Como as telas coloridas e as modelos esbeltas que apresentam os mais variados produtos, os carros foram presença obrigatória nos estandes das empresas que participaram da feira de eletrônicos CES, em Las Vegas. Além de montadoras como Audi, BMW, GM, Kia, Mercedes-Benz e Ford, que tem ampliado sua presença na CES a cada ano, nomes tradicionais da tecnologia como Intel, Huawei, ZTE, Nvidia e Qualcomm também colocaram veículos em suas áreas de exposição.
Os fabricantes querem embutir tecnologia nos carros para inseri-los no mundo da "internet das coisas" - a tendência de conectar objetos entre si por meio da internet. Os novos recursos têm como objetivo deixar os veículos mais seguros, com a inclusão de sensores que ajudam a evitar batidas, mas também visam torná-los mais atraentes aos jovens, que têm deixado de comprar automóveis por não encontrar atrativos, sem contar as preocupações ambientais. As tecnologias apresentadas ainda não permitem que os carros voem, como na ficção científica, mas parecem saídas de um roteiro de cinema. Algumas delas serão incorporadas a modelos que chegam ao mercado ainda neste ano. Outras levarão mais tempo para ser lançadas comercialmente.
A BMW colocou à disposição dos visitantes 50 unidades do modelo i3, seu primeiro carro com motor totalmente elétrico, que será lançado em março nos Estados Unidos, com preços que variam entre US$ 40 mil e US$ 50 mil, considerados elevados para o mercado local. O i3 usa componentes e sistemas desenvolvidos pela fabricante de chips Intel para se conectar à internet e rodar aplicativos. O veículo também se comunica com o Gear, relógio inteligente da Samsung, para mandar ao motorista alertas sobre uma porta ou janela que ficaram abertas, por exemplo.
A Mercedes-Benz mostrou um sistema semelhante, que se integra a dispositivos como o Google Glass, os óculos inteligentes do Google que chegarão ao mercado no fim do ano. Outra novidade da fabricante é um sistema que aprende os hábitos do motorista e faz sugestões baseadas em seu comportamento. Se todo dia o motorista faz o mesmo trajeto no mesmo horário, o carro pode sugerir rotas automaticamente. Usando sensores instalados nos bancos, ele percebe se o motorista está acompanhado da esposa e sugere um local para jantar, por exemplo, caso no passado o casal já tenha feito isso em algum momento. A expectativa é que a tecnologia chegue aos carros em até dois anos.
A Toyota anunciou que vai lançar no ano que vem um carro com motor de célula combustível, que usa uma mistura de oxigênio com hidrogênio para produzir energia elétrica. A tecnologia vem sendo estudada há anos e é considerada mais limpa que outras alternativas, já que tem como subproduto água, em vez de fumaça.
A fabricante de chips Qualcomm fez sua estreia no mundo dos carros com o lançamento de processadores capazes de conectar os veículos às redes 4G, uma tecnologia que ainda não estava disponível no mercado. A fabricante também fez a apresentação oficial do carro que será usado na Fórmula E, o novo campeonato de automobilismo que usará exclusivamente carros elétricos. Serão 20 veículos disputando 10 corridas em cidades de todo o mundo. Promovido pela Federation Internationale de l'Automobile (FIA) - dona da Fórmula 1 - a Fórmula E começa em setembro e terá uma etapa no Brasil, em novembro.
O novo campeonato tem como garoto-propaganda o piloto brasileiro Lucas di Grassi. "O carro tem uma resposta muito rápida e uma aceleração semelhante à de um [veículo da] Fórmula 1, apesar de ter metade da potência. Isso vai exigir muita precisão e técnica dos pilotos", disse di Grassi ao Valor. O carro causou estranheza entre o público por não fazer o barulho ensurdecedor que se espera de um carro de corrida. O som, na verdade, está mais próximo ao zumbido de um carrinho de controle remoto. Para o espanhol Alejandro Agag, presidente da Fórmula E, isso vai mudar os hábitos dos amantes da velocidade. "Teremos muitos sons novos, como os dos pneus na pista. É uma revolução silenciosa para o esporte", disse.
Além de patrocinar a nova categoria, a Qualcomm vai equipar os carros de segurança com um sistema de abastecimento de energia elétrica sem fio. Basta o carro se aproximar de uma estação para começar a ser carregado. Segundo Paul Jacobs, presidente da Qualcomm, a expectativa é que a tecnologia de carregamento sem fio seja incorporada aos carros de corrida no ano que vem, com a inclusão de uma espécie de antena na lateral.
Apesar de não ter presença oficial na CES, o Google aproveitou a movimentação do evento para lançar a Open Automotive Alliance (OAA), uma associação que reúne montadoras como GM, Hyundai e Audi e a fabricante de chips Nvidia.
O objetivo da parceria é promover a inserção do sistema operacional Android, desenvolvido pelo Google, nos carros. O esforço se segue a uma iniciativa da Apple, anunciada em 2012, para colocar o sistema de assistente pessoal Siri em carros de diversas montadoras. A Microsoft também tem uma parceria de longa data com a Ford.
O repórter viajou a convite da Lenovo