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A economia brasileira entrou em recessão técnica oficialmente ao encolher mais do que o esperado no segundo trimestre, com contração da indústria, serviços e agricultura, assim como queda nos investimentos e consumo das famílias, pavimentando ainda mais o caminho para o país fechar 2015 com o pior desempenho da atividade em 25 anos.
Entre abril e junho, o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 1,9 por cento sobre os três meses anteriores e caiu 2,6 por cento na comparação anual, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (28).
Pesquisa Reuters apontava que a economia teria queda de 1,7 por cento entre abril e junho frente ao trimestre anterior e de 2 por cento sobre um ano antes.
O resultado de abril a junho foi o pior desde o início de 2009, auge da crise financeira global, tanto na base anual quanto trimestral. Também foi o segundo período de três meses consecutivo de contração no Brasil, depois da queda revisada de 0,7 por cento no primeiro trimestre deste ano contra o período imediatamente anterior.
"O consumo já não é mais o motor de crescimento pois as pessoas estão começando a se ajustar à realidade..., estão pisando no freio. Estamos lidando com muito mais desemprego e confiança mais baixa", afirmou o economista-sênior do BESI, Flavio Serrano.
Segundo o IBGE, no trimestre passado, o consumo das famílias teve o pior resultado em mais de 14 anos, com queda de 2,1 por cento sobre janeiro a março. Foi o segundo período seguido de contração, depois de queda de 1,5 por cento no primeiro trimestre.
"O consumo das famílias reflete uma deterioração do emprego e da renda no país. Há ainda encolhimento do crédito, aumento da inflação e os juros estão mais altos", afirmou a coordenadora da pesquisa de PIB do IBGE, Rebeca Palis.
Ainda segundo o IBGE, o consumo do governo foi exceção aos números negativos, com crescimento de 0,7 por cento no período.
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O cenário econômico brasileiro não podia ser pior, com atividade encolhendo e desemprego crescente e inflação elevada--hoje, acima de 9 por cento em 12 meses, muito além do teto da meta do governo, de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Pelo lado da oferta, o desempenho também foi sofrível, atingido em cheio pela falta de confiança e os sinais de perda de fôlego da China, uma dos principais parceiros do país, podem piorar ainda mais esse quadro daqui para frente.
Pesa ainda a grave crise política e fiscal, que colocou em risco o selo de bom pagador do país. A presidente, Dilma Rousseff lida com taxas de aprovação em mínimas históricas e enfrenta resistência política às medidas de austeridade que têm o objetivo de salvar a nota de grau de investimento do país.
Segundo o IBGE, o setor industrial encolheu 4,3 por cento contra janeiro a março, pior momento desde o primeiro trimestre de 2009. Já a agropecuária caiu 2,7 por cento no mesmo período e os serviços tiveram retração de 0,7 por cento.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimentos, despencou 8,1 por cento no segundo trimestre ante o período anterior, também o pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2009.
Pela pesquisa Focus do Banco Central, que ouve semanalmente uma centena de economistas, a projeção é de que o PIB encolherá 2,06 por cento neste ano e 0,24 por cento em 2016. Se confirmado o resultado de 2015, será a pior recessão do país desde 1990.
O IBGE manteve a conta de que o país cresceu apenas 0,1 por cento em 2014, comparado com 2013.
Ajuda externa
Com a alta do dólar em relação ao real, o setor externo teve uma participação positiva na economia, mas não deve repetir o feito daqui para frente diante do novo cenário chinês, com sinais de desaceleração da segunda maior economia do mundo.
Segundo o IBGE, as exportações cresceram 3,4 por cento no trimestre passado, sobre o período imediatamente anterior, e 7,5 por cento na comparação anual.
Poucos motores externos de crescimento ainda existem agora
que a demanda chinesa por matérias-primas brasileiras desacelerou e os preços das commodites caíram, ofuscando a vantagem cambial dos produtos brasileiros. Neste ano, até a véspera, o dólar já subiu 33,63 por cento sobre o real.
"O resultado do PIB só não foi pior porque a gente teve contribuição razoável do setor externo. Deu ajuda bastante importante", afirmou a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thais Zara, acrescentando que o PIB teve contribuição de -5,2 por cento da absorção doméstica e de +2,7 por cento do setor externo, na comparação anual.
Ele informou ainda que vai piorar sua projeção para a queda do PIB deste ano, que está em 2 por cento.
(Reportagem adicional de Caio Saad, no Rio de Janeiro)
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