Montadoras têm pior primeiro semestre em quatro anos

Confirmando as expectativas de analistas e empresas do setor, números de junho mostram que a Copa do Mundo aprofundou ainda mais a queda no consumo de carros no Brasil. O mês passado fechou 17,3% abaixo dos emplacamentos de igual período de 2013. Em relação a maio, o recuo foi de 10,2%.

No total, 263,6 mil veículos - entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus - foram vendidos em junho, o que eleva para 7,6% a queda dos emplacamentos no primeiro semestre, acima dos 5,5% do acumulado até o mês de maio.

Nos seis primeiros meses, os brasileiros compraram 1,66 milhão de veículos. Desde 2010, quando 1,58 milhão de unidades tinham sido emplacadas em igual período, as montadoras não tinham um primeiro semestre tão ruim. A diferença negativa em relação aos volumes de 2013 já passa de 136 mil veículos, ou o equivalente a quase dez dias completos de venda.

O setor já vinha sentindo os efeitos do aumento de preços, dada a retirada de parte dos descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na virada do ano e a instalação obrigatória de novos dispositivos de segurança (airbag e freios ABS) em todos os automóveis, além da menor propensão ao gasto por um consumidor mais endividado e menos confiante. São fatores que, segundo as montadoras e as concessionárias, se somam à seletividade dos bancos na liberação de crédito.

Mas em junho o movimento nas concessionárias ficou ainda pior. Quatro jogos da seleção brasileira - três em dias úteis e um no último sábado, quando as lojas também costumam abrir as portas -, mais os feriados de Corpus Christi ou decretados por cidades que recebem partidas do Mundial levaram a um calendário comercial mais exíguo.

Só os emplacamentos de automóveis de passeio e utilitários leves, de 251 mil unidades em junho, caíram 17,2% ante o mesmo mês do ano passado e 9,8% em relação a maio. Analistas falavam em queda de 19% a 25% nos meses da Copa.


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Mas os volumes também caíram no mercado de veículos pesados, que vinha esboçando reação após a simplificação dos processos de financiamento a bens de capital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o grande motor das vendas de veículos comerciais. Em junho, os licenciamentos de caminhões mostraram baixa de 19,8% na comparação anual. Em relação a maio, o recuo nesse setor foi de 17,6%.

Hoje, a Fenabrave, entidade que abriga as concessionárias de veículos, divulga o balanço consolidado dos resultados do mês passado, incluindo a participação das marcas. Números preliminares mostram que a liderança continua com a Fiat no mercado de carros, com 20,4% do total, seguida por Volkswagen (18,2%), novamente à frente da General Motors, que teve 17,3% das vendas no período.

Na segunda-feira, a Anfavea, associação das montadoras, divulga seu balanço, que, além das vendas, inclui produção, exportação, estoques e o nível de emprego dos fabricantes de veículos. Apesar da confirmação do governo de que a nova rodada de aumento do IPI foi adiada para janeiro de 2015, a entidade deve revisar para baixo as projeções que apontam para crescimento de 1,4% da produção e de 1,1% das vendas em 2014.

No mês passado, a indústria automotiva manteve o ciclo de corte de produção. Parte das montadoras deu férias coletivas, enquanto outras concederam folga a operários nos dias em que a seleção brasileira entrou em campo, como fizeram Fiat, GM e Ford, além da Hyundai, em Piracicaba, e da Mercedes-Benz, no ABC paulista.

Os números da Anfavea mostram que as montadoras já tinham eliminado 4,7 mil vagas de trabalho nos cinco primeiros meses do ano. Já o Caged informa, em igual período, corte de mais de 9 mil postos no segmento de materiais de transporte, que inclui os fornecedores dos fabricantes de veículos.