Depois de queda de 0,6% no terceiro trimestre, a indústria brasileira começou o quarto trimestre em alta. A produção avançou 0,6% em outubro, frente a setembro, na terceira alta neste tipo de comparação, segundo os dados divulgados nesta quarta-feira (4) pelo IBGE. O resultado veio acima das previsões do mercado — os analistas estimavam queda ou, então, um alta de no máximo 0,5%. Os números do setor industrial confirmaram, assim, que a economia brasileira está crescendo mais neste fim de ano, após o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) ter sofrido uma retração de 0,5% no terceiro trimestre.
O aumento na produção de bens intermediários (insumos usados pela indústria) e de bens de capital (máquinas e equipamentos) ajudou a puxar a indústria em outubro, enquanto os bens duráveis, com destaque para veículos automotores, seguraram esse desempenho.
"Há claramente uma melhora da produção industrial nestes últimos três meses. Mesmo assim, o ganho de 1,3% (entre agosto e outubro) ainda é insuficiente para suplantar a perda de 2,3% registrada entre maio e julho", afirmou o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Luiz Macedo.
Na comparação com outubro de 2012, a produção da indústria avançou 0,9%, ritmo inferior à taxa de 1,8% registrada em setembro. Neste caso, o resultado teve influência do calendário: outubro de 2013 teve apenas um dia útil a mais que outubro de 2012, enquanto setembro de 2013 teve dois dias úteis a mais que setembro de 2012. O aumento da produção industrial acumulado no ano foi de 1,6%.
A boa notícia, diz Macedo, é o perfil mais disseminado do crescimento: 21 dos 27 ramos pesquisados tiveram aumento em outubro. Tal dispersão não era observada desde junho, quando 22 dos 27 segmentos registram alta.
"O dado da indústria traz algum alento. Os bens de capitais continuam subindo, o que é uma boa notícia. Mas também houve queda de duráveis, que reflete a indústria de veículos. E, pelo que sugerem os números divulgados pela Fe-nabrave (federação que présenta as concessionárias), novembro também não deve ser muito bom", diz a economista chefe da Rosenberg&Associados, Thaís Zara.
Ela espera alguma alta na produção em novembro e que o indicador encerre 2013 com avanço de 1,7%.
Professor de Economia do Ibmec-RJ e economista da Simplifie Pavarini, Alexandre Espírito Santo também vê melhora nos dados, mas alerta sobre os efeitos da alta de juros.
"Os números estão um pouco melhores, e a indústria está tendo uma recuperação. Esperamos um quarto trimestre melhor. Mas é preciso ter cautela, já que a indústria ainda é suscetível à taxa de juros", disse Espírito Santo.
Macedo, do IBGE, também cita o aumento da taxa básica de juros (Selic) como um dos fatores que ajuda a explicar o desempenho menos intenso da produção industrial, já que afeta principalmente os setores mais dependentes de crédito.
Entre as categorias de uso, o desempenho de bens de capital, com alta de 0,6%, e intermediários, com expansão de 0,3%, foram os que mais puxaram o crescimento de setembro a outubro.
"Juntas, essas atividades têm dois terços da indústria e são importantes nesta recuperação. O setor extrativo, caminhando para recuperação de petróleo e gás, é importante na recuperação de bens intermediários, assim como o refino de petróleo", disse Macedo, do IBGE.
Por outro lado, a produção de bens de consumo duráveis recuou 0,6% frente a setembro, influenciada principalmente pela queda de 3,1% da produção de veículos automotores, com peso de 10% da indústria geral. Para Macedo, o resultado pode refletir o esgotamento da política de redução do Imposto sobre Produtos Industrializado (IPI). Outro sinal é o volume de estoques no setor, que está acima padrão.
A queda na produção de veículos anulou parte da alta de 9,2% dos meses de agosto e setembro. A segunda maior influência no resultado negativo da indústria de outubro veio do setor de bebidas, com queda de 5,9%.
Na outra ponta, o setor de edição, impressão e reprodução de gravações, registrou a maior alta, de 13,1%, impulsionado pela produção de livros didáticos para o próximo ano letivo.
Na avaliação de Macedo, a alta da taxa básica de juros (Selic) é um dos fatores que ajuda a explicar o desempenho menos intenso da produção industrial, já que afeta principalmente os setores mais dependentes de crédito.
Lucianne Carneiro/ O Globo