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A presidente Dilma Rousseff admitiu ontem que o modelo econômico adotado em seu primeiro mandato, com políticas de desoneração fiscal e crédito subsidiado, se esgotou. Ao lado do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a petista partiu em defesa do ajuste fiscal e reconheceu que as iniciativas do passado sobrecarregaram as contas públicas do País. Para a presidente, é preciso buscar novos instrumentos para evitar a desaceleração econômica e o aumento do desemprego.
"Nós esgotamos todos os nossos recursos de combater a crise que começou lá em 2009", disse a presidente, citando as medidas anticíclicas que marcaram a estratégia econômica formulada pela equipe do ex-ministro Guido Mantega. "Trouxemos para as contas públicas e para o Orçamento da União problemas que, de outra forma, recairiam sobre a sociedade e os trabalhadores. Agora, nós temos de usar outros instrumentos de combate. Continuamos combatendo para não trazer desemprego e baixa de crescimento estruturais e permanentes."
Durante a inauguração da primeira fase da expansão do terminal portuário do Rio, que contou com investimentos públicos e privados, Dilma voltou a comparar as medidas de austeridade a um ajuste "que todo mundo faz em casa quando há problema". A presidente destacou ainda que a mudança de rumo é importante para que o Brasil volte a crescer. "Melhorar as contas públicas permite que o governo melhore também o seu desempenho", disse.
Diante da virada brusca na direção da política econômica, Dilma tem intensificado o número de agendas públicas por todo o País. A medida é parte de um esforço do Palácio do Planalto para recuperar a popularidade da presidente, em meio a críticas ao ajuste fiscal, aos desdobramentos da Operação Lava Jato e à fragilidade da articulação política do governo com o Congresso Nacional.
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Mesmo sem discursar, a presença ontem (12) do ministro Joaquim Levy, que conduz o aperto fiscal, indicou que a presidente está comprometida com as medidas e tenta ganhar a confiança dos investidores no momento em que o País enfrenta dificuldades que, segundo Dilma, são "conjunturais".
O economista Armando Castelar Pinheiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), avaliou, porém, que atribuir a necessidade do ajuste apenas às políticas adotadas para enfrentar a crise cai mal entre os investidores. Para ele, as medidas são necessárias para consertar desequilíbrios causados por erros da política econômica. "A confiança na mudança é maior quando se reconhece o erro."
Outra dificuldade de Dilma é transmitir a ideia de que esse "sacrifício" é necessário e ganhar o apoio de seus eleitores e da sociedade em geral, disse o ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria Tendências, Gustavo Loyola. "Não sei se o discurso é suficiente para melhorar a avaliação que o governo tem nesse momento, que é bastante negativa. Há uma incoerência entre o que se está fazendo agora, que é necessário, e o que foi vendido em outubro nas eleições", afirmou.
Crítico do ajuste fiscal em curso, o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Luiz Gonzaga Belluzzo afirmou que o governo "ficou prisioneiro" das medidas adotadas após a crise e demorou a investir em infraestrutura, mas as medidas atuais podem deprimir ainda mais o já cambaleante crescimento do País. "Para mim, essa mudança de rumo ocorreu porque ela se sentiu acuada pelo terrorismo feito pelo mercado financeiro." Apesar de acreditar que um ajuste na economia é necessário, Belluzzo afirmou que Dilma tem sido "inábil". "Ela não ouve ninguém. Claro que precisa fazer arrumação, mas numa situação como essa tem de dialogar", criticou o economista. Para ele, a presidente deveria ouvir "as forças sociais que a apoiaram" nas eleições.
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