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As máquinas paradas no polo siderúrgico de Marabá, no sudeste do estado, estão preocupando moradores, autoridades e trabalhadores do setor. Um dado alarmante se refere ao número de empregados, que caiu de 10 mil pra 300 operários.
O complexo foi criado no fim dos anos 80, para transformar minério de Carajás em ferro gusa, a principal matéria prima do aço. Na época, 10 empresas se instalaram. "O movimento era muito grande, ônibus saindo, ônibus chegando, carretas e carretas. Muita gente na guarita atrás de emprego e o patrão não dizia não, só dizia sim", diz o metalúrgico desempregado Neto Lima.
Nos últimos seis anos, nove fecharam as portas. Uma demitiu 800 trabalhadores em 2015.
"Meu encarregado falou que estava tendo redução", diz o trabalhador Elisvan Vieira, também desempregado. "O pior de tudo agora é tantos trabalhadores a mercê. O que eles sabem produzir é ferro. Onde vamos colocar esse pessoal?", questiona Neiba Dias, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Pará.
Segundo analistas, a decadência no setor se deve à duas razões: a primeira foi a crise financeira mundial de 2008. Os Estados Unidos, principal comprador do ferro gusa paraense, reduziu drasticamente as importações, passando a produzir aço com sucata e, com isso, as exportações para os norte-americanos caíram 80%. A alternativa era concentrar as vendas para a China, mas os asiáticos também investiram na produção de matéria prima por conta própria, abrindo mão da produção paraense. Em 2014, as exportações para os chineses despencaram para 0.
Além do fator econômico, as siderúrgicas ainda enfrentaram graves consequências por cometerem crimes ambientais. Em 2011, o Ibama multou as três maiores empresas do polo industrial em R$ 284 milhões. Segundo o Instituto, o carvão vegetal usado por elas veio de áreas de desmatamento ilegal no Pará. Além do prejuízo com as multas, as companhias só poderiam voltar a funcionar se usassem carvão de reflorestamento. Apenas uma delas fez essa mudança e hoje está na ativa. A indústria reconhece que a produção sustentável de carvão nunca foi uma preocupação no polo.
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"Os empresários foram convidados a vir, incentivados a instalar, investir na região, porém não se colocou isso como condição na época. Se tivesse sido colocado como planejamento, ordenamento da atividade, não tenho dúvida que o cenário era outro. As indústrias teriam suas fontes de matéria prima para poder gerar o carvão de forma sustentável e legalizada", afirmou o membro do Conselho de Meio Ambiente da Fiepa, Deryck Martins.
Segundo o Governo do Pará, parte dos trabalhadores demitidos pelas guseiras poderá ser aproveitada em duas fabricantes de aço em Marabá que estão ampliando a produção e devem gerar mais de mil empregos diretos até o fim deste ano. Sobre o polo de ferro gusa, a recuperação é mais difícil.
"Se o estado tem insistentemente debatido, dialogado, e até incentivado que as indústrias possam ter suas florestas plantadas, e aguardar um bom momento no mercado internacional para que as empresas possam retornar, mas não podemos depender de uma só atividade somente. O estado está apoiando no que for possível para que a gente possa ter outras atividades em Marabá", afirmou o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, Adnan Demacki.
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