O temor dos argentinos de que o governo adote novas medidas para restringir operações em dólar, combinado com a inação do banco central do país no mercado de câmbio nos últimos dias, provocou ontem (23) uma corrida contra o peso. O clima foi de pânico e fez a moeda argentina sofrer a maior queda em um único dia desde a crise de 2002.
A moeda americana fechou cotada, no câmbio oficial, a 7,75 pesos, alta de 10%, depois de chegar a ser negociada a 8,51. No mercado paralelo, o dólar fechou a 12,85 pesos. A forte desvalorização levou as autoridades a mudar de ideia. Antes do fechamento do mercado, o banco central fez intervenções para oferecer liquidez e, assim, diminuir as cotações. A estimativa é que tenha vendido US$ 120 milhões. O objetivo foi derrubar o dólar abaixo de 8,00 pesos.
Os argentinos estão preocupados com a redução das reservas cambiais, que nos últimos três anos encolheram 44%, para US$ 29,5 bilhões. Tem contribuído para o mau humor dos investidores o aumento da aversão ao risco nos mercados mundiais, provocado pelo início da normalização da política monetária americana, depois de seis anos de afrouxamento.
"As reservas [argentinas] estão se deteriorando rapidamente", disse Dave Lutx, estrategista da Stifel Nicolaus. Marc Chandler, analista da Brown Brothers Harriman, teme que os problemas da Argentina se espalhem para outros países em desenvolvimento. "Há um risco de contágio para nações vizinhas", alertou.
Ontem, depois de o HSBC informar que o índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor industrial da China caiu para 49,6 pontos na leitura preliminar de janeiro, indicando contração da atividade, investidores do mundo inteiro venderam ativos de países emergentes. No Brasil, o dólar subiu 1,31%, para R$ 2,40 - a maior cotação desde 22 de agosto do ano passado.