Estoques vão ditar ritmo nas montadoras

Moan e outros dirigentes da indústria de veículos participaram de seminário promovido pela agência Autodata no parque tecnológico de Sorocaba (SP), para discutir as tendências do mercado até o fim deste ano.

Mesmo com a aguardada reação do mercado, as montadoras devem manter, pelo menos nos próximos meses, o ciclo de ajustes de produção porque precisam equilibrar os estoques. A avaliação foi feita nesta segunda-feira (21) por Luiz Moan, presidente da Anfavea, a entidade que abriga a indústria nacional de veículos, após participar de seminário no qual voltou a projetar um segundo semestre melhor do que foi o primeiro nas vendas de carros.

O executivo lembrou, porém que as fábricas seguem empenhadas em reduzir os estoques, que chegaram a nível equivalente a 45 dias de venda no fim do mês passado - o ideal seria um giro mais próximo de 30 a 35 dias.

Há expectativa de que o setor comece uma reação depois dos fracos resultados nos seis primeiros meses do ano, período no qual as vendas caíram 7,6% e a produção de veículos registrou quase 17% de baixa.

Superado um primeiro semestre marcado pelo excesso de feriados e pela paralisia do consumo durante a Copa do Mundo, há quem brinque nas rodas de executivos do setor que o ano começou na semana passada, na segunda-feira seguinte à final entre Alemanha e Argentina no Maracanã.

A previsão mais otimista foi traçada por Marcos Munhoz, vice-presidente da General Motors, que aposta na possibilidade de um crescimento ao redor de 2% nos emplacamentos do segundo semestre, comparativamente a igual período de 2013. "Com menos feriados e distrações, as vendas podem ficar parecidas ou até mesmo melhor [do que a segunda metade do ano passado]", disse Munhoz em sua participação no evento.

Como, sazonalmente, o segundo semestre costuma ser mais aquecido do que o primeiro, há confiança na indústria de que o período mais crítico da crise tenha ficado para trás. O otimismo também se sustenta no calendário comercial mais favorável, já que as concessionárias terão oito dias úteis a mais de venda em relação ao primeiro semestre do ano.


Continua depois da publicidade


Apesar disso, o setor deve continuar no vermelho neste mês. Segundo Olivier Murguet, presidente da Renault no Brasil, as vendas de veículos caminham para fechar julho com queda de 12%. Por enquanto, informou o executivo, os volumes estão 16% abaixo do resultado de um ano atrás. "Se o segundo semestre não for melhor do que o primeiro, será uma tragédia", afirmou Murguet, ao lembrar da fragilidade dos números de janeiro a junho.

Fabricantes de autopeças relatam que as encomendas das montadoras ainda não reagiram neste mês, mas, assim como seus clientes da indústria, projetam recuperação das vendas daqui para frente - mesmo que essa retomada seja insuficiente para "salvar" o resultado do ano.

Conforme Manoel Mota, diretor de vendas da Continental, a programação das montadoras para os meses de agosto e setembro mostra melhora em relação à fraca atividade registrada desde o mês passado, quando a produção caiu com as férias coletivas em diversas fábricas, além das paradas da Copa.

Apesar disso, o executivo disse que o ano deve fechar com queda entre 12% e 14% na produção de veículos no país. "Os números de 2014 nos fazem perder três anos de crescimento", disse Mota.

Nos últimos meses, sistemistas de autopeças cortaram a produção - com medidas como antecipação de férias e redução da jornada de trabalho com descontos no banco de horas - para se adequarem ao ritmo mais lento das montadoras.

Luis Pasquotto, presidente da fabricante de motores Cummins na América do Sul, espera que "as coisas parem de piorar" a partir de agora. Mesmo assim, ele projeta queda de 15% nas vendas de motores da empresa em 2014. "Atravessamos um período difícil e bastante volátil. Ainda não vemos uma luz no horizonte", disse.

Na indústria de pneus, a forte queda nas encomendas das montadoras tem sido compensada pelo bom desempenho no mercado de reposição. Mas Roberto Falkenstein, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Pirelli, disse que parte desse crescimento foi artificial porque as lojas estão com excesso de estoque, de forma que o mercado de reposição tende a estagnar até o fim do ano. "Por isso, temos esperança de que o mercado original [fornecimento a montadoras] volte."

Besaliel Botelho, presidente da Bosch, prevê crescimento de 5% a 10% na demanda das montadoras na comparação entre o segundo com o primeiro semestre. No entanto, ele ressalta que a recuperação só deve chegar aos fabricantes de autopeças após as montadoras normalizarem os estoques.

Durante o seminário, Moan voltou a cobrar a revisão na lei de retomada de veículos por consumidores inadimplentes, uma medida que vem sendo estudada com o sistema financeiro para melhorar o apetite dos bancos pelo crédito a automóveis.

Moan citou novamente a maior seletividade bancária nas aprovações de financiamentos entre os fatores que puxaram a queda das vendas no primeiro semestre. Também atribuiu o resultado à perda "generalizada" de confiança na economia, além do aumento de preços com a retirada de parte de descontos no IPI na virada do ano, junto com a obrigatoriedade de novos dispositivos de segurança.