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Julho foi mais um mês de forte retração das vendas de veículos no país. Até terça-feira, a dois dias do fechamento do mês, o mercado mostrava queda de 14% ante o mesmo período de 2013, somando 261,7 mil unidades licenciadas, entre carros, caminhões e ônibus.
Em relação aos fracos números do mês passado, as vendas estão praticamente estáveis. Por enquanto, os emplacamentos mostram leve queda de 0,7% nessa comparação, mas a tendência é que julho ainda feche um pouco acima de seu mês antecedente por ter um calendário comercialmente mais longo, com três dias úteis a mais de venda.
Mesmo assim, o resultado aprofunda o saldo negativo acumulado pela indústria no ano. A queda das vendas, que estava em 7,6% no fechamento de junho, já chegou a 8,5%. Pouco mais de 1,9 milhão de veículos foram emplacados desde janeiro. Em 2013, o volume já passava de 2,1 milhões de unidades nessa época do ano. Agora, a diferença negativa em relação a 2013 chega perto de 180 mil veículos, ou o equivalente a quase duas semanas de negócios.
Assim como junho, o desempenho deste mês foi prejudicado pela Copa do Mundo na primeira quinzena. Como já era esperado, o Mundial reduziu o movimento nas concessionárias. Fora isso, as lojas fecharam as portas, em virtude de feriados decretados por cidades-sede, ou encurtaram o horário de funcionamento nos dias de jogos da seleção brasileira.
No segmento de carros de passeio e utilitários leves, as vendas caem 13,7% neste mês, comparativamente a um ano atrás. Já no mercado de caminhões, a reação esboçada entre abril e maio não se sustentou nos meses seguintes. Em julho, a queda dos veículos pesados chega perto de 19%, mostram os números preliminares.
Com o retorno dos consumidores que acompanharam a Copa, as montadoras esperam que a demanda comece a melhorar. A Anfavea, entidade que reúne os fabricantes de veículos, também manifestou otimismo com as medidas anunciadas recentemente pelo Banco Central (BC) para irrigar o mercado de crédito, como a liberação de depósitos compulsórios e a flexibilização na exigência de capital dos bancos nos financiamentos ao consumo.
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Apesar disso, a produção segue reduzida nas fábricas porque, mesmo que o mercado confirme a retomada, o setor está pressionado pelo excesso de estoques. A Ford vai afastar temporariamente - em regime conhecido como layoff - parte dos operários da fábrica de Taubaté (SP), onde são produzidas transmissões e os motores que equipam os modelos EcoSport, Fiesta e Focus. No momento, a empresa negocia com o sindicato da região o número de trabalhadores que entrarão no layoff.
O mesmo instrumento - já adotado, neste ano, por montadoras como Volkswagen, Mercedes-Benz e Peugeot Citroën para reduzir o excesso de mão de obra - está sendo negociado pela General Motors (GM) em São José dos Campos, também no interior paulista.
No layoff, contratos de trabalho são suspensos por até cinco meses, período no qual os funcionários ficam afastados da produção, passam por curso de qualificação e têm parte do salário bancada por recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A Ford já tinha dado férias coletivas aos operários de Taubaté em junho. Também chegou a abrir um programa de demissões voluntárias na fábrica. Apesar disso, a montadora segue negociando medidas para ajustar o ritmo de produção à queda tanto do mercado doméstico como das exportações, o que pode incluir novas férias coletivas e paradas da produção com desconto no banco de horas dos empregados.
Como muitas montadoras atribuem à falta de crédito a principal causa da derrocada no consumo de carros, as medidas do BC para dar maior liquidez ao sistema podem ser, na visão das empresas, o início de uma solução. Nas contas da Anfavea, as vendas do segundo semestre devem superar em mais de 14% o total da primeira metade do ano, o que reduziria para 5,4% a queda do resultado no acumulado dos doze meses de 2014.
Analistas, contudo, estão mais pessimistas e falam em queda de até dois dígitos do mercado. Eles consideram que os consumidores estão pouco propensos a trocar de carro porque anteciparam compras nos últimos anos. Também levam em conta o maior endividamento e menor confiança das famílias na economia.
Ou seja, enquanto a Anfavea avalia que o problema está no crédito, os analistas relacionam a crise a questões de demanda. Nesse caso, as medidas do BC tendem a ser menos efetivas. "Até o fim do ano, a situação será difícil. Com o pessimismo do mercado e a retirada de incentivos fiscais do governo, não vejo muita perspectiva de recuperação", diz Stephan Keese, sócio da Roland Berger.
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