Fabricante busca saída para queda de vendas

Apesar da expectativa de que o governo edite um programa de renovação do parque industrial brasileiro, ainda não há garantia de que haverá novas compras de máquinas.

Para lidar com uma queda que ultrapassa 16% no ano até setembro no consumo interno de máquinas e equipamentos, segundo último levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), as fabricantes no Brasil estão buscando formas mais imediatas de impulsionar as vendas, enquanto aguardam medidas de incentivo do governo.

A BMC-Hyundai oferece 25% de desconto nas compras. "O setor como um todo não só ficou mais lento, como todas as empresas estão mais conservadoras com investimento para renovação de frota", disse o presidente da empresa, Felipe Cavalieri.

O executivo admite que, não fosse o programa do governo de compra de máquinas, via Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), as vendas da BMC-Hyundai fechariam 2014 com queda de 5% na comparação com o ano anterior. Como a empresa ainda tinha entregas para fazer ao governo neste ano, no entanto, as vendas devem crescer 20%.

Apesar da expectativa de que o governo edite um programa de renovação do parque industrial brasileiro, ainda não há garantia de que haverá novas compras de máquinas. Além disso, no começo de dezembro acaba o PSI simplificado, que não exige aprovação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Nesse contexto, Cavalieri conta que tem estabelecido parcerias com bancos para jogar o prazo para primeiro pagamento das máquinas para o início de 2015.

A New Holland Construction e a Case Construction, marcas da fabricante de máquinas CNH Industrial, decidiram investir em seus programas de consórcio e aumentaram a disponibilidade de máquinas para serem arrematadas nas assembleias promovidas pela empresa. "Hoje o consórcio já representa mais de 10% das vendas da Case e, para 2015, esse trabalho deve ser reforçado ainda mais devido à incerteza em relação à política que está sendo divulgada pelo BNDES para o Finame", disse Carlos França, gerente de marketing.


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Mas apesar das quedas registradas, Nicola D'Arpino, vice-presidente da marca New Holland Construction para a América Latina, lembra que o clima de pessimismo se deve muito mais a uma frustração em relação à expectativa do que a um mercado propriamente ruim.

A ponderação é reforçada pelo presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema) e pelos dados da entidade. Em 2007, o mercado de máquinas de linha amarela comercializou 10,9 mil máquinas, segundo a Sobratema. Em 2013, o segmento atingiu seu pico, com mais de 33 mil máquinas comercializadas. Caso se concretize a expectativa de queda de 12,7% neste ano, ainda terá sido um mercado de 29,2 mil máquinas - mais que o dobro do tamanho que tinha em 2007, sendo que a linha amarela responde por mais de 40% do mercado de máquinas para construção.

"Todas as empresas de construção continuaram fazendo previsão de crescimento de mercado de 10%, 12% ao ano, mas o que acontece é que esse mercado se estabilizou. Havia uma expectativa muito alta e isso gerou um pouco desse mal estar do mercado", avaliou D'Arpino.

Tanto a Case Construction quanto a BMC-Hyundai trabalham com perspectiva de estabilidade nas vendas para 2015. No caso da Case, no entanto, a previsão não leva em conta as máquinas vendidas para o governo.

Mas ainda que tenham de enfrentar o mal que está sendo gerado pela queda do mercado na comparação com o ano passado, as fabricantes de máquinas no Brasil continuam apostando no potencial do mercado consumidor nacional a longo prazo.

Um estudo setorial da Sobratema divulgado ontem (12) prevê queda de 6% nas vendas de máquinas para o mercado de construção em 2014. A entidade trabalha com a estimativa de um mercado de mais de 67,7 mil máquinas neste ano, ante 72 mil comercializadas em 2013. A previsão é de que a linha amarela - onde se enquadram equipamentos de movimentação de terra - tenha queda de 12,7% nas vendas do ano, com o segmento sendo puxado pela redução na comercialização de retroescavadeiras da ordem de 42,6%.

O presidente da associação, Eurimilson Daniel, engrossa o coro dos que creditam o desempenho ao MDA. Segundo ele, a queda só não foi maior por conta do programa de compra de máquinas pelo ministério, que teria aumentado as vendas de motoniveladoras e pás-carregadeiras em 8,3% e 5,2%, respectivamente.

A expectativa da associação é de que o mercado inicie uma retomada a partir de 2016. Para Daniel, mesmo que o governo faça a "lição de casa", os frutos ainda não serão colhidos em 2015, mas há um otimismo quanto ao potencial do país no longo prazo. Ele atribui a previsão de retomada ao fato de que ainda há muito a ser feito no Brasil em termos de infraestrutura, o que gera demanda para o mercado de máquinas e equipamentos.