Fonte: Valor Online - 06/07/07
As vendas de carros vão muito bem no Brasil. Mas o crescimento nas regiões afastadas dos centros urbanos são ainda mais impressionantes. Nos últimos sete anos, as vendas de carros de passeio de duas capitais (São Paulo e Rio) mais a região do ABC somadas registraram avanço de 12% enquanto as do país cresceram 58%. No mesmo período, os resultados de Norte e Nordeste mostraram um incremento de 121%.
Esse fatiamento do mercado interno foi feito pela Citroën. Última montadora a se instalar no Brasil, a empresa francesa dividiu o país a seu modo para buscar as regiões com maior potencial para nomeação de novos concessionários. Cada montadora tem o seu próprio arranjo territorial. Todas, porém, estão descobrindo um novo Brasil.
Cidades como São Paulo e Rio estão saturadas, com relação habitantes/veículo semelhante às médias do Primeiro Mundo. A demanda mais forte vem do Brasil da soja, da agropecuária, da plantação de cana-de-açúcar. E mais: a migração das vendas de veículos também acompanha a descentralização industrial.
Desde 1999, a participação do grupo de cidades que abrange São Paulo, Rio e ABC na venda nacional de automóveis caiu de 33,1% para 23,4%. No mesmo período, as fatia das cidades que abrangem Sul e Sudeste (com exceção das capitais São Paulo e Rio e do ABC) foi de 50,8% para 54,2% e a das regiões Norte e Nordeste foi de 16,1% para 22,4%. Entre 1999 e 2005, Norte e Nordeste aumentaram as vendas de carros em 84,7%, o dobro do que aconteceu em todo o país.
Na Volkswagen, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste somavam 23,8% dos volumes que a montadora distribuía no mercado nacional três anos atrás. Hoje a participação dessa parte do país chega a 31,2%. "Essas regiões estão acelerando mais que o Brasil", afirma o gerente nacional de vendas da Volks, Gustavo Schmidt.
A Volkswagen percebeu em cidades nordestinas como Fortaleza (CE) e Recife (PE) aumento na quantidade dos chamados "show rooms" - espaços que servem apenas para exibir os automóveis. Schmidt lembra que o luxo de instalar um show room era há até pouco tempo mais comum em concessionárias do Sudeste"
"O Brasil nos surpreende a cada dia, mas no Norte e no Nordeste o crescimento vai ser ainda mais forte e continuará acontecendo em índices superiores às médias nacionais", completa o executivo. Schmidt diz que carros mais simples, como o Gol, estão em falta nessas regiões
O empresário baiano Nilo Coelho Filho, proprietário de fazendas e outros negócios outrora mais rentáveis do que as revendas de veículos, comemora hoje a volta da rentabilidade com concessionárias. Proprietário do grupo Sanave, que representa as marcas Volkswagen, Audi e General Motors, acaba de abrir em Belém (PA) uma filial do grupo até aqui instalado na Bahia e Ceará.
Um mês depois da inauguração, a loja do grupo baiano em Belém, que leva a bandeira Volkswagen, não tinha mais carros para vender. "Os veículos que a montadora nos fatura hoje já estão todos vendidos", conta. O transporte dos carros das fábricas da Volks, instaladas no Sudeste, para Belém leva 25 dias. Coelho diz que estuda a instalação de mais lojas no Nordeste e Norte até o final do ano.
Na Ford, a equipe de marketing percebeu que no acumulado deste ano as vendas na região de Bauru (que abrange cidades próximas, incluindo algumas da região Centro-Oeste) e as do Nordeste já superaram o crescimento, também surpreendente, de todo o mercado nacional (25,7%). Na região de Bauru, somente até maio, o avanço ficou em torno de 39%.
Jorge Chear, diretor de vendas e marketing da Ford , aponta o bom momento para as regiões Nordeste e Centro-Oeste. "O crédito mais farto, com taxas de juros mais baixas, reflete mais rapidamente nas regiões onde as bases estavam mais fracas", afirma.
As últimas pesquisas da indústria automobilística sobre distribuição da frota nacional de veículos, baseadas em dados do Renavam, indicaram que hoje circulam em Goiás somente 3,1% dos veículos existentes no país, enquanto o Estado de São Paulo concentra 35,8% da frota. Para Chear existe ainda muito espaço para crescer e o crédito fácil vai alavancar ainda mais as vendas nas regiões menos saturadas.
A exploração dos novos mercado é feita pelos concessionários que já atuam nas regiões ou em localizações próximas. O grupo Liberté está em busca de uma área para erguer a segunda concessionária Citroën de Goiânia. A pecuária, agricultura e serviços têm impulsionado as vendas na região, segundo Sérgio Leão André, proprietário do grupo.
"O aumento no preço da arroba do boi trouxe mais dinheiro para o mercado de veículos", afirma o empresário. Foi numa festa de agropecuária na qual todos os carros expostos foram vendidos que a Citroën percebeu o potencial dessa região.
Agora, além do programa de avanço em regiões do Nordeste mais afastadas das capitais, como Feira de Santana (BA), Juazeiro do Norte e Petrolina (PE), a Citroën se prepara para abrir revendas no interior de São Paulo, onde percebe a força de alguns setores industriais . Hoje a marca francesa conta com 83 concessionários. Planeja ter 140 até 2010. Entre os novos nomeados, 70% serão em cidades do interior paulista. "O movimento para o interior hoje demonstra a força de uma marca", afirma Domingos Boragina, responsável pelo desenvolvimento da rede de concessionário Citroën.
A General Motors também começou a perceber a migração das vendas de veículos. "Depois de sofrer dois anos por conta da seca, o mercado do Rio Grande do Sul mostra agora um dramático crescimento", afirma Marcos Munhoz, diretor de vendas e marketing da GM. O mesmo acontece com Recife, segundo o executivo. "Regiões como a Bahia parecem ter acertado a mão no turismo e o interior de São Paulo vive bons momentos com a lavoura do álcool", destaca Munhoz.
"Existe uma disponibilidade brutal de crédito e isso empurra todo o país", diz Munhoz. O especialista de varejo automotivo Francisco Trivelato, concorda com o raciocínio. Para ele, é natural que as regiões com a base de vendas de carros mais fraca arranquem agora, com mais força, em um mercado aquecido. Para ele, as regiões agrícolas deverão mostrar ainda mais crescimento de demanda em 2007, "numa espécie de repique do crescimento das economias locais".
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