A evolução da inovação no Brasil passa pelo processo de enfrentamento de fatores que são velhos conhecidos do País: aqueles que impedem a consolidação de sua competitividade. Esta é uma das visões compartilhadas pelos participantes do 1º Seminário Brasil-Alemanha de Inovação, promovido pela Câmara Brasil Alemanha, na terça-feira (12), em São Paulo.
Representantes de empresas de origem alemã e que atuam no Brasil sugeriram possíveis soluções ou caminhos para os diversos problemas enfrentados no País, elencando cada um sua prioridade a partir das experiências vivenciadas entre as duas culturasnos âmbitos corporativos.
Para o ex-presidente da Continental do Brasil, Maurício Muramoto, o primeiro incentivo à inovação no País deve primar pela aproximação da indústria com a universidade: “É necessária uma política de fomento que aproxime esses dois mundos, no Brasil ainda não temos uma consolidação, mas na Alemanha tem, mostrando que é possível evoluir a partir das bases”, exemplificou.
Segundo o presidente da T-Systems Brasil, Ideval Crespo Munhoz, uma política de inovação dentro de qualquer instituição deve conter estágios que precisam ser considerados antes de se adotar qualquer plano de ação: “Esse processo passa por uma análise profunda, em termos que precisam ser respondidos, por exemplo, sobre o grau de confiabilidade: ‘somos capazes de produzir produtos com qualidade?’Além disso, considerando a regulamentação vigente, fazer um mapeamento estratégico com base em perspectivas reais e quais os cenários que se esperampara o futuro. Isso vai gerar enormes desafios, mas podem gerar também novos modelos e oportunidades de negócios”.
“Acertar na burocracia seria um bom começo; a criação de uma política eficaz e constante para a educação e uma melhora fantástica na logística. Se conseguir resolver pelo menos essas duas últimas, daríamos um salto extraordinário na inovação”, defendeu o presidente da Triumpf Brasil, João Carlos Visetti.
Apesar de apontar os problemas e os possíveis passos para sair da mesmice, os executivos concordaram que o País tem potencial do ponto de vista mercadológico, principal motivo que atrai empresas estrangeiras para cá. O vice-presidente de Inovação da Mahle, Ricardo Abreu, em uma alusão sobre o que priorizaria no País, diz que o que falta no Brasil é apostar mais: “Se eu tivesse o poder, assinaria um decreto que diz: ‘acreditem mais nas suas iniciativas’. A engenharia brasileira tem potencial, as empresas têm knowhow, continuem a fazer o que fazem, apostem, isso é o começo para inovar ainda mais”, enalteceu.
O presidente da ZF para a América do Sul, Wilson Bricio, também defendeu a educação como prioridade: “Temos uma política na ZF que criou duas academias: uma de operações e outra de gestão. A primeira condiz na lapidação da qualificação básica que os profissionais têm quando ingressam na empresa. Eles têm a oportunidade de fazer cursos dentro e fora da companhia, incluindo intercâmbios entre grupos de Brasil e Alemanha. Neste sentido, já investimos pouco mais de € 3 milhões. No segundo caso, executivos fazem cursos e seminários entre si para reforçar o contato entre os líderes mais novos, com o objetivo de transmitir e discutir valores e estratégias”, contou.
Para o diretor de Design da Volkswagen, Luiz Alberto Veiga, que ajudou a conceber o VW Fox, a diferença de culturas entre Brasil e Alemanha pode criar um choque que, por ora, pode ser positivo: “É uma batalha, porque a Alemanha tem a fama de ser disciplinada e o Brasil, criativo. Dependendo do caso, essa disciplina tem que ser quebrada para se criar algo novo: foi o caso do Fox, que era um carro que não existia na lista de projetos da matriz e foi uma criação brasileira. A VW da Alemanha gostou da ideia e aprovou o carro: hoje ele roda em diversos países, inclusive na própria Alemanha. Ainda assim, a disciplina deve permanecer quando se trata de pesquisa, para que se possa evoluir na criação”, testemunhou.
Por Sueli Reis/ Automotive Business