Consultoria vê 2015 difícil para caminhões

Para a MA8, de Orlando Merluzzi, segmento andará de lado.

A MA8 Management Consulting Group estima um 2015 semelhante ao atual para o setor de caminhões, que deve ter entre 130 mil e 135 mil unidades emplacadas, segundo a Anfavea, entidade que reúne fabricantes do setor automotivo. 

Um aumento de volume tende a ocorrer no segundo semestre do ano que vem, “mas em ritmo moderado”, crê o presidente da consultoria MA8, Orlando Merluzzi, que viu como positivo o anúncio da nova equipe econômica do segundo mandato do governo Dilma Rousseff. 

Para Merluzzi, os primeiros sinais indicam um “tratamento de choque ortodoxo” e isso deve ser seguido de aperto monetário, dificuldade no crédito e aumento dos juros como forma de equilibrar as contas e segurar a inflação. Isso fará com que os empresários usem os primeiros meses do ano para observar o rumo da economia antes de tomar decisões. 

O consultor avalia que o mercado de caminhões refletirá a confiança dos setores produtivos do País, com sinais de recuperação no segundo semestre. No entanto, ele recorda que não haverá em 2015 nenhum fator capaz de impulsionar as vendas de caminhões. 

"Não deve haver expansão de negócios que demande mais caminhões nem o esperado recorde da safra agrícola afetará positivamente o setor, pois os preços das commodities agrícolas devem continuar caindo e o crédito ficará mais escasso”, afirma Merluzzi. 

A MA8 acredita que o Finame deve voltar logo, seja convencional ou PSI, com juros um pouco mais altos, dependendo de repasse do governo ao BNDES e também de regulamentação para os operadores. "Isso sempre atrasa um pouco a retomada, mas dessa vez o Finame não é o principal fator que afetará o setor de caminhões em 2015.” 

A consultoria destaca que 2015 deve ser marcado pela seletividade dos bancos na aprovação de crédito. 

Há um setor da indústria de caminhões que não depende do Finame e que representa cerca de 15% adicionais ao volume reportado pela Anfavea. São os caminhões semileves vocacionados com carroceria sobre chassi. “Esse segmento também enfrenta dificuldades na aprovação de crédito bancário e quem pode pagar à vista vai empurrar a decisão de compra mais para frente.” 


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Quanto à agricultura, a safra de grãos continuará em expansão. “Mas utilizar o argumento da safra recorde da agricultura para justificar um aumento de volumes no segmento de caminhões pesados em 2015 pode ser um equívoco”, destaca Merluzzi. A MA8 Consulting identificou que mais de 25% do frete no setor agrícola é contratado na hora da colheita por quem não tem estrutura para armazenamento de grãos e precisa movimentar sua safra. 

Ocorre que os preços das commodities agrícolas estão caindo e o Brasil tem déficit de armazenagem (silos) de aproximadamente 20% da safra, cerca de 40 milhões de toneladas. O agricultor tem de mandar a safra embora e isso ocorre em um cenário financeiro desfavorável para seus negócios, por causa da queda dos preços das commodities agrícolas.

De acordo com estudos da MA8, os produtores rurais hoje têm margens de lucro muito pequenas e incertezas econômicas também nos mercados externos, uma vez que países europeus e a própria China desaceleraram. Esse cenário afeta a decisão dos agricultores em fazer novos investimentos. 

“E se tiverem de decidir, provavelmente vão optar primeiro por silos para armazenagem e depois pelos caminhões.” Em adição a isso, muitos produtores agrícolas estão endividados e, com a redução da rentabilidade, a seletividade dos bancos para financiamento vai aumentar. “O resultado é que em 2015 não vai ter crédito fácil.”

No setor de construção civil e suporte aos programas de investimento das obras do governo, os estudos da MA8 apontam que quem tinha de comprar caminhões novos já comprou. "Dificilmente empresas que atuam neste setor vão comprar mais caminhões em 2015 além do ritmo regular de renovação.” O sinal mais positivo virá dos setores de distribuição e logística, que devem ter um pequeno crescimento, acompanhando o PIB. 

Para a consultoria, em caso de aprovação de um programa de renovação de frota, seu sucesso dependerá da concessão de crédito, algo ainda incerto para 2015.