Graça Foster e cinco diretores da Petrobras renunciam, mas incertezas persistem

A Petrobras anunciou nesta quarta-feira (4) a renúncia da presidente Maria das Graças Foster e de cinco diretores, sem conseguir dissipar as incertezas sobre os rumos da estatal que está no centro de um escândalo bilionário de corrupção.

A saída da diretoria, que era amplamente esperada, acontece em meio às investigações da Lava Jato, operação da Polícia Federal que chegou à petroleira por sobrepreço em contratos de obras com participação de ex-funcionários, executivos de empreiteiras e políticos.

Em um curto comunicado nesta manhã, a Petrobras disse que novos executivos serão eleitos em reunião do Conselho de Administração na próxima sexta-feira.

A pressão sobre a diretoria que está de partida começou a crescer em novembro passado, com o atraso na divulgação do balanço do terceiro trimestre de 2014. Os auditores independentes se recusaram a aprovar os números pelas incertezas quanto aos impactos da Lava Jato no valor dos ativos da companhia.

A saída de Graça Foster, como ela prefere ser chamada, foi oficializada um dia após ela ter se encontrado com a presidente da República Dilma Rousseff, de quem é amiga pessoal, para apresentar novo pedido de renúncia, desta vez aceito pela petista.

Agora, o governo busca alguém para liderar a estatal que preferencialmente seja ligado ao setor de petróleo, segundo uma fonte do governo. Dilma quer definir ainda em fevereiro o nome para comandar a Petrobras e busca uma diretoria composta por nomes do mercado e da empresa, disse a fonte.

Na Bovespa, investidores e operadores digeriam o anúncio da renúncia, após as ações preferenciais da Petrobras terem disparado mais de 15 por cento na terça-feira, na maior alta diária em 16 anos diante de expectativas de mudanças na diretoria da estatal.

A resposta inicial à renúncia de Graça Foster foi bastante positiva no começo do pregão desta quarta, com as preferenciais chegando a subir quase 8 por cento. Mas os papéis devolveram os ganhos para registrar uma queda de até 4,4 por cento no pior momento dos negócios.


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Às 13h40, os papéis tinham variação positiva de 1,40 por cento, enquanto o Ibovespa subia 0,3 por cento.

O analista Leonardo Alves, da Votorantim Corretora, lembra que a troca de Graça Foster não colocará um fim a todos os problemas da Petrobras. "Ao contrário, o novo presidente terá que enfrentar os mesmos problemas que ela já tinha que encarar: escândalos de corrupção, altas taxas de alavancagem e dificuldade para acessar mercados de capitais para levantar recursos", disse ele.

Em 29 de janeiro, a Petrobras deu uma sinalização do tamanho das baixas contábeis que poderá ter por fraudes envolvendo a empresa, ao declarar que a avaliação de 52 empreendimentos em construção ou em operação citados na Lava Jato estão com valor contábil mais de 60 bilhões de reais acima de seu valor justo.

Porém, ao divulgar o balanço não auditado para o período de julho a setembro de 2014, o Conselho optou por não ratificar a abordagem do valor justo para os ativos, por não concordar com a metodologia.

A dificuldade da atual gestão da companhia para quantificar os prejuízos com sobrepreço em contratos durante anos desgastou bastante a imagem da diretoria. Graça Foster afirmou na semana passada que os advogados independentes contratados pela empresa disseram que pode levar de um a dois anos para que a investigação de corrupção seja concluída.

Duas fontes disseram à Reuters na terça-feira (3) que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi acionado por Dilma para encontrar uma solução para o balanço da estatal, para que a metodologia adotada seja aceita por órgãos de controle dos mercados de ações.

Questões pessoais

Uma fonte próxima a Dilma disse à Reuters que questões pessoais foram determinantes para a saída da Graça Foster.

A presidente da Petrobras tem sido, para a opinião pública, um dos símbolos mais reconhecidos do difícil momento vivido pela estatal. No Rio de Janeiro, o rosto de Graça Foster está sendo estampado em máscaras de Carnaval. Na terça, um protesto foi realizado em frente à casa da executiva, em Copacabana.

A próxima diretoria terá a missão de apresentar o balanço do quarto trimestre auditado até o fim de abril, já com baixas contábeis necessárias devido ao escândalo de corrupção.

"A substituição da presidente da empresa por um executivo de grande experiência poderia trazer uma renovação das expectativas, mas não deve passar disso", avaliou a Planner Corretora.

"O que é realmente importante não é nome do novo presidente da empresa, mas o grau de liberdade que ele teria para fazer o que seria feito numa empresa privada quando esta se vê em situação semelhante a da Petrobras neste momento", acrescentou a equipe da Planner.

Sída coletiva

Uma fonte da equipe econômica que falou sob condição de anonimato disse que a saída coletiva pegou essa área do governo de surpresa e não tinha informação de nenhuma solução imediata.

A Petrobras não informou os nomes dos diretores que renunciaram ao cargo, além da presidente da empresa.

Mas uma fonte próxima à companhia revelou à Reuters que os diretores Almir Barbassa (Finanças), José Carlos Cosenza (Abastecimento), José Miranda Formigli (Exploração e Produção), José Alcides Santoro (Gás e Energia) e José Antônio Figueiredo (Engenharia, Tecnologia e Materiais) deixarão o comando da companhia junto com Graça Foster.

Os únicos que devem permanecer são João Elek Junior, recentemente empossado para a nova diretoria de Governança, Risco e Conformidade, e José Eduardo Dutra, diretor Corporativo e de Serviços.

Dutra foi senador pelo PT e presidiu a Petrobras no começo do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e depois a BR Distribuidora. Além disso, foi um dos coordenadores da campanha de Dilma nas eleições de 2010.

(Por Gustavo Bonato, Rodrigo Viga Gaier, Jeferson Ribeiro e Luciana Otoni; Reportagem adicional de Marta Nogueira e Guillermo Parra-Bernal)