maior patamar de qualquer petroleira global - e seus custos de financiamento subirão enquanto os termos de refinanciamento também ficam mais duros, disseram investidores.

"Isso pode muito bem representar o fim de uma era na qual o governo e companhias tomavam financiamentos baratos em um ritmo exuberante", disse Alexandre Pavan Povoa, que administra 400 milhões de reais em ativos para a Canepa Asset Manaegement, no Rio de Janeiro.

O Brasil obteve ratings de grau de investimento em 2008, solidificando sua emergência como um motor econômico que se beneficiava do boom global de commodities e da demanda crescente da China.

Durante esse período, a Petrobras, a Vale, bancos e indústrias pagavam custos de financiamento de cerca de 2 pontos percentuais acima dos rendimentos comparáveis do Tesouro norte-americano.


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Esses dias são parte do passado. Para a Petrobras, o spread agora é de mais de 6 pontos percentuais, enquanto o da Vale é de mais de 3 pontos percentuais.

Neste ano, as ofertas globais de bônus de empresas brasileiras já caíram mais de 80 por cento, para cerca de 5,7 bilhões de dólares, segundo dados do Credit Suisse.

Esse número agora pode cair mais, à medida que fundos se esquivam dos emissores menos confiáveis do Brasil e companhias mantém distância dos mercados de dívida antes de um esperado aumento do juro nos Estados Unidos.

Além de tirar do Brasil o grau de investimento, a S&P sinalizou que pode colocar o país ainda mais para dentro do território especulativo, ao manter a perspectiva negativa para a nota de crédito brasileira, o que significa que um novo rebaixamento pode ocorrer no curto prazo.

A medida da S&P provavelmente colocará dificuldades adicionais sobre os esforços de refinanciamento da operadora de shoppings General Shopping Brasil, que suspendeu nesta semana um pagamento de cupom sobre 150 milhões de dólares em bônus subordinados perpétuos, e sobre o banco de médio porte BMG, que anunciou a intenção de recomprar alguns de seus bônus mais caros.

"O humor já estava ruim. Esse rebaixamento tornará as coisas piores", disse um membro de um banco de investimento especializado na subscrição de bônus à Reuters pedindo para não ser identificado.

Mercados

Uma pesquisa informal junto a clientes brasileiros do Goldman Sachs no fim da quarta-feira (09) mostrou que eles esperam que o real caia até 5 por cento ante o dólar nesta quinta-feira e que o rendimento dos juros futuros e os custos de garantia da dívida soberana do Brasil contra um calote vão subir.

"O rebaixamento já estava precificado... mas esperamos que a reação vá além disso por conta da demanda reprimida por hedge corporativo e do humor já ruim do mercado", escreveu Drausio Giacomelli, estrategista-chefe de renda fixa para a América Latina no Deutsche Bank Securities, em nota a clientes.

Martins, do JPMorgan, estima que, para cada ponto percentual adicional em custo de financiamento, o lucro líquido de Petrobras e Vale pode cair cerca de 15 e 18 por cento, respectivamente.

Com 51 bilhões de dólares em bônus em circulação, a Petrobras é a maior tomadora corporativa de financiamentos do Brasil, seguida pelo estatal Banco do Brasil, com 16 bilhões de dólares. A Vale tem cerca de 15 bilhões de dólares em bônus.

A diferença entre o rendimento médio pago por um tomador de empréstimo corporativo brasileiro e o título do Tesouro dos EUA comparável está atualmente no maior nível dos últimos quatro anos, seguindo o índice LACI, do Credit Suisse. Oito dos 15 bônus de companhias da América Latina com pior performance acompanhados pelo Credit Suisse durante a semana finda em 2 de setembro eram brasileiros.