As perspectivas de crescimento da China este ano dependem do quanto o país poderá ganhar com as exportações e das consequências de tentar reformar a segunda maior economia do mundo.
A China é um dos motores mais potentes do crescimento mundial, mas esse motor já não funciona a todo vapor. Pequim informou, nesta segunda-feira (20), que seu PIB (Produto Interno Bruto) subiu 7,7% no ano passado, o mesmo crescimento de 2012. Economistas preveem um crescimento econômico entre 7% e 8% também para este ano.
Esses números estão bem abaixo do crescimento de dois dígitos obtidas pela China ao longo dos últimos 30 anos. O governo chinês está começando a enfrentar os custos da expansão rápida, incluindo poluição, desperdício de verbas, corrupção e a fragilidade financeira. Mas as reformas consistem de medidas que inibem o crescimento, como a contenção do crédito, o fechamento de fábricas em setores com excesso de capacidade e o saneamento das finanças dos governos provinciais e municipais.
"Os líderes chineses reconheceram que a China precisa mudar seu modelo de crescimento", disse Robert Zoellick, ex-presidente do Banco Mundial, que se reuniu ontem (20) em Pequim com autoridades do governo e empresários. Ele crê que o processo não será realizado de uma hora para a outra. "Teremos, ao estilo chinês, uma série de passos que, se bem-sucedidos, ganharão impulso", disse Zoellick, líder do conselho consultivo internacional do Goldman Sachs.
No quarto trimestre de 2013, a economia chinesa cresceu 7,7% em relação a um ano atrás, abaixo dos 7,8% do terceiro trimestre, segundo dados divulgados ontem (20) pela Agência Nacional de Estatísticas da China. A expansão no quarto trimestre se traduz em um crescimento anualizado de 7,4% ante o terceiro trimestre, forma com que a maioria das principais economias do mundo registra seu PIB. A China não divulga esse dado.
Vários economistas esperam que essa desaceleração continue no primeiro trimestre do ano, à medida que o investimento diminuir e a China procurar desinflar o que parece ser uma bolha imobiliária em suas maiores cidades.
Em março, espera-se que o país adote uma meta de crescimento para este ano (provavelmente 7,5%), o que poderia sinalizar como o governo pretende equilibrar o crescimento e as reformas.
Líderes chineses disseram que querem reformar a economia de modo a torná-la menos dependente dos investimentos pesados nos setores imobiliário, de infraestrutura, capital intensivo e de exportações. Eles esboçaram propostas para impulsionar o consumo doméstico, dando a camponeses mais direitos à terra e relaxando controles no setor financeiro para que mais empréstimos sejam direcionados a pequenas empresas.
Tem havido pouco movimento nessas frentes até agora. Em vez disso, as primeiras iniciativas dos líderes, incluindo a repressão à corrupção e a gastos ostensivos do governo, chegou a prejudicar o crescimento. As vendas no varejo avançaram 13,1% em 2013, uma queda frente aos 14,3% de 2012, e a alta mais modesta desde 2005.
Su Peng, um varejista de flores de Pequim, diz que sua empresa teve prejuízo em 2013 por causa de uma queda na vendas que, segundo ele, foi causada pelos esforços anticorrupção. "Não houve lucro no ano passado", diz. "Tentamos só manter o negócio funcionando."
Uma área promissora para a China este ano é o comércio internacional, que deve se beneficiar da melhora das economias dos Estados Unidos e da Europa. O Banco Mundial estima que o comércio global crescerá 4,6% em 2014, comparado com um crescimento de 3,1% em 2013. Outros analistas preveem um avanço ainda maior.
A China deve se tornar o país de maior volume de comércio do mundo, já que provavelmente ultrapassou os EUA no ano passado. As exportações chinesas subiram 7,9% no ano passado, em relação a 2012. Louis Kuijs, analista para a China do banco britânico Royal Bank of Scotland, prevê que as exportações do país aumentarão em pelo menos um ponto percentual.
Xiang Xiaoyun, diretor-presidente da empresa de calçados Kaicheng Shoes, da cidade de Wenzhou, no sudeste da China, diz que as exportações para os EUA começaram a crescer, mas está difícil gerar lucros. O aumento do custo da mão de obra e dos materiais e a valorização da moeda chinesa "são uma grande dor de cabeça", diz.
Outros fatores poderão limitar esse crescimento. No segundo semestre do ano passado, a China começou a reduzir o ritmo de novos empréstimos e a fechar siderúrgicas, como parte de uma iniciativa para diminuir a vulnerabilidade financeira do país.
Nos últimos cinco anos, o crescimento do crédito no país - parte do qual se destinou a financiar siderúrgicas e outras indústrias assoladas pelo excesso de capacidade - foi semelhante ao de bolhas passadas nos EUA, Europa, Coreia do Sul e Japão, que provocaram profundas recessões nesses países.
Poucos economistas no mercado preveem que a China entrará em crise este ano. Mas qualquer esforço do governo para desacelerar a expansão do crédito poderia prejudicar o crescimento no curto prazo. Os investimentos em ativos fixos, como prédios e equipamentos industriais, totalizaram 43,65 trilhões de yuans, ou mais de US$ 7 trilhões, no ano passado, um avanço de 19,6% ante 2012. O número é menor que o avanço de 20,7% de 2012, em relação a 2011, e menor que o de qualquer crescimento anual nos últimos dez anos, diz a Moody's Analytics.
Kuijs, do RBS, espera que o governo continue contendo o crédito, mas de uma forma mais moderada, devido ao receio de que uma mão muito pesada possa enfraquecer a economia.
No ano passado, foi o desempenho do setor imobiliário que surpreendeu. Os preços e as vendas de imóveis nas principais cidades chinesas saltaram depois que os compradores perceberam que o governo estava relaxando as restrições a propriedade. As vendas de imóveis residenciais e comerciais em 2013 totalizaram 8,14 trilhões de yuans (US$ 1,3 trilhão), 26% a mais que em 2012.
Mas poucos analistas acreditam que esse ritmo irá se manter. James Macdonald, chefe de pesquisa da Savills China, uma consultoria do setor sediada em Xangai, estima que os preços e as vendas de imóveis terão um crescimento "moderado este ano".